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ANA

A primeira vez que a vi, foi no corredor do laboratório de informática. Lembro bem de estar caminhando com João, que insistia em qualquer coisa sobre como o desempenho do seu time estava afetando sua pontuação no cartola, ou alguma coisa assim. Não ligava a mínima pra futebol, e para mim, cartola era um cantor das antigas que minha avó adorava escutar, então fingi estar prestando atenção. Enquanto caminhava para minha próxima aula, ajeitei meu óculos que escorregava pelo nariz, e ela entrou em foco, e posso afirmar com toda certeza do mundo que naquele momento eu perdi o fôlego.

Era a primeira vez que eu a via na escola, provavelmente aluna nova entrando no meio do semestre, e com certeza a garota mais linda que eu já tinha visto em toda minha vida. Os cabelos pretos estavam presos em um coque alto, as laterais da cabeça e a nuca eram raspadas o que deixava seu pescoço a mostra, e aqueles fios pareciam reluzir. De longe conseguia ver sua pele branca, e os lábios bem cheios. Minhas mãos suaram quando involuntariamente imaginei meus dentes mordendo aquela boca. Só de pensar sinto um frio na barriga de novo. E quando os olhos dela encontraram os meus, meu corpo todo ficou arrepiado, e o mais incrível é que ela não os desviou.

- Ana, está me ouvindo? - João Cutucou meu ombro me fazendo lembrar de que ainda estava com ele. Relutante voltei minha atenção ao meu amigo.

- Você sabe que eu não entendo nada dessas coisas que me fala, certo? - Perguntei sentindo o olhar da garota queimando as minhas costas enquanto eu passava.

Depois dessa troca de olhares, eu ainda a encontrava o tempo todo, parecia que o destino estava exibindo a menina para mim, mas não tinha coragem o suficiente para falar com ela. Em todas as minhas fantasias, eu caminhava decidida em sua direção,  me apresentava, contava alguma piada para vê-la rir, e só então perguntava se ela gostaria de sair comigo. Obviamente minhas fantasias não acabavam com o convite para um encontro, infelizmente,ou felizmente, - jamais saberei qual dos dois, - meu cérebro sempre ia por caminhos muito mais sujos e depravados do que uma garota criada para ser certinha deveria sonhar.

Cresci em uma família bem tranquila, meus pais sempre me incentivaram a estudar e ter boas notas, nunca se importaram em conversar sobre sexualidade ou nada relacionado a isso comigo, então aprendi sozinha. Tive experiências boas e ruins, descobri ainda aos 13 anos que não era muito fã de beijar garotos, nem qualquer outra coisa que exigisse um contato a mais com eles, e desde então tenho ficado com meninas, e isso é uma das coisas que eu mais amo fazer.

Não sou do tipo que troca de namorada toda semana, mas sou aquela que dá trabalho para uma garota só. No momento estava focada em tirar boas notas e me preparar para os milhares de vestibulares que eu teria por esse ano, e não contava em me interessar por alguém, mas aquela menina me chamou atenção, meu corpo gritava por ela e nós não tínhamos trocado nenhuma palavra. Mas eu tenho esse maldito problema, que é a timidez. O medo de me aproximar, dar o primeiro passo. Admito que prefiro ser conquistada a ter de conquistar alguém, mas talvez dessa vez eu tenha de tomar as rédeas.

Foram dois dias insuportáveis de aula, e não porque as matérias eram difíceis ou os professores ruins, mas porque ela estava lá, na minha turma, parecendo linda. Alguma Coisa me dizia que por baixo daquele uniforme escolar o corpo dela era ainda mais atrativo. Minha mente Traiçoeira me levou a imaginar nós duas ali naquela sala, sozinhas, as minhas mãos correndo por baixo daquela blusa apertando suas costas, e minha boca distribuindo lambidas naquele pescoço longo enquanto ela controlava Meus movimentos com os dedos Entrelaçados em meu cabelo. Fui obrigada a cruzar as pernas a fim de controlar a excitação, e como se soubesse o que estava acontecendo, ela virou o rosto em minha direção. não consegui disfarçar e desviar o olhar. Meu rosto todo queimou envergonha quando ela piscou e sorriu para mim.

Passei o resto do dia sem saber o que sentir. Depois daquele gracejo na aula, ela passou a me encarar de volta, e seu olhar era muito intenso. Toda vez que eu flagrava seu olhar, a menina não fazia questão nenhuma de desviar. E todo mundo sabe que quando uma mulher encarava outra, ou ela quer sair no tapa, ou quer sair nos beijos, e eu não sabia qual era a dela. Como a grande mosca morta que sou, corei todas as vezes que sentia seu olhar sobre mim, eu via seu sorriso depois disso e queria me enfiar em um buraco, mas quando ela não estava olhando, era eu quem encarava. E meus pensamentos ficavam cada vez mais desprovidos de vergonha, afinal, na minha cabeça eu poderia ser quem eu quisesse.

- Sabe que encarar não vai fazer ela adivinhar seu interesse, não sabe? - João apareceu em minha frente obstruindo minha visão, a aula tinha acabado e eu estava enrolando para sair, pois  assim poderia admirá-la por mais alguns minutos. Meu rosto todo ardeu em vergonha.

- Não faço ideia do que você está falando. - Fiz a sonsa mesmo, que garoto mais inconveniente. Juntei meu material, já que estava sendo impedida de olhar mais um pouco para aquela deusa grega. Ignorei a revirada de olhos do meu amigo.

- Se quiser eu faço a ponte entre vocês.

- O quê? Não! - Quase gritei, e mais uma vez meu rosto todo queimou. Sorte que a sala estava quase vazia. - Não preciso que faça ponte nenhuma, João.

- É você quem sabe, - deu de ombros indiferente, - mas se demorar muito, a Renata vai passar na sua frente.

- Renata? - Só de ouvir o nome meu sangue ferveu, e dessa vez foi por um motivo totalmente diferente.

Renata era uma garota metida a popular, que adorava mostrar para todo mundo que era superior e essas coisas que ela tirou de algum filme americano ruim. O fato é que as outras pessoas realmente tratavam como se ela fosse algum tipo de Realeza, e considerando que estamos em uma escola de ensino médio onde a maioria dos alunos não tem mais que dois neurônios na cabeça, isso não surpreende em nada. Mas se Renata conseguir conquistar a minha garota, vou me sentir particularmente ofendida. Terminei de enfiar meus cadernos na mochila com mais energia do que era necessário, João tinha acabado de me dar um motivo para dor de cabeça. Saí da sala pisando duro com João em meu encalço. Minha cabeça com milhares de imagens de Renata aos beijos com a novata, e meu estômago revirava como se aquilo já estivesse acontecendo, meu humor despencou, e para piorar, a próxima aula era de física. Essa matéria era a treva e a professora uma enviada do sétimo inferno.

- Bom dia, senhoras e senhores. - A voz anasalada da professora me deixava com uma séria vontade de morrer. Os alunos mal se acomodaram em suas carteiras e ela já abria a boca. Observei quando a novata sentou na única bancada vazia, e quase tive um surto quando vi que a nojenta da Renata levantou de seu lugar, na primeira bancada, logo a frente da professora - que nada falou, - para se sentar ao lado da minha garota.

Eu sabia que era perigoso pensar nela como minha, mas não conseguia evitar. Meus olhos fuzilaram as costas daquele projeto mal feito de Regina George. Ouvi João rindo ao meu lado e quis enfiar a mão na cara dele, que tipo de amigo ele era afinal de contas? A professora continuou falando durante a aula e tudo o que eu consegui fazer foi prestar atenção em como Renata estava cheia de dedos para cima da novata. Toda cheia de risos e olhares. Várias vezes a garota me olhou como quem pedia socorro, ou pelo menos era isso que eu queria acreditar, porque no geral, ela não tinha aquela cara neutra.

- Vamos então a divisão dos trios. - Os resmungos dos meus colegas de sala me despertaram para o que a professora tinha dito. Trios? - Não se incomodem em escolher seus parceiros, pois quem vai fazê-lo sou eu. - Mais resmungos, aquela professora era assim, e ai de quem contrariasse sua diabólica vontade..

Por um momento me deixei prestar atenção a separação dos grupos, meus dedos cruzados para que eu não caísse com algum dos palermas folgados. Odiava ter de fazer esses trabalhos sozinha, e ser obrigada a colocar o nome de outras pessoas, aquela vaca não aceitaria se não houvesse a participação de todos. O que eu não esperava era fazer parte do trio com a folgada master, mais conhecida como Renata. Torci para que a terceira pessoa fosse no mínimo esforçada, ou eu teria de fazer o trabalho por três, e quando o nome da novata foi chamado, Renata bateu palminhas com uma bela idiota que era, e eu corri meus olhos diretamente para os dela, e para minha surpresa ela sorria para mim.



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