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KARA

Ana ficou em casa até pouco antes das 22 horas. Passamos o tempo entre conversas gostosas e um sexo melhor ainda. Aquela garota tinha um fogo que era quase impossível de apagar, e eu adorei tentar fazê-lo. Antes que ela fosse embora, minha mãe chegou de seu plantão e fez o que pôde para nos constranger. Mamãe sempre foi muito tranquila quanto a minha sexualidade, costumava dizer que desde quando comecei a frequentar a pré-escola, ao invés de declarar meus amores infantis por garotos, eu sempre fazia por garotas, então ela já sabia desde sempre e Admito que não ter que passar por todo um processo de sair do armário, - já que de acordo com ela eu nunca estive nele, - era ótimo. Mas para compensar o fato de ser uma ótima mãe nesse quesito, ela sempre tentava fazer os comentários mas inconvenientes quando eu trazia alguma garota para casa. E não se enganem, era tudo de propósito. Naquele dia Ana foi embora prometendo nunca mais voltar por vergonha dela.

Mas voltou. Durante semanas nosso envolvimento foi evoluindo, e por mais que tivéssemos começado pela melhor parte, isso não atrapalhou o interesse de nos conhecermos melhor, muito pelo contrário, o fato de termos tanta química no sexo serviu de incentivo, um ótimo incentivo. E descobrir coisas sobre Ana era a cada dia mais gostoso. Ela era muito mais do que um rostinho bonito, e uma deusa na cama. Ana era sem exagero nenhum, a melhor aluna do nosso ano, dedicada, e motivada. Falava mais três línguas além do português, tinha feito um ano de intercâmbio na Alemanha, e me confessou que preferiu repetir um ano na escola quando voltou,  o que fazia ela ser um ano mais velha que eu.

Não Demoramos mais do que um mês para oficializar namoro, mas achava que seria eu a fazer o pedido, e fui Surpreendida quando ela me chamou para sair, me tratou feito uma princesinha, me deu bombons e um buquê de Margaridas, - minhas flores preferidas, - e fez o pedido. Foi um gesto tão lindo, que mesmo eu gostando de fingir ser durona, fiquei toda chorosa. Ana estava claramente nervosa, mas depois do meu sim, descontou toda a atenção me fazendo gozar horrores no banco de trás do carro de seu irmão. Posso dizer sem medo de errar que aquela foi a melhor noite da minha vida.

Porém as dificuldades começaram logo. Seus pais, que sempre se absteram de conversar com Ana sobre qualquer coisa relacionada a relacionamentos ou sexualidade, surtaram quando ela contou que estava namorando comigo. O primeiro discurso foi aquele velho conhecido, "não te criamos para isso", para depois partir em para o: "é só uma fase", e por fim: "essa garota está te levando para o mau caminho, ou você acaba com essa história, ou nós cortaremos você de nossas vidas". E eu nunca tive tanto medo.

Me sentia egoísta por ter medo de que ela escolhesse os pais a ficar comigo. Que tipo de monstro eu era, que preferia ter minha namorada infeliz ao meu lado, ao invés de se reconciliar com seus pais. Minha mãe foi crucial para mim nesse momento. Ela me ajudou a discernir o certo a se fazer, me deu forças para que eu pudesse dar forças a Ana. E por sua vez, seu irmão foi o porto seguro que ela precisava. Ele a acolheu, pois ela não quis ficar em minha casa, incentivou-a a continuar focada nos vestibulares que estavam por vir, e disse que eu seria sempre bem-vinda. Confesso que fiquei comovida com seu carinho por nós.

Foram semanas difíceis, mas Ana não desistiu do nosso namoro, alegando que  ceder não seria somente me deixar de lado, mas seria esquecer quem ela era. Nunca admirei tanto uma pessoa. Era visível que ela ainda sofria a falta dos Pais, mas ela fez das palavras de seu irmão uma lei, e se dedicou tanto a seus estudos que surpreendendo um total de 0 pessoas, foi aceita em três faculdades federais do nosso Estado, uma no Rio e outra em Minas. Sua felicidade foi tanta que chegou a chorar, e eu estava explodindo de orgulho.

Eu também fui agraciada por passar na mesma Federal que ela, não tão bem posicionada, mas entrei de qualquer forma. E o que resolvemos fazer? exatamente. morar juntas. Que tipo de sapatões seríamos se não tomássemos essa decisão? O que não estávamos esperando, era aqui minha mãe e seu irmão se unisse para nos dar um apartamento. Claro que estava ciente de sempre ter sido privilegiada, e ela também era, mas minha mãe sempre me incentivou e ensinou que eu deveria lutar para conseguir minhas coisas, logo nós duas já estávamos loucas atrás de emprego para conseguir alugar um lugar, e esse presente veio e foi muito bem aceito.

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