Robby ouviu o som do bipe que indicava o trancamento da porta e seu cérebro ainda estava levemente travado. Olhou em volta e notou que, além da porta que levava ao banheiro, havia apenas uma cama no local e uma estrutura metálica embutida na parede que parecia servir como mesa e banco, onde provavelmente comeria. A cama era uma estrutura parecida, mas coberta por uma camada de algo macio que devia ser espuma ou material similar. Robby notou com um aperto no peito que a cama era de casal, o que certamente queria dizer que não estava livre de Silver, por mais que o homem o odiasse.
Robby se deitou na cama e finalmente se entregou a suas emoções, chorando desconsoladamente pela perda que o devastou desde que recebera a notícia. Todos os momentos bons, ruins, mal entendidos, desculpas se misturavam em sua mente e ele se afogava nesse rio de lembranças, sofrendo por tudo que haviam passado até chegarem onde estavam e de como o futuro parecia promissor quando finalmente foram honestos um com o outro, apenas para ser arrancado deles por Silver. Robby havia realmente acreditado, por um breve momento, que poderia ser feliz, que merecia mais e que teria alguém a seu lado disposto a cuidar dele e se permitir ser cuidado também, alguém que o faria se sentir vivo e completo. Ele não entendia exatamente o que era o que sentia quando estava com Miguel, mas saber que não o veria mais, nem tocaria seu rosto, não o abraçaria novamente, tudo isso lhe dava a certeza de que essa dor enlouquecedora era fruto do amor que foi roubado tão cruelmente. E nem teria a oportunidade de dizer a ele que o amava. Nunca havia amado ninguém dessa forma e nem recebido isso, e quando finalmente conheceu esse sentimento, não pôde declará-lo.
E para piorar, ainda havia Pietro. Mais um ser inocente morto de forma horrenda só para atingi-lo. Sabia que não era realmente culpado, mas não podia evitar pensar que se não fosse por ele, isso não teria acontecido. Começou a imaginar como teriam sido os últimos momentos dos dois e como quem quer que tivesse dado cabo do incêndio havia deliberadamente esperado que Robby saísse para não arruinar o brinquedinho de seu patrão. Era provável que depois tivessem trancado por fora a porta do apartamento e ateado o fogo que acabaria de vez com seus sonhos e sua esperança de felicidade. E quase podia ouvir os latidos e ganidos assustados do filhotinho enquanto Miguel gritava por socorro antes de sufocar com a fumaça e ter seu corpo envolvido fatalmente pelas labaredas. Talvez tivessem passado seus últimos momentos abraçados, como era normal em momentos de pânico como esse, tentando obter algum consolo em meio ao desespero.
Robby sentia fisicamente os efeitos da tristeza, seu coração estava apertado, sua cabeça estava zonza, não conseguia parar de chorar e murmurar repetidamente o nome de Miguel, como se pudesse fazê-lo voltar se pedisse o suficiente. Silver assistia a essa cena pelas câmeras, imensamente satisfeito. Ia fazer o marido pagar por cada segundo que passou sendo enganado, por cada cochicho que devia estar acontecendo sobre o assunto, por cada manchinha em sua honra. Ainda não havia recebido confirmação de que o corpo fora encontrado, mas isso era o de menos. Podia esperar. Se veria livre daquele maldito imigrante de qualquer forma, de uma vez por todas. O mais importante agora era ter certeza que Robert seria apenas e completamente seu.
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Miguel havia se negado a ir para a casa de Daniel ou da mãe, não queria arriscar nenhum deles. Usou uma parte do dinheiro que havia recebido para alugar um muquifo de um cômodo e banheiro por uma semana enquanto resolvia a situação. Num lugar inconspícuo que não chamaria atenção de ninguém. Estava há horas esperando pelo retorno de Daniel e do detetive sobre Shannon, por mais que soubesse que a ligação provavelmente só viria no dia seguinte. Sua mente ia o tempo todo a lugares tenebrosos, imaginando todas as torturas a que Silver podia submeter Robby no tempo que levassem para chegar até ele.
Nem sabia ainda como fariam isso, obviamente não podia simplesmente ir até a mansão e pular o muro, levaria um tiro na hora. Também não podia fingir que queria conversar, Silver havia tentado matá-lo, o que provava que qualquer diálogo civilizado estava fora de cogitação. Precisava botar a cabeça no lugar e planejar uma forma de tirar Robby daquele inferno sem arriscar suas vidas ainda mais. Não conseguia pensar no quanto ele já havia sofrido e não queria que ele continuasse assim, só queria protegê-lo e ser feliz junto com ele. Sempre foi muito inteligente, mas um pouco lerdo para certas coisas. E dessa vez, não foi diferente. Quando percebeu que o que estava sentindo era amor, já era tarde para dizer isso ao outro antes das coisas irem pelos ares. Só esperava ainda ter a chance de fazer isso.
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Segredos Perigosos (kiaz/Robbyguel)
Fiksi PenggemarMiguel é contratado como motorista particular de um excêntrico milionário chamado Terry Silver. Tudo começa a tomar rumos inesperados quando ele começa a conviver mais com o marido de Terry, Robby.