Capítulo 7

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Thomas.

Seis anos atrás...

Eu não conseguia parar de pensar.
Minha mente não parava de girar.

A cada segundo.
A cada fodido segundo.
Porra!

Olhei para as minhas mãos sobre o volante, meus dedos apertando o material com força o suficiente para senti-los doloridos e dormentes, enquanto eu me forçava a não sentir nada.

1...2..3...4...5...6...7...8...9...10...11...12...13...14...15...16...17...18...19...20...21...22...23...24...25...26...27...28...29...30...31...32...33...34...35...36...37...38...39...40...41..42...43...44...

Contava cada batimento cardíaco que ecoava por meus ouvidos. Cada um deles. Eu não lembro quando comecei a fazer isso, talvez tenha sido aos 10 anos, quando o único cobertor que passei a ter para espantar o frio do inverno, se tornou o peito suado do meu pai ou o meu próprio vômito. Eu não me lembrava, e duvidava que isso importasse agora.
Mas a constatação de ineficácia, nunca fez o ser humano deixar de pensar e repensar...repetidas vezes...incessantemente.
Era desgastante.
Era loucura.

Ou talvez tudo isso tenha começado no dia que meu pai arrastou Emily, a minha Emily, para aquela cabana. Ou quando ela se deitou em cima do meu peito sujo de esperma para me aquecer, deslizando suas mãos pequenas por minha pele grudenta e imunda.

"Estou sujo, Emily." -- Eu grunhi, e mesmo com a dor que me rasgava, tentei tirar a garota de 9 anos de cima de mim. Ela não podia ficar suja também.

Emily apenas soluçou, suas lágrimas grossas e quentes se misturando com a profanação que agora corrompia nossos corpos. Seus braços circularam o meu pescoço e eu me agarrei ao seu corpo pequeno, desejando que ela chegasse o mais perto possível de mim. Desejando que eu pudesse me levantar e defendê-la se ele ousasse tocar nela.
Eu inspirei fundo, o cheiro de baunilha que exalava de seus cabelos negros, aos poucos adentrava por minha corrente sanguínea e fazia com que meus olhos ardessem e um bolo se alojasse na minha garganta. Eu só queria brincar com ela. Era tudo o que eu queria.
Meus músculos doeram ainda mais quando, enfim, parei de tremer de frio. Eu pouco me importei, apenas apertei Emily ainda mais contra mim, desejando que ela aquecesse o meu coração dessa vez.

Então, estando tão perto daquela garota, eu pude sentir as batidas do seu coração retumbando contra o meu peito.

Disso eu me lembrava.
Me lembrava de ter fechado os olhos e começado a contar a número das batidas aceleradas que significavam o mundo para mim.
Significavam que ele não tinha tocado nela.

1...2...3...4...5...6...7...8...9...10...11...12...13...14...15...16...17...18...19...20...21...22...23...24...25...26...27...28...29...30...31...32...33...34...35...36...37...38...39...40...41..42...43...44...

Eu parei.

Contei apenas 44 batidas, antes que Emily fosse arrancada dos meus braços e eu voltasse a sentir frio novamente.

Abri meus olhos, quando ouvi a buzina do carro que estava atrás de mim. Virei um pouco o meu rosto, apenas para ver através do retrovisor o homem careca no sedan prata, parecendo irritado pela minha demora. Fechei meus olhos novamente, e apoiei minha cabeça no encosto, tentando respirar e ignorar a corda que parecia começar a envolver minha garganta.

Tentação ProfanaOnde histórias criam vida. Descubra agora