Capítulo 7

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No Audi Q8 seguíamos os três para o prédio daquele mesmo bairro, todos em silêncio. Os dois nos bancos da frente, eu rígida no de trás.

Vez ou outra, no retrovisor eu flagrava o olhar dardejante do motorista em mim e desviava meus olhos no mesmo segundo. Nervosa, torcia a alça da minha bolsinha em meu colo, olhava pela janela sem nada ver e, quando juntava coragem, escrutinava a lateral dos rostos dos irmãos.

Nada dissemos quando saltamos do carro, nem no elevador, muito menos quando entramos no apartamento de Castor.

Todo som ouvido foi o das chaves sendo deixadas no potinho que havia sobre um aparador à bonita porta de madeira e o que vinha dos meus saltos no piso. Se pudesse os tiraria só para não atrair mais a atenção deles, que se dirigiam para a ampla sala olhando para mim vez ou outra.

Começava a pensar que seria somente isso mesmo, os três juntos sem nada fazer ou dizer ― comigo morrendo lentamente de ansiedade e embaraço ―, quando Castor caiu sentado no sofá e indicou o espaço ao seu lado.

― Senta!

― Por enquanto prefiro ficar de pé ― falei, empertigada nos saltos, segurando minha bolsa diante de meu corpo com as duas mãos.

Polux se colocou atrás do sofá com as mãos nos bolsos da calça jeans, também de pé. Aliás, Castor usava jeans um pouco mais claros e ambos vestiam camisetas lisas, pretas. Caso tivesse sido ele a me abordar com uma expressão mais suave, eu não saberia quem tinha enxotado o charmosinho.

Quando estava quase tendo um treco, indaguei:

― O que estamos fazendo aqui?

― O que eu falei ― Polux respondeu, escrutinando meu rosto. ― Temos de conversar.

― Jeito estranho esse ― eu comentei rindo brevemente ―, sem palavras.

― Lux me contou o que aconteceu entre vocês ― Castor revelou depois de cruzar as pernas e apoiar um braço no encosto do sofá, como quem dizia que amanhã fosse chover.

Minha cara caiu, mas me mantive firme e assenti. Depois chispei meus olhos para Polux e ele somente ergueu os ombros como quem se exime de culpa, nada arrependido de nos delatar.

― O que espera? ― perguntei a Castor, encarando-o bravamente. ― Que eu peça desculpa?

― Teria sido bom que tivesse pedido em vez de terminar comigo. Evitaria tanto drama.

― Só pedi um tempo, quem terminou foi você.

― Estamos bem grandinhos para esse papo Friends. "Estávamos dando um tempo, Rachel. Não, Ross, nós não estávamos". Sinceramente, preferia que tivesse sido honesta. Brigaríamos, mas eu entenderia seu lado. Conheço todos os truques do meu irmão e sei que teria de ser uma pedra de gelo pra não cair na lábia dele.

― Diz isso porque você é igual ― elucidei.

― Sim ― confirmou sem pestanejar ―, não tenho por que omitir uma coisa que você já sabe. Lux também me disse que contou sobre meu envolvimento com Elaine.

― Que você se intrometeu no namoro deles? Sim, eu fiquei sabendo.

― Sim, ficou sabendo um pouco antes de gozar na boca do impostor fofoqueiro ― Castor rebateu.

Imediatamente encarei Polux, impressionada.

― Precisava mesmo contar tudo?! Qual é o seu problema?

― Você.

― Pois é, Tatiana Serrado! ― Castor desviou minha atenção do intenso olhar que Polux me lançava. ― Você tem sido nosso maior problema nas últimas semanas, então decidimos resolver isso do nosso jeito. Se você concordar conosco, claro!

CATILUX - CHAMAS AO VENTO [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora