Capítulo 8

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E, não, eu não os conhecia de fato. Apenas tinha essa ilusão por ter respirado e vivido de Castor e Polux desde que meus olhos recaíram sobre eles. E eu deveria ter notado logo de cara que havia algo estranho naquela boa vontade dos dois me namorarem, quando Polux alcançou seus sapatos e os calçou anunciando:

― Já está na minha hora.

― O quê? ― Não entendi nada. ― Aonde você vai?

― Para meu apartamento ― ele respondeu, colocando-se de pé.

― Como assim? ― Levantei, vendo-o pegar sua camiseta no chão e rapidamente vesti-la eu apontei para o corredor. ― Acabou de nos chamar para dormir.

― Devo ter me expressado mal, amor ― falou com afeto, ajeitando uma mecha do meu cabelo. ― Hoje você dorme aqui com Cas, outro dia dorme comigo. No meu apartamento ou na sua casa.

Como se não visse meu espanto, deu-me um demorado selinho e seguiu para a saída sem nem olhar para o irmão.

― Tchau! Eu me encontro com vocês amanhã, em Venda Nova.

Fiquei quicando no lugar com Castor impassível ao meu lado, vendo Polux partir, perdida, até que ele segurasse a maçaneta. Corri e o abracei.

― Por que não pode ficar?

― Lux, fique ― disse Castor, mas não havia empenho.

Polux encarou o irmão, então desceu seus olhos castanho-claros para mim e sorriu.

― Você só tem dois braços, amor, um de nós sobraria na cama e não quero que seja eu nem o engomadinho ali. ― Apontou para o irmão com a cabeça e voltou a sorrir. ― Com o tempo vai saber o que funciona ou não num namoro a três.

Depois de olhar mais uma vez para o irmão, Polux me prendeu pela cintura e me beijou com gosto, como em uma despedida de verdade. Nada de um selinho mixuruca.

Foi bom, mas ainda não tinha me convencido nem depois que saiu e fechou a porta.

― Vocês estão mesmo em concordância com isso que fizemos? ― Inquiridora, voltei para junto de Castor. ― Pensei que estivessem acostumados, depois de Elaine e todas as outras.

― Dessa vez tem um detalhe que nos outros não tinha.

Enfim ele se levantou para pegar a tábua com o que restou dos frios e a garrafa de vinho.

Fiquei parada um instante, vendo-o seguir para a cozinha sem dizer mais nada. Tratei de pegar as taças vazias e corri para alcançá-lo.

― Ei! Começou, agora termina ― pedi quando coloquei as taças na pia, vendo-o descartar no lixo o que não comemos. ― Que detalhe? Fala.

― Esquece o que eu falei ― apresentou um "contra pedido"; caso isso existisse.

― Cas... ― choraminguei quando ele se prostrou na minha frente e segurou meu rosto.

― Pensei que nunca mais fosse ver você aqui.

― Pensei que nunca mais fosse ver você na minha vida ― devolvi, molinha pelo carinho em seu tom, era algo novo. ― Esse tempo longe foi horrível.

― Sendo assim... ― Castor engoliu em seco, escrutinando meus olhos. ― Não devo entrar nesse assunto, mas preciso mesmo saber. Por que ficou com ele? O que eu deixei faltar? Onde eu errei?

Não queria, mas com seu corpo tão perto, com aquelas mãos macias e mornas nas minhas bochechas, eu me comovi.

― Você não errou. Nem faltava nada. Foi coisa de pele... Como aconteceu com você. ― Lágrimas brotaram e caíram alcançando as mãos dele. ― Eu que não soube resistir. Perdão!

CATILUX - CHAMAS AO VENTO [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora