Capítulo 23

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O estádio estava lotado. Sara mal conseguia locomover-se em direção à sua cadeira; Herus e Yunet, embalados pela torcida, já entravam no clima de festa.

Não foi sem alívio que Sara sentou-se. O barulho ensurdecedor a divertia de certa forma. Acostumada ao silêncio e à solidão, parecia mover-se em uma outra realidade.

Há aproximadamente um ano, ela e Faris enterraram novamente a entrada do túmulo do sapientíssimo Imhotep, alegando a todos que não era aquele o local.

Olhando para os rostos alegres dos torcedores, não podia deixar de questionar se agira corretamente ou não; mas, com certeza, ouvira somente a voz de seu coração.

Tantos tesouros e conhecimentos novamente enterrados... Quantos cientistas não teriam a oportunidade de descobrir verdades há tanto perseguidas pela humanidade! Que segredos médicos não estariam novamente soterrados na antiga Gebelein!

Seu nome não entraria para os livros de História. Continuaria a ser uma pessoa desconhecida e, com certeza, não circularia altivamente pelos meios acadêmicos tendo seu nome relacionado para sempre ao de Imhotep...

Apenas Faris sabia. Ao retornarem da visita ao local naquela noite, disseram a Herus e Yunet que, infelizmente, haviam se enganado e o local era muito inseguro.

Sara auxiliou a torcida a desenrolar e agitar uma gigantesca bandeira tricolor. Sentiu o pingente que trazia há um ano sempre consigo, roçar-lhe a pele.

A vila não era mais o mesmo lugar que conhecera há quatro anos. Os moradores haviam transformado suas próprias vidas, tomando as rédeas de seus próprios destinos, percebendo que somente nós mesmos podemos defender aquilo que amamos. Não haveria descoberta arqueológica mais importante do que aquela transformação na vida da população egípcia!

O apito do juiz a trouxe de volta à realidade. Estava com as mãos frias e suadas. Observava a movimentação dos atletas, pensando em um homem de baixa estatura que nascera para servir.

A torcida vibrou.

Imhotep escolhera como local de sua "Morada da Eternidade" sua aldeia natal na antiga Gebelein. Com mais de 70 anos, retornara para lá, deixando a capital Mênfis e a necrópole de Sacara, onde em sua juventude construíra em pedra a primeira pirâmide. Não teria, antes de partir para a capital, escolhido aquela região mágica ao sul para abrigar seus restos mortais?

Um simples oleiro. Ainda na terceira dinastia do Antigo Império, época em que ele vivera, apenas para a elite, ou mesmo limitado à família real, eram construídos monumentos sepulcrais; garantida a imortalidade de faraó, através da aplicação em vida e no seu reino das leis de Maat – regra da justiça e verdade, toda a população no Além, em Amentet, também reviveria.

Mas, ele quisera fazer parte, em vida, do reduto social que detinha o conhecimento e, consequentemente, o poder. Com perseverança e fé e, claro, por obra do destino, desenvolvera seus talentos a tal ponto que chamou a atenção do senhor das Duas Terras.

- Nós perdemos o primeiro set – desabafou uma inconsolável torcedora.

Sara viu o rosto preocupado de Valério. Estava ainda mais bonito. Os jogadores concentravam-se nas instruções que lhes eram transmitidas, reunidos em torno do técnico. Valério gesticulava, como tentando demonstrar aos companheiros a velocidade que pretendia aplicar ao time.

- Vão perder o ouro, novamente! – anunciou em chinês Herus.

Para sorte do rapaz, somente Sara compreendeu o dialeto mandarim.

O segundo set foi ganho com facilidade pela seleção italiana; Valério sorria, todo entregue, satisfeito com o próprio desempenho.

- Vou comprar um biscoito da sorte – anunciou Herus, desta vez em italiano.

- Este menino é um exibido! – Yunet não se conformava com a pretensão do irmão.

Sara limitou-se a sorrir.

O terceiro set foi nervoso. Valério reclamou, irritou-se e irritou.

- Eu estou dizendo... – Herus olhou de soslaio para Yunet. Dissera a frase em árabe.

O quarto set foi uma bela exibição italiana. Todo o estádio vibrava com a garra da equipe Azzurra que levaria para o "tie-break" a decisão.

AMORE IN VERMIGLIOOnde histórias criam vida. Descubra agora