Capítulo 5 - Missing

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Acordei letárgica, com doleres por todo o corpo e com a mente confusa, de certa forma, esperava acordar na minha cama, com a minha vida antes do acidente. A frustração é uma sombra que se projeta nas paredes e cantos atrás da esperança racional que minha mente força de forma intrínseca. Como um reflexo sutil de meia luz decorrente de um lustre acima da um mesa espelhada. Algo que tenho consciência de sua existência, posso vê-lo com minha visão periférica, mas faço a escolha de não ver a olho nu, como se empurrasse a sujeira para baixo do tapete para então me convencer que o ambiente está limpo. Alguns dizem se tratar de um momento de negação, olhar para a realidade e encontrar explicações, que não são exatamente plausíveis, mas que empurram o desespero para uma camada mais profunda da consciência a fim de retardar, ou até evitar uma explosão histérica que certamente não trará uma resolução imediata para a complexidade do contexto. Afinal, minha vida não era tão interessante a ponto de eu querer retornar com urgência. Quem além dos livros está a me esperar? Um apartamento ao léu, um emprego monótono que me faz questionar minha sanidade mental,  a audiência de contato interpessoal? O ponto alto dos meus dias certamente, era quando os fones de ouvido me moviam para melodias densas de violinos e guitarraas, e vozes líricas de bandas góticas, o único sentimento nostálgico que me tocou. 

Saltei da cama, joguei água fria no rosto e me preparei para atravessar a camada densa da realidade. Caminhei pelo longo corredor até a sala onde algumas pessoas estavam sentadas a mesa tomando café da manhã. 

-Bom dia - disse Paulo. 

-Bom dia - respondi. 

-Sirva-se - disse ele apontando para uma variedade de pratos com alimentos sobre a mesa. 

-Doumiu bem querida? - Laura Perguntou. 

-Sim - respondi. 

Apanhei um prato raso, lancei duas fatias de pão, ovo mexido e queijo. Laura apoiou uma caneca de porcelana diante de mim e entornou uma leiteira. 

-Café ou chocolate? - Laura Perguntou. 

-Café - respondi. 

Pedro sentou-se diante de mim com uma feição curiosa. 

-Eu e minha esposa te agradecemos por ter salvo a vida de nosso filho. 

-De nada - respondi. 

-Nos conte mais sobre você - disse ele - como chegou aqui? 

-Não sei como te explicar. 

-Tenta - disse Laura. 

-Eu tinha uma vida relativamente boa, com um bom apartamento e um bom emprego. Porém, fui eletrocutada em um acidente doméstico e acordei nesse mundo. 

-Certamente o choque elétrico causou um curto circuito no seu chip - disse Paulo. 

-Como assim? - perguntei confusa. 

-Temos muito o que te contar, mas vai ser difícil de acreditar, lembre-se que salvou nosso filho e não temos motivos para mentir para você - disse Laura com uma voz doce e gentil. 

-Tudo bem - concordei. 

-Para te explicar sobre o chip temos que voltar no tempo cento e cinquenta anos, quando o mundo atravessava uma pandemia - disse Laura - doenças novas surgiram, muitas pessoas morreram e a economia do mundo entrou em colapso. 

-Existia uma teoria da conspiração conhecida como "Nova Ordem Mundial", em que as pessoas acreditavam que certas elites políticas e governamentais planejavam a implantação de um governo mundial totalitário - disse Paulo - também acreditavam que essas doenças e mortes seriam criadas por essa organização secreta, que estaria reduzindo a população mundial para a quantidade em que o planeta Terra teoricamente aguentaria. 

Flores Que Nascem Do Lodo 🔞 (terror / Mistério /Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora