O Clube dos Corações Partidos

III

Assim que Marinette se juntou ao seu grupinho, cada uma de suas amigas começou a falar. Aparentemente, cada uma delas pareciam tê-la visto sair do mesmo carro que Adrien e agora não paravam de fazer perguntas sobre como isso havia acontecido.

— Eu já falei. Eu estava atrasada e ele acabou me vendo e quis oferecer uma carona. Foi só isso. — afirma novamente, causando um gemido entre o grupo de garotas que esperava que Marinette houvesse finalmente se confessado para Adrien, seu primeiro amor.

— Mas e o que você disse? E o que ele disse? — Rose insiste, convicta.

— Não foi nada demais, nós apenas conversamos sobre a lição de casa que a professora de química passou. Além disso, ele tem namorada. Eu não faria isso com a Kagami e vocês sabem disso. — e foi assim que esse assunto morreu.

Apesar de todas saberem que Marinette claramente ainda sentia algo por Adrien, nenhuma delas poderiam se opor a amiga por estar tentando superá-lo. Afinal, Kagami era amiga de Marinette, e Marinette era, acima de tudo, fiel aos seus amigos.

Dessa forma, todas começaram a falar sobre outros tópicos até que o sinal da escola bateu e elas se dirigiram até a sala para mais um dia de aula.

[...]

Estava sendo uma semana particularmente agitada para a dupla de heróis, o que frustrava os vários encontros de Adrien com Kagami.

— Beleza pessoal, vocês foram ótimos. Eu gravei tudinho! — Nino diz, mostrando o vídeo em seu celular.

— Eu não fui não. Eu perdi o ritmo no começo. — Adrien diz enquanto assiste a sua parte.

— Se você quiser nós podemos repetir. — os outros membros concordam.

— Mais 5 minutinhos, o que acha? — ele diz olhando especificamente para Kagami, a qual nega com a cabeça. — Ah, certo, então fica para a próxima, pessoal! — se despede, saindo de mãos dadas com sua namorada.

Adrien e Kagami se distanciam dos seus amigos. A asiática dá um sorriso para o loiro, o que o deixa desnorteado ao ponto de deixar sua mochila cair. Ele recolhe tudo o que caiu com a ajuda dela, já do lado da rodovia, Adrien olha para os lados avidamente.

— Nossos carros ainda nem chegaram, ainda dava para tocar mais uma vez com o pessoal. — fala para Kagami.

— É, mas assim temos um tempinho juntos.

— Vamos ter bastante tempo juntos mais tarde na festa de aniversário do príncipe Ali. — ele diz, ainda procurando pelos carros quando sente Kagami segurar a sua mão, fazendo-o virar em sua direção.

— É, mas não estaremos sozinhos, não é verdade? — diz, aproximando-se ainda mais. — Eu fico tão feliz quando estamos juntos, sinto que somos parecidos. Mas, recentemente, você parece tão distante que eu só... — quando a asiática volta a olhar para Adrien, ela percebe que ele não estava prestando atenção nela.

— Desculpa, só pensei que era uma vespa e eu não queria que ela te machucasse. — Adrien dá uma risada, nervoso, coçando a nuca, vendo um akuma perseguindo uma pessoa.

— Você... Me ama também? — Kagami pergunta, retomando a atenção de Adrien.

— Como é que é? — pergunta, confuso, sem entender o rumo da conversa.

— Adrien, qual é o seu problema, hein?

— Eu só... Esqueci uma coisa lá no barco, não precisa me esperar. Nós nos vemos na festa. — se despede ao mesmo tempo em que a limosine de Kagami chega, correndo para o lado oposto, onde o akumatizado estava.

Antes que Kagami pudesse protestar, ela vê o se carro chegar e estacionar ao seu lado. Cansada, ela dá um suspiro e entra.

[...]

Kagami estava esperando Adrien do lado de fora do salão de festas. No momento em que ela pensou em desistir, este apareceu sorridente e correndo em sua direção. Atrasado. De novo.

— Kagami! Espero que não tenha me esperado demais. — cumprimenta.

— Sim, e tomara que você tenha achado o que estava procurando. — responde.

— Hm? — o loiro parecia confuso.

— Mais cedo. Você disse que iria voltar para encontrar algo. — ela o relembra.

— A-ah! Claro, err... Eu achei sim, obrigado. — diz, com um sorriso torto.

— Sério? E o que era? — a asiática pergunta, curiosa.

— Ah, você sabe, o talismã da sorte que a Marinette me deu. — diz, vasculhando os bolsos da calça. — Opa, será que eu perdi mais uma vez? — ele passa a mão nos cabelos enquanto sorri. Kagami tomba a cabeça para o lado.

— Está falando disso aqui? — apenas no momento em que ela falou isso que Adrien percebeu que ela escondia algo em suas costas. Era o seu talismã da sorte. Bem ali, nas mãos de Kagami.

Encabulado por ser pego na mentira, Adrien desvia o olhar de Kagami para o chão.

— Olha, eu também menti. Menti para a minha mãe para a gente poder se ver e menti hoje de novo dizendo que você tinha vindo comigo. Menti em todas as aulas de esgrima para a gente poder ficar um tempo a mais juntos. — Kagami pega a mão de Adrien e coloca o talismã dentro dela. — Somos dois mentirosos. Só que eu minto quando quero ficar com você. Você mente porque não quer ficar comigo.

Adrien estava chocado. Ele queria desmentir tudo isso, contar o seu segredo, acabar com as mentiras e com as meia-verdades. Mas ele não podia. Esse era o fardo de uma vida dupla. A liberdade que ele tinha como Chat Noir tinha um preço. Adrien questionou-se se realmente estava determinado a pagá-lo.

Então, enquanto Kagami voltava para o salão de festas. Adrien se manteve imóvel. Era tentadora a ideia de segurar a mão da asiática e pedir desculpas, dizer que não iria mais acontecer. Mas, claro, isso seria apenas mais uma mentira.

Após alguns minutos parado na frente do salão, Adrien tomou coragem para entrar na festa — mesmo que não estivesse mais no clima para isso. Assim que abriu a porta, Adrien viu Kagami sendo akumatizada. Imediatamente ele se recolheu em um canto escondido.

O dever o chama, apesar de tudo.

[...]

No vestiário da esgrima, tanto Adrien quanto Kagami estavam sentados um ao lado do outro. Porém, ao contrário de antes, tudo que havia entre eles era um profundo desconforto.

Cansado daquele silêncio ensurdecedor, o loiro se pôs a falar:

— Eu sinto muito por te magoar, Kagami. — disse olhando para um ponto fixo no chão, sem coragem de levantar os olhos para ela. — Nós nos divertimos muito juntos, e isso não foi mentira... — a garota suspira, chamando a atenção dele.

— Eu sei, e sei que me esconde alguma coisa. Mas também sei que é sincero. — ela cerrou os punhos sobre o seu colo.

— Então, ainda podemos ser amigos? — pergunta, esperançoso.

— Como é que alguém pode realmente confiar em quem mentiu? — Kagami se levanta, recolhendo a sua bolsa e apertando a alça com força. — Quando eu estiver pronta para te ver, eu aviso. — e foram com essas palavras que Kagami o deixou.

Em mais de um sentido. Ela o deixou.