14. Senhora

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— Está tudo preparado, senhora. — Helgan falou baixo enquanto caminhávamos para a sala da rainha de Rubi. 

Estava cedo, a minha corte ainda não tinha se apresentado, mas eu não consegui pregar os olhos durante a noite pensando que cada minuto era precioso para a Porção que eu era responsável. Eu estava acostumada em ter vidas em minhas mãos, mas minhas decisões sempre foram para finalizá-las, não mantê-las.

Só conseguia pensar que talvez não era boa o suficiente para tudo aquilo. Nunca tinha questionado se era capaz antes, e aquela fraqueza me irritava profundamente. Eu levantava toda vez que caia, não de deixava sentir, não me deixava duvidar, um segundo poderia significar minha morte. Mas aquilo era diferente, eu não tinha estudado, mal sabia ler. Como deveria ser eu a administrar um território?

Abri a porta sem bater, e vi a corte da rainha se preparar para defendê-la.

— Desculpe a interrupção, majestade. — Helgan falou por mim, quando se passaram alguns segundos e não pensei em nada a dizer. — Viemos para discutir os preparativos para a ajuda a Porção.

A rainha de Rubi coçou a cabeça, seu rosto estava inchado, e seus olhos semicerrados. Ela sentou em uma poltrona rica e me encarou. 

— A porção tem seu próprio exército.

— Que solicitou ajuda. — Falei finalmente.

— Majestade. Sabe que o exército da porção leste não é muito bem treinado, devem estar com muitas dificuldades para repelir anevoados. — Helgan mais uma vez interveio.

— Com a volta do campeão, isso não pode ser um ataque aleatório. — Falei. — Querem algo da Porção.

A rainha limpou a garganta e se remexeu na poltrona.

— Existe algo que eles podem querer lá? — Perguntei.

— A tumba do dragão. — Foi Helgan que respondeu, quando a rainha apertou os lábios. — Achei que não passasse de um mito.

Se eles querem a tumba. Modesh falou em minha cabeça. Vamos ter que impedir, Lorilae. A todo custo.

E se ele estiver lá. Respondi. Vou matá-lo.

— Diz a lenda que a ossada da última dragão de diamante foi separada em seis tumbas, pela própria Alitanie. Uma foi selada com seu corpo e sangue. A outra escondida no fundo da floresta de ventos. A terceira no fundo de uma mina esquecida no reino de ouro, a quarta nas dunas da areia. A quinta estaria na posse de um colecionador do reino da madeira e a última teria se perdido na queda de Ístar. 

— Não passam de lendas. — A rainha colocou. — Já reviramos o túmulo de Alintanie e nenhuma ossada foi encontrada, assim como na floresta de ventos.

Me lembrei do sonho que tive.

— E se souberem como encontrá-las?

A rainha bufou.

— Se souberem como encontrá-las, minha cara herdeira. Você iria desejar estar morta ao enfrentar o que viria. Vou enviar uma guarnição de vinte cavaleiros com vocês, é tudo o que posso fazer com a guerra iminente em nossas fronteiras.

Assenti.

Ainda não sabia o que ia encontrar na porção, mas duvidava que a rainha faria algo a mais para ajudar.

***

— Onde estavam? — Perguntei a minha corte que preparava seus dragões para a jornada.

— Tivemos um incidente. — Starne respondeu e vi seu olho roxo.

— Não posso ouvir que estavam se metendo em brigas quando a porção está em perigo. — Falei, e logo grunhi mentalmente pela hipocrisia.

Eles não falaram e eu suspirei.

— Davos. — Chamei e vi seus olhos brilhantes se encadearem com os meus, cheios de sombras que eu não conhecia. — Seu dragão consegue acompanhar Modesh?

Claro que não. Modesh falou em minha cabeça.

— Podemos tentar. — Ele respondeu. — Mas sem obstáculos, Modesh com certeza será mais rápido.

Com ou sem obstáculos, humano. 

— Certo, não vou esperar por vocês. Alexis, Leve Helgan com você.

— Senhora, acho que não é uma boa ideia, nunca subi em um dragão.

— Tudo tem uma primeira vez Helgan, ou planeja chegar até a porção quando ela já estiver em cinzas?

— Vou com Alexis, senhora.

— Bom. — Suspirei. — Não vou esperar por vocês, não temos sete dias. Vou na frente e por até que cheguem obedeçam a Helgan.

***

Não foi uma viagem fácil. Modesh voava alto e mais rápido do que eu estava acostumada. Paramos poucas vezes para que eu pudesse me aliviar e comer algo, mas meu dragão não caçou, nenhuma vez sequer.

Posso fazer isso quando chegarmos, Lorilae. Ele disse sempre que perguntei sobre o assunto.

Quando finalmente Modesh avistou a floresta ao longe, eu sabia que estávamos perto. O dragão deu uma guinada e começou sua descida. 

Não vejo a cidade Modesh. Só arvores.

É por que a cidade fica na floresta.

Quando mais nos aproximávamos, mais minha adrenalina pulsava, não parecia ter lugar algum para pousar, apenas árvores gigantes. Foi quando uma pequena clareira se mostrou sem qualquer pretensão, e Modesh mergulhou.

Escutei gritos de horror quando o dragão pousou e exibiu suas asas majestosas. Olhei em volta procurando a cidade que deveria me encontrar com o chefe do exército da porção, antes de seguir para as vilas atacadas, e meu queixo caiu.

A cidade estava no alto das árvores, cabanas empilhadas nos troncos retorcidos das árvores gigantes. Iluminadas pelo fogo de tochas e lamparinas, quando o sol já começava e se por e estava quase totalmente ofuscado pelas copas. Era uma visão linda. 

Me soltei das amarras, e vi soldados com lanças se aproximarem de Modesh que rugiu alto, como um aviso.

— Se identifique cavaleiro do dourado. — Uma voz rouca ressoou mais alta que esperaria.

Modesh bufou com a ofensa de não o reconhecerem e rugiu mais uma vez, uma lufada de ar jogando os soldados para longe.

— Sou Lorilae, sua senhora.



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⏰ Última atualização: Sep 15 ⏰

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A Herdeira de RubiOnde histórias criam vida. Descubra agora