— Sabia que iramos nos encontrar cedo ou tarde. — O homem falou retirando o capuz que cobria parte de seu rosto. Ele estava em sua meia idade e apesar de reconhecer grande parte dos traços de seu rosto. Ele não era quem eu esperava. — Pela expressão em seu rosto, posso dizer que ainda não sabia de mim.
Tomei um curto suspiro, na tentativa de acalmar as batidas rápidas de meu coração.
— O que é dele? — Perguntei. Com o mesmo nome e com rostos tão parecidos deviam ser parentes em algum grau.
Seu olhar profundo pareceu acompanhar seu sorriso triste.
— Irmão mais novo. — Ele respondeu. Os cabelos grisalhos refletindo a luz amarela do ambiente. — Soube recentemente quem era a nova herdeira de Rubi. Lorilae, fugitiva do reino da madeira.
— Ela não... — Kiram tentou, a maioria das pessoas ali não sabiam desta parte da minha jornada até ali e era melhor que continuasse assim.
A música alta recomeçou e o outro Kareno acenou com a cabeça para os músicos antes de se virar para mim novamente.
— De onde ela veio não é um problema para mim, príncipe. — Ele explicou. — O que importa é o que meu irmão deixou. O que você era para ele. Temos muito o que conversar sobre isso, se puder me acompanhar.
A voz do homem era tão grave falada quanto cantada. O timbre forte e limpo transmitia ainda mais confiança para aquelas palavras. Mesmo que seu nome já fizesse todo trabalho.
— Para onde? — Perguntei, tirando uma risadinha do homem a minha frente, que se virou em direção a uma porta escondida atrás do mezanino onde os músicos tocavam uma música agitada.
— Devo fazer isso sozinha, Kiram. — Falei para o rastreador quando ele fez menção em nos acompanhar.
Kiram assentiu, e balançou a cabeça como um incentivo.
— Claro, Lorilae. — Ele me assegurou. — Estou aqui se precisar.
Isoldo Kareno me guiou até uma sala pequena localizada atrás do salão usado para o banquete daquela noite. Ali, no cômodo decorado com um brega veludo verde, as vozes e música eram abafadas como se estivéssemos em uma ala distante do castelo.
— Essa é a sala reservada dos artistas. — Ele contou, sentando-se em uma das grandes poltronas do meio da sala. — Como não vão estar livres até muito mais tarde, vamos ter alguma privacidade.
Escolhi uma poltrona próxima e me sentei. Meus olhos tornaram a avaliar os traços tão conhecidos do homem a minha frente.
— Bom. — Ele começou, ajeitando o tecido de suas vestes antes de voltar seu olhar para mim. — Acho que devemos começar com as questões mais práticas. Meu irmão deixou um testamento, para minha completa surpresa, já que sempre o escutei dizer que toda a fortuna que tinha ganhado como mago deveria ser retornada ao clã quando sua vida chegasse a um fim. Acontece que, recentemente, ele mudou de ideia e redigiu sua vontade. É a lei do clã que sessenta por cento no mínimo da fortuna de um grande mago retorne ao clã, mas o resto é dele para que faça o que quiser e ele escolheu dar a você.
Levantei-me da poltrona.
— Eu não quero. — Falei. — Pode doar ao clã, ou ficar para você.
— É uma soma ultrajantemente grande para recusar dessa forma.
— Eu não quero. Pode doar o dinheiro do velho, não me importo. Não é meu.
Para minha surpresa Isoldo riu.
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A Herdeira de Rubi
Fantasy"Eu posso sentir o mal, ele esta esperando, se enraizando, alimentando seu poder até que possa se libertar totalmente de suas amarras" Lorilae deixou para trás qualquer ligação com sua antiga vida de mercenária na busca pela vingança. Para isso, ela...