11. O que estava escondido

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— Sabia que iramos nos encontrar cedo ou tarde. — O homem falou retirando o capuz que cobria parte de seu rosto. Ele estava em sua meia idade e apesar de reconhecer grande parte dos traços de seu rosto. Ele não era quem eu esperava. — Pela expressão em seu rosto, posso dizer que ainda não sabia de mim.

Tomei um curto suspiro, na tentativa de acalmar as batidas rápidas de meu coração.

— O que é dele? — Perguntei. Com o mesmo nome e com rostos tão parecidos deviam ser parentes em algum grau.

Seu olhar profundo pareceu acompanhar seu sorriso triste.

— Irmão mais novo. — Ele respondeu. Os cabelos grisalhos refletindo a luz amarela do ambiente. — Soube recentemente quem era a nova herdeira de Rubi. Lorilae, fugitiva do reino da madeira.

— Ela não... — Kiram tentou, a maioria das pessoas ali não sabiam desta parte da minha jornada até ali e era melhor que continuasse assim.

A música alta recomeçou e o outro Kareno acenou com a cabeça para os músicos antes de se virar para mim novamente.

— De onde ela veio não é um problema para mim, príncipe. — Ele explicou. — O que importa é o que meu irmão deixou. O que você era para ele. Temos muito o que conversar sobre isso, se puder me acompanhar.

A voz do homem era tão grave falada quanto cantada. O timbre forte e limpo transmitia ainda mais confiança para aquelas palavras. Mesmo que seu nome já fizesse todo trabalho.

— Para onde? — Perguntei, tirando uma risadinha do homem a minha frente, que se virou em direção a uma porta escondida atrás do mezanino onde os músicos tocavam uma música agitada.

— Devo fazer isso sozinha, Kiram. — Falei para o rastreador quando ele fez menção em nos acompanhar.

Kiram assentiu, e balançou a cabeça como um incentivo.

— Claro, Lorilae. — Ele me assegurou. — Estou aqui se precisar.



Isoldo Kareno me guiou até uma sala pequena localizada atrás do salão usado para o banquete daquela noite. Ali, no cômodo decorado com um brega veludo verde, as vozes e música eram abafadas como se estivéssemos em uma ala distante do castelo.

— Essa é a sala reservada dos artistas. — Ele contou, sentando-se em uma das grandes poltronas do meio da sala. — Como não vão estar livres até muito mais tarde, vamos ter alguma privacidade.

Escolhi uma poltrona próxima e me sentei. Meus olhos tornaram a avaliar os traços tão conhecidos do homem a minha frente.

— Bom. — Ele começou, ajeitando o tecido de suas vestes antes de voltar seu olhar para mim. — Acho que devemos começar com as questões mais práticas. Meu irmão deixou um testamento, para minha completa surpresa, já que sempre o escutei dizer que toda a fortuna que tinha ganhado como mago deveria ser retornada ao clã quando sua vida chegasse a um fim. Acontece que, recentemente, ele mudou de ideia e redigiu sua vontade. É a lei do clã que sessenta por cento no mínimo da fortuna de um grande mago retorne ao clã, mas o resto é dele para que faça o que quiser e ele escolheu dar a você.

Levantei-me da poltrona.

— Eu não quero. — Falei. — Pode doar ao clã, ou ficar para você.

— É uma soma ultrajantemente grande para recusar dessa forma.

— Eu não quero. Pode doar o dinheiro do velho, não me importo. Não é meu.

Para minha surpresa Isoldo riu. 

A Herdeira de RubiOnde histórias criam vida. Descubra agora