liberdade

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Na semana seguinte, Andrew se viu andando pela mesma estrada da última vez. Desta vez, um pouco menos enlouquecido, ele não estava andando por entre os carros. Ele estava bêbado, na verdade, então ficar em pé já estava sendo uma vitória, ninguém poderia culpá-lo se sem querer fosse parar na frente de um dos carros.

Andrew nunca ficou bêbado, ele sempre teve total controle do tanto de álcool que circulava por seu corpo. Ele odiaria essa sensação quando estivesse sóbrio, mas agora ele não conseguia sentir nada. Outra coisa que ele deixaria para quando estivesse sóbrio: pensar sobre o porquê de estar indo para aquela sorveteria. Talvez fossem os quadros, talvez fosse a maneira como tudo lá era nada mais que o silêncio, talvez fosse o garoto que ele nem mesmo sabia o nome.

Ele chegou, finalmente, depois de uma caminhada que durou a eternidade. A primeira coisa que fez quando entrou lá foi olhar para as paredes. Não eram os mesmos quadros.

Agora, diferente da última vez, as cores era vibrantes. Os quadros eram intensos, expressavam liberdade. Andrew nunca experimentou a liberdade, ele nunca foi dono de si mesmo, mas se lhe perguntassem o que era ele mostraria qualquer um daqueles quadros.

Tinha um quadro que, como da última vez, chamava mais atenção do que os outros. Andrew se aproximou dele para olhar melhor.

Era outro tipo de liberdade. Era algo inalcançavel. Estava bem ali, na frente de Andrew, mas se ele olhasse bem, não estava. Era algo que ele nunca teria. Era algo que quem pintou os quadros não tinha, mas queria. Representava as limitações da liberdade e como ninguém livre. Era um sentimento de alguém que implorava para se livrar do peso que carregava.

Talvez fosse a bebida, talvez os quadros fossem só uma mistura de tinta que o pintor achou legal. Talvez, da primeira  vez que veio ali, Andrew so tivesse visto nos quadros o que ele queria que estivesse lá. Ele queria não ser o único a estar implorando.

Andrew ouviu um suspiro ao seu lado e se virou rapidamente, pronto para bater em quem quer que fosse. Ele parou no instante em que viu um sorriso voltado para si. Era brilhante, como nenhuma estrela jamais seria, nem mesmo o sol. Ele olhou para trás, para ver se tinha chance do sorriso não ser para ele, mas era.

Ele não gostou disso. Ele também não gostou de como seu corpo ficou quente demais. Algo estava errado. Ninguém no mundo se sentiria feliz no mesmo ambiente em que Andrew Minyard estava. O sorriso do garoto só aumentou quando percebeu que tinha a atenção de Andrew. Ele não deveria ser simpático, não com Andrew.

—– Você foi muito rude da última vez, mas tudo bem, pelo menos elogiou meus quadros. — Ele disse, a voz calma como uma simples ventania.

Andrew quase se sentiu culpado. Ele tentou falar, mas quando abriu a boca o outro garoto fez uma careta horrível.

—– Eu quase fiquei bêbado só com seu hálito, puta merda.

Oh, certo. Andrew tinha bebido muito mesmo. Andrew, antes, não estava nem conseguindo andar sem tropeçar. Por algum motivo, a presença daquele menino o deixou consciente.

—– Seu nome? — Andrew murmurou, com mais agressividade do que pretendia.

—– Neil Josten. 'Tá escrito na minha camisa, não viu?

Andrew sentiu que iria vomitar. Até mesmo o nome dele soava como algo poético. Seus olhos, seu cabelo, seu sorriso e seu nome, era tudo o que Andrew tinha sobre esse garoto, era tudo o que Andrew precisava.

—– Enfim, pega. — Neil empurrou um cardápio para as mãos de Andrew. — Você pode se sentar em uma das mesas, mas tem cadeiras lá perto do balcão. Perto de mim.

Andrew se sentiu tonto. Neil queria Andrew perto dele, ou foi só um erro de interpretação? Tanto faz, Andrew queria ir para perto de Neil. Ele queria ouvir de perto a sua voz.

Enquanto tentou andar até o balcão, seguindo Neil, ele se sentiu tonto mais uma vez. Não era uma tontura boa, como a de segundos atrás. Era perigoso e esquisito. Era pela bebida que ele ingeriu, ele nunca tinha bebido essa quantidade. Se ele pensou que Neil o deixava sóbrio, era só uma ilusão, porque de repente ele sabia que estava mais bêbado do que nunca. De repente, ele caiu no chão. A última coisa que ouviu foi o som de desespero que Neil fez, além do barulho de seu corpo contra o chão.

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