adeus

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Depois que entregou o quadro, Andrew voltou para casa. No dia seguinte ele voltou lá para saber se Neil gostou, mas estava fechado. Foi assim por três semanas. Três semanas sem ver Neil e saber se ele estava bem. Era quase uma tortura. Passou pela sua mente que talvez fosse o troco por sumir durante um mês, mas ele descartou essa ideia. Ele desejava que fosse isso, porque significava que Neil estava bem, mas sabia que não era.

Chegou um momento em que ele se recusava a sair de casa. Assim que ele fosse para fora, sua vontade de ir ver se Neil tinha voltado tomaria todo o seu corpo, e ele preferia não ficar se decepcionando toda vez que encontrasse a sorveteria fechada.

♤♤♤

Sua campainha tocou. Neil deixou a pilha de comidas enlatadas de lado e saiu da cama. Algo como esperança estava borbulhando nele. Ele esperava ver Neil, mas tudo o que viu foi uma caixa gigante. Ele trouxe a caixa para dentro.

Ficou tempo demais parado e olhando para a caixa, apenas imaginando o que poderia ser.

Quando a abriu, começou a sorrir. Era um quadro. Era Neil falando com ele. Era Neil dizendo que recebeu o quadro que Andrew tinha feito. Andrew nem mesmo se preocupou em pensar sobre como Neil sabia seu endereço.

Ele pegou o quadro e o colocou encima da cama. Estava ansioso para saber que sentimento tinha ali.

Ele ficou confuso. Ele não sentiu nada. Era como se aquele quadro não tivesse nada. Ele passou as próximos duas horas tentando entender. Neil nunca mandaria um quadro incompleto.

Ele percebeu que não eram sentimentos, eram palavras. Andrew não sabia quais palavras Neil estava tentando dizer, mas ele queria descobrir.

♤♤♤

Ele descobriu.

Ele entendeu duas semanas depois, quando o rosto de Neil apareceu no jornal como "desaparecido". Era uma despedida. Neil estava dizendo adeus.

Como Andrew adivinharia? O quadro era em tons de roxo e amarelo, isso soava como saudade. Ele se sentiu burro, se lembrou que Neil jamais usava as cores de forma convencional. Se azul significava tristeza, ele faria ser alegria, se laranja significava calor, ele faria ser frio. Adeus e saudade tinham algo em comum de certa forma, mas eram coisas completamente diferentes.

Ele queria não ter entendido, ele queria não saber que nunca mais veria Neil, ele preferia viver na ignorância.

O que tinha acontecido? Neil estava morto? Ele foi sequestrado? Poderia ser as duas opções. Quem havia denunciado o desaparecimento? Sua família? Seus amigos? Eram essas perguntas e muitas outras que fizeram Andrew chorar. Perguntas que nunca teriam respostas. Ele passou a mão pelo quadro, as lágrimas caindo pela tinta, os dedos formigando com a sensação.

Lá embaixo, no canto do quadro, tinha algo escrito. Uma dedicatória.

"Para Andrew, o garoto de ouro."

O que isso significava? Era por causa de seu cabelo, provavelmente.

Meu deus, Andrew estava tão preenchido de sentimentos, ele mal sabia o que significavam todos eles. Ele foi chamado de garoto de ouro, e ele adorou isso, desejou ouvir a voz de Neil o chamando assim pessoalmente.

Ele lembrou do rosto de Neil no jornal, da palavra "desaparecido" sendo destacada com um vermelho intenso. Ele percebeu que jamais teria o prazer de ouvir Neil lhe dizer aquilo. Ele nunca mais ouviria aquela voz tão doce e e leve como uma brisa.

Só Deus sabe o quanto Andrew queria morrer.

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