Durma Bem, Filho
Gustavo era um adolescente totalmente sem freio. Achava que a vida era curtição, mulher e bebida. Tinha desistido de estudar e vivia vadiando pelos becos e ruelas do seu bairro.
Dona Aparecida, sua mãe, orava para que Deus o protegesse dos males do mundo, sem saber que ele era o seu próprio mal. No seu coração materno, ainda o enxergava como aquele mesmo menino franzino, que crescera sem um pai e sem perspectiva de um futuro melhor. Ela trabalhou como diarista quase toda a sua vida, para criar seu filho, e agora que se aposentou, tinha esperanças que, se ele estudasse, teria uma vida melhor do que aquela que ela oferecia. Mas ele não pensava assim e conforme crescia, virava um homem, se parecia cada vez mais com o pai. Truculento, violento e bêbado.
Ela já não sabia quantas vezes teve de ir ao juizado de menor para retirá-lo de lá por perturbação e vandalismo. Agora, ia buscá-lo na cadeia por pequenos roubos e uso de maconha.
― Meu fio, toma jeito na vida, fio! Assim, você num vai viver mais que sua véia mãe, viu?
― Velha ignorante! Fala direito, pelo amor! Que palhaçada é esta? Vai querer mandar na minha vida, agora? Se toca! Vê se me arranja uns trocados aí!
― Não tenho nada, Guto! Cê me tirou todo meu dinheirinho...
― Cala essa boca! Te vira! Pede emprestado!
Aparecida sabia que não adiantava continuar discutindo. Ele acabaria batendo nela, como seu pai fazia no passado. Deu um suspiro longo e se calou.
― Vai ficar de resmungo, agora? Tu sabe que tô precisando de trago, de uma curtição! Acabei de sair da cana, por#a!
― Eu vou ver se Dona Emília me empresta algum. Tenho de comprar pão, para você comer.
Andaram o resto do caminho em silêncio.
Ela rezando para ele mudar.
E ele também.
Para que ela morresse de uma vez...
Alguns dias haviam se passado e Gustavo havia desaparecido. Aparecida, andava nervosa, pensando que algum traficante ou até a polícia tinham tirado seu filho dela.
Não queria ter que ver seu filho estirado no asfalto duro ou no frio de uma mesa metálica do IML, mas era o destino que ele mesmo estava traçando e nada do que ela dissesse, mudaria isso.
"Já tá escrito por Deus, Nosso Senhô, a sua sina, meu fio amado." ― Pensava sempre, quando estava deitada no escuro, em sua cama humilde.
Enquanto suas lágrimas banhavam seu rosto cansado de tanto sofrer, recordava sua infância na roça, seus irmãos e seus pais. Tinha uma vida humilde, mas dentro do pouco que tinham, eram todos ricos de amor e movidos pela fé de que tudo iria melhorar. Cresceu analfabeta, pois tinha que ajudar a cuidar dos irmãos menores, enquanto os pais e irmãos mais velhos iam roçar a terra e, de lá, tirar um pouco do alimento.
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ESTILHAÇOS
Short Story🥇 primeiro lugar concurso Estrelas do Wattpad categoria conto 🥇 primeiro lugar concurso Successful Books categoria conto. -ˋˏ ༻✿༺ ˎˊ- Uma simples mensagem tem o poder de quebrar um coração em mil pedaços. Em "Estilhaços", nove con...