ESTILHAÇOS

OITAVA HISTÓRIA

A Carta

          A secretária particular de Jefferson Matoso, presidente sênior de uma das maiores empresas multinacionais de canetas tinteiro, deu algumas batidas de leve na porta do escritório, antes de entrar.

― Senhor Jefferson, com licença. Seus assessores o aguardam para a reunião de emergência.

Havia herdado do pai, que por sua vez, herdara do avô, onde iniciaram com simples canetas douradas e prateadas, com o logo das firmas ou nome do usuário. Atualmente, todas eram folheadas a ouro ou prata, algumas levavam delicadas pedras preciosas e eram vendidas para as melhores e mais famosas empresas no mundo todo.

Infelizmente, a vida sem freios que Jefferson levava, onde gastava milhões com exibicionismo, compras exóticas, cruzeiros intermináveis com mulheres, estavam colocando as finanças da empresa praticamente no vermelho. Ele precisava investir em algo para alavancar, mas não tinha o tino e a disciplina empresarial do seu pai e nem do seu avô.

― Avise a todos que dentro de quarenta minutos, estarei pronto, senhorita Bruna.

― Senhor, eles já estão à sua espera...

― Faça o que estou mandando, sim? ― Cortou-a.

Ela assentiu, abaixando os olhos, saindo da sala luxuosa de Jefferson, fechando a porta atrás de si, deixando-o em pensamentos. Tinha que tomar uma decisão, logo. Os tubarões não iriam esperar muito mais. Queriam uma resposta.

Mas, no momento, ele não tinha nenhuma.

Levantou-se da cadeira de couro, indo em direção ao barzinho, se servindo de uma dose de uísque com uma única pedra de gelo. Elevou o copo de cristal até a altura dos olhos, visualizando o tom caramelo dourado e o gelo se dissolvendo lentamente. Levou até os lábios, deixando a bebida deslizar por sua garganta, como um veludo.

Largou o copo na mesa de jacarandá, indo até a parede envidraçada imensa, onde podia vislumbrar praticamente toda a metrópole e ser presenteado com um belo entardecer. Deu um longo suspiro de derrota. Lembrou-se da primeira vez que vislumbrou aquele mesmo espetáculo da natureza, com seu pai...

Naquele tempo, não precisava se preocupar com as flutuações do câmbio, da bolsa de valores, dos acionistas e da importação e exportação. Sua única preocupação era curtir a vida e gastar sua generosa mesada.

"Você precisa se preparar, Jefferson. Isto tudo será seu. Há um império para você, todavia, há certas condições para tal. Você precisa terminar seu curso de administração e fazer um estágio em um dos cargos na produção, aprender como se faz, se familiarizar com tudo isto! Não basta ser meu herdeiro, filho. Tens que aprender tudo, para saber mandar em tudo!".

As palavras do pai ainda queimavam em sua mente. Sabia, agora, o quão certo ele estava, mas o tempo jamais retrocede!

E tempo era algo que ele não tinha mais...