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Foi uma viagem curta de quatorze minutos até o local. Era a famosa Corniche Beach. Areia clara e cheia de pessoas passeando pelo lugar. Louis ficou com medo das pessoas o reconhecerem, mas conforme andavam entre todos ninguém pareceu o notar, embora todos soubessem que o grande piloto de fórmula 1 estava internado na cidade.

— Como não perceberam que somos nós? — Ele perguntou desacostumado.

— Aqui não é exatamente um local onde os pilotos frequentam. Acho que a gente só percebe certas coisas se estiver procurando por elas, e com certeza não estão procurando por nós aqui.

Louis observou a movimentação por mais um instante.

— Se quiser nós podemos voltar — Styles sugeriu.

— Não. Vamos ficar

Harry abriu caminho até o mar, Louis o seguiu e foram andando ao lado da água.

— Eu quis te trazer aqui pra conversar fora daquele hospital

— Certo, vamos conversar

— Eu concordo com a Elizabeth, você deveria ir para terapia — Harry segurou as mãos de Louis e pararam de andar.

— Eu só acho que vou desenterrar muita merda que não precisavam ser faladas

— Parte do processo é lidar com elas, não acha? Só vão deixar que você continue correndo se fizer isso, então— Louis o interrompeu.

— Eu não vou. Não vou continuar correndo.
Essa foi a vez de Harry ter uma surpresa. Ele imediatamente soltou as mãos de Louis e segurou as laterais do seu rosto.

— O que você quer dizer? Como assim você não vai correr? — Louis sorriu com o canto da boca.

— Não era para você saber ainda

Harry se sentou na areia e Louis o seguiu.

— Me conte isso direito, temos todo o tempo do mundo

— Bem, eu já bati o carro antes, várias vezes, mas essa foi a pior. Eu pensei que tivesse morrido, Harry. Quando estava na ambulância eu tinha certeza de que não aguentaria, sabia que iria morrer a qualquer momento e sabe qual é a pior parte? Eu não me arrependi. Eu bateria a droga do carro outra vez e sem nem pensar na dor que isso causaria para a minha família.

Ele fez uma pausa.

— Eles já perderam meu pai, não posso deixar que me percam nisso também

— Louis, vamos com calma, talvez se você pensar sobre isso outra vez, quando estiver melhor

— H, obrigado pela preocupação, mas eu sei que esse é meu destino. A mercedes estava tentando me jogar para fora faz tempo, chega uma hora que um cego pega na sua mão e pergunta "Você não consegue enxergar?". E agora eu enxergo.

— Eu só pensei que isso fosse a coisa que você mais amava na vida

— E foi, H, por muito tempo foi, até que eu percebi que cada vez que entrava naquele carro menos tempo vivo eu teria. Eu sou um romântico, Harry, eu amo viver.

— Quem sabe sobre isso?

— Você, eu e minha mãe. Eu contei ontem.

— Então é certeza? — Harry perguntou observando o perfil de Louis. O mais velho estava olhando para o mar com a expressão calma.

— É, é certeza — O sol estava castigando Abu Dhabi aquele dia, o céu nunca esteve tão azul e Louis nunca esteve tão certo de algo na vida.

Ter passado tão perto da linha entre vida e morte fez com que ele visse coisas de uma outra maneira. Louis ainda não era religioso, mas tinha entendido que antes de tudo, precisamos de algo para acreditar, algo para ter fé, e ele tinha fé que seu destino tinha cabelo ondulado, olhos verdes e um metro e oitenta e três de pura tentação. O seu destino tinha o levado a tudo aquilo.  O destino fez com que Harry fosse irritantemente bonito demais, fez com que o beijo dos dois fosse viciante, fez com que se aproximassem, fez a troca das camisas malditas acontecerem e mais importante, fez com que Harry estivesse com Louis quando ele percebesse isso. Tomlinson estava certo de que aquele era o fim de um ciclo. Foi importante viver ele, as partes boas e ruins, e sinceramente, ele nunca esqueceria a forma como todo seu corpo se arrepia quando o acelerador do carro faz barulho, mas se esse fosse o fim, ele teria que tirar algum ensinamento de tudo isso, não?

Louis não se arrependeu naquele dia e em nenhum dia depois desse, se tivesse que viver tudo outra vez ele viveria.

Quando voltaram Elizabeth foi informada que Louis faria a terapia. E claro, foi informada, assim como a equipe da Mercedes que aquela tinha sido a última corrida dele.

Um mês após o acidente, no circuito de Abu Dhabi, piloto Louis Tomlinson e Mercedes AMG declaram o fim da carreira do piloto para a equipe. Tomlinson, que iniciou ainda jovem nas pistas sofreu um acidente grave que o fez repensar sua decisão de continuar correndo pela Fórmula 1. Além disso, seu pai, Alan Tomlinson, também piloto morreu num acidente alguns anos antes do início da carreira do filho, fator que para o Tomlinson mais novo, o influenciou a abandonar o esporte.

Louis está em Londres para sua última coletiva de imprensa com a Mercedes, na qual irá responder todas as dúvidas do público e fãs quanto seus próximos projetos.

Ele estava sentado na sala de espera da clínica de psiquiatria quando leu a reportagem publicada no The Sun. Logo estaria em todos os outros meios de comunicação.

É isso. Louis oficialmente não era um piloto mais.

Ele imaginou que não deveria se sentir tão aliviado, mas era difícil demais ignorar a sensação pulsante que teve ao finalmente ouvir sobre sua saída do mercado da Fórmula 1. Desde a conversa com Harry, ele estava focado em melhorar. Foi em todas as consultas marcadas mesmo meio relutante. Ele não fazia ideia do que sua vida seria daquele momento em diante, não sabia como seguiria em frente sem ouvir o motor do carro próximo ao ouvido, mas sabia que tinha uma família ali por ele. Harry fez questão de levar e buscar o ex piloto em todas as consultas, sem forçar que Louis falasse sobre o que sentia, só estando ali por ele.

— Muito bom, Louis, gostaria de discutir um assunto que talvez você se sinta relutante, e quero que saiba que podemos fazer pausas, certo? — A terapeuta disse com a voz calma.

— Manda ver

— Harry. Mais especialmente, Harry tendo um namoro falso — É, tópico sensível.

Louis cruzou os braços e acabou fazendo cara de quem comeu algo amargo.

— Isso era exatamente o que esperava — Ela disse com um sorriso. A doutora tinha essa mania de fazer alguns comentários ácidos, e Louis gostava dela por isso. Ela não tinha dó ou pena dele.

— Tudo bem, vamos. — Louis estava usando uma das blusas com nome de banda desenhada, calça jeans e um casaco aberto, cabelo bagunçado e parecia ter ganhado um quilo ou dois, a vida de aposentado tinha seus privilégios e um deles era não seguir a dieta.

— Quão irritado você acha que fica quando vê Harry e Carolina juntos?

— Muito irritado, por motivos claros

— E como você tem lidado com isso?

— Eu simplesmente não lido. Só ignoro as fotos e notícias até poder beijar ele

— Bom, Louis, ignorar sentimentos pode parecer o mais eficiente agora, mas acredite, a longo prazo isso só faz com que você se sinta pior.

Tomlinson olhou para as próprias mãos e escutou o resto do conselho da doutora. Ela estava certa e ele sabia disso. Prolongar as coisas não o levaria a lugar algum. Ver Harry de mãos dadas com outra pessoa, enquanto eles não sabiam em que página estavam machucava. Cortava como a ponta do papel. Por isso, a melhor conclusão que ele chegou, com ajuda da doutora, era dar nome ao que tinham.

Up on the hills - Larry Stylinson Onde histórias criam vida. Descubra agora