🌸Capítulo Cinco🌸

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Quando a Leila embarcou naquele avião a uma semana atrás, tive certeza, toda a minha vida iria mudar. Ela não hesitou em olhar para trás, enquanto eu esperei que ela sumisse do meu campo de visão.

Foi um dia doloroso, choroso, e o nosso último abraço foi regado por uma promessa forçada dela de que me ligaria. Mas ela me ligou, dois dias depois que chegou na Noruega. Foi uma chamada rápida de quatro minutos.

E, assim, as vezes a Leila me manda mensagem, eu sempre respondo, mas diria que se conversarmos por correspondência seria mais rápido.

Vejo nas redes sociais o quão ocupada ela estar, e como já se entrosou com as pessoas, sempre rodeada de amigos e bêbada! Em menos de uma semana ela já mudou o seu status e me parece que namora um universitário da região.

Leila seguiu em frente, ela esqueceu seu passado e me deixou junto com ele. Como ela queria!

Mas como a boa irmã que sou, não posso culpá-la pela sua felicidade. Como ela, eu também devia seguir em frente e para de remoer as coisas ruim que me aconteceram.

Por tanto, já consegui um emprego em uma cafeteria luxuosa perto do meu apartamento, trabalho de segunda a segunda somente em meio período na parte da manhã.

O salário não é o suficiente para cobrir meu aluguel, mas as gorjetas são boas, eu estou à espera de um milagre que possa acontecer. Distribui currículos em todo tipo de empresa que se possa imaginar, e já comecei a procurar por um apartamento que seja mais em conta na Zona Sul.

Pelos anos que trabalhei no meu antigo serviço, o dinheiro que recebi ainda dá para me manter durante alguns meses. Isso é, se eu consegui um emprego que me paga um salário decente.

— Aqui está senhor, um capuccino, sem açúcar. — como tenho feito todas as manhãs, sorrio largamente para o cliente e coloco com delicadeza o seu pedido a mesa.

— Obrigada gracinha! — disse o velho me fazendo forçar mais o sorriso que carregava no rosto.

Olhei para todos sentados à mesa, pelo que me parece devem ser empresários ricos já que estão usando ternos caros no Rio de Janeiro. Fala sério, quem em sã consciência usa terno em uma cafeteria que fica de frente para Copacabana, a sensação térmica por trás das portas desse estabelecimento deve ser de 40º graus, o próprio inferno estabelecido nas calçadas.

Nesse caso a frase: "não julgue um livro pela capa" não serve para os quatros homens de idade na minha frente. Por mais desconfortável que eu tenha ficado com o apelido asqueroso de um dos senhores, mantive o profissionalismo e fiz um gesto educado, indicando que iria me retirar, até o sol quente do lado de fora da cafeteria é um lugar mais confortável.

— Com licença. — parei de sorrir, e fiquei com o corpo rígido diante os olhares desconfortáveis que recebi sobre o meu corpo.

Já havia passado por situações parecidas, começa com um apelido ridículo, depois tentam uma investida, mas profunda seja em palavras ou toques desconfortantes.

O famoso assédio, não sou a primeira nem serei a última mulher que vou passar por isso!

A minha vontade é de retrucar com um palavreado de baixo escalão, mas no momento esse emprego é importante, se não fosse esse trabalho eu não teria o que comer em casa.

Esse vale o preço do meu silêncio! Não morrer de fome, e escutar cantadas e apelidos ridículos de homens mais velhos e nojentos que se acham no direito de expressar seus desejos e suas opiniões sobre o meu corpo em voz alta.

Mesmo querendo sair de perto da mesa desse bando de velhos correndo, eu tinha que manter o máximo de profissionalismo, esse é o meu terceiro dia nesse emprego! Por mais que não seja a minha área, as meninas que trabalham aqui são legais, e a dona do lugar é bastante simpática.

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