SAMUEL, DOGLAS, PAULO E MARIA

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AQUI DESCANSA MEUS SENTIMENTOS PELOS MEUS QUERIDOS AMIGOS DE INFÂNCIA, NOSSOS DESTINOS FORAM SEPARARAM MAS AMO CADA UM DE VOCÊS.

××× - 2019

Queridos amigos. Como falar sobre um sem falar dos outros?
Lembro-me que em minha infância, eu via vocês de longe. Eu convivi maior parte da minha infância com minha tia-avó, ela não me permitia brincar com outras crianças.
Eu convivi portanto só, olhava vocês brincarem na rua. Sempre desejei brincar com vocês.
Minha outra tia-avó (Rita), detestava todos vocês. Ela repetidamente chamava vocês de "criança marginais".
Ela me enchia de medo de brincar com vocês, falava que vocês iriam me corromper.
A primeira vez que ela me viu brigando com vocês suas palavras ficaram cravadas em minha memória: "Olha lá Socorro, o marginalzinho que você gerou".
Aquilo foi meio traumatizante para mim mas esse não é o foco, quando conheci vocês eu fui muito feliz.
Eu brinquei a primeira vez de pega-pega, dentre outras brincadeiras. Eu tenho até hoje a unha do pé com deformação devido ao meu primeiro jogo de futebol com vocês. Chutei o asfalto que fez a unha cair, na sua cicatrização ela se dividiu em duas e nunca se recuperou. Não me arrependo disso.
Os demais anos com vocês, eu me senti da família de vocês. Foram ótimos tempos. Sempre visitava vocês. Eram meus melhores amigos.
Tivemos brigas, bons momentos, desentendimentos, brincamos bastante juntos.
Relembro-me da casa abandonada da rua que tínhamos medo por achar erroneamente que lá habitava um espírito. Sempre desafiamos um ao outro para ir lá, sempre quem ia, voltava com detalhes diferentes sobre o suposto "fantasma".
Eram tempos incríveis com vocês. Não havia tempo ruim. Até que... Por volta do final do meu nono ano do fundamental e o primeiro do ensino médio, eu fiz mais amigos. Eu estava tão animado por não ser mais sozinho na escola que isso me subiu a cabeça.
Eu optei pela quantidade de amizades ao em vez da qualidade. Deixei vocês de canto. Na reserva.
As vezes eu via vocês e acabava evitando falar com vocês. Não pelo fato de que não queria conversar, eu queria! Mas me sentia culpado e envergonhado por ter deixado vocês de lado.
Com o tempo foi ficando cada vez pior, e vocês sempre me tratavam normal e isso me doía mais.
Talvez as coisas tivessem sido diferentes se eu tivesse me explicado ou me expressado pra vocês.
Eu não sei quando as coisas ficaram piores ao ponto de passarmos um pelo outro e fingir que não nos conhecemos tão bem.
Hoje somos estranhos, mas gostaria que essas palavras os alcançasse, por mais que eu saiba que nenhum de vocês gostava muito de ler.
"Me perdoem, eu fiquei feliz em saber por terceiros como vocês estão e o desfecho dos seus caminhos. Mas ainda assim gostaria de um dia poder estar junto a vocês novamente. Amo vocês, sinto saudades".

É com tristeza que deixo aqui toda a angústia, toda esperança e todos os arrependimentos.

Que agora meus sentimentos possam descansar em paz...

•CEMITÉRIO DAS PALAVRAS QUE NUNCA DISSE•Onde histórias criam vida. Descubra agora