X.

86 5 3
                                    

O sol nascia sem pressa, tocando suas peles na praia através dos finos tecidos que vestiam. A capitã suspirou. Kiara estava longe, bem longe.

Perto do castelo, talvez.

— Então, a princesa de Lesbos é uma "desertora"?

— É o que dizem pelas ruas.

— Você confia nela?

— Não posso dizer que ela deu as costas à família. Mas, sim, eu posso confiar nela. Só não sei se vocês podem.

— Ah, claro. E você quer... protegê-la de um doente cujas chances de tocá-la são mínimas.

— Quero proteger o nosso segredo.

— Garanto a você que ele não sabe. Ainda quer matá-lo?

— Quero aquele filho da puta morto, Christina. Sei que quer minha segurança, mas eu quero que ele morra.

— Eu realmente estou pensando na sua segurança. É importante para Beth, e agora para mim também. Mas a sua honra pode ser tão ou mais importante que a cautela, eu entendo. Eu posso fazer parecer que foi um acidente, se quiser.

— Quero que ele morra ciente do que o matou. — a capitã observou Kiara. Longamente, como um parágrafo de um texto.

E compreendeu.

— Vai acontecer, Kiara. Vai acontecer. E para os outros, parecerá uma simples rinha de bêbados. Não precisa lutar. Pelo menos não agora. Mas se quiser, eu não vou me opor. Pelo contrário.

Kiara fervia por dentro, mas tinha uma parte em alívio. De fato, podia chamar uma atenção desnecessária, um conflito. Apenas queria que o boçal que havia ameaçado a ela e a Alina em seu aniversário desaparecesse para sempre. Sabia que também tinha uma frustração desmedida por ele ter revelado o segredo da princesa antes que ela pudesse contar, mas ele merecia morrer, era uma ameaça às duas, e especialmente ao futuro de Kiara. Christina garantiu que poderia fazer acontecer. Sem grandes problemas. E se ela quisesse ver, ela poderia também.

Então, a pirata só aceitou a ajuda, como deveria fazer.

— Kiara — chamou sua atenção de volta. — Por que ela? Digo, claro que entendo a vontade, mas não a insistência. É perigoso.

— Não acho que Alina seja perigosa, pelo que ela é aqui.

— Não, de fato ela não é uma pessoa perigosa. Ela é, inclusive, previsível. Mas oferece perigo a você.

— Previsível?

— De onde vejo. — Kiara refletiu, mas permaneceu confusa. — Seu comportamento "rebelde sem causa" era de se esperar por sua... preferência, e pelo escândalo que a envolveu desde muito jovem, mas... como eu disse, sem causa. Ela parece ser contra o que pensa o rei, mas eu acredito que, se forçada a escolher,  por alguma eventualidade, com certeza não escolheria deixar toda a sua vida para trás. E isso pode tornar-se perigoso para você.

— Eu não acho que se pode escapar do próprio sangue. É a família dela, antes até de serem monarcas.

— Não é escapar. É olhar para a própria casa, para tudo o que ela aprendeu, tudo o que ainda usufrui, e decidir afastar-se disso porque não corresponde ao que ela acredita e concorda. Ela não defenderia suas opiniões contrárias se isso significasse o fim de seus luxos, além de que muitas pessoas deixarão de ouvi-la. A princesa gosta da atenção, pelo que sei sobre ela. E não é muito, admito. Entenderei se me disser que estou tirando conclusões precipitadas.

— Espera. Quer dizer, então, que acha que não devo ficar com Alina porque ela vai me trair?

— Não. Eu acho que deve fazer o que quiser fazer. Só estou percebendo que ela não é tão firme assim sobre esses princípios. E, bom, há muito em jogo para ela, sabe? Eu entendo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 28, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Mar de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora