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Depois de longos minutos naquele banheiro tentando me recompor, coloco em minha cabeça que não há nada que eu poderia fazer naquela situação a não ser aceitar os fatos. Eu tinha um filho e pronto, não poderia sumir dessa responsabilidade e agora eu tinha o desafio de contar para minha que ela era avó, de uma hora pra outra.

— Gostou dos presentes ? Semana que vem podemos comprar mais e deixo você escolher o que quiser!

Sorri para ele que pelo visto não me dava atenção já que estava completamente imerso com seus brinquedos, novamente pego meu celular e mando uma mensagem para minha secretária, eu passaria a trabalhar de cada pelo menos enquanto eu resolvia algumas coisas. Volto meu olhar para JunSeo que se deita e me lembro que eu havia comprado uma chupeta para si, a procuro e quando acho coloco na boca do garoto que se agarra ao pelúcia e fecha os olhos.

O ver desencanar me lembrou de muitas coisas, meu pai não foi tão presente na minha infância, sempre trabalhando e minha mãe o acompanhava então, a babá era minha única companhia.

— Olá, quero que façam a decoração de um quarto, é de uma criança de três anos. – digo indo para o quarto que seria do garoto, queria aquele quarto pronto o mais rápido. — Poderiam avaliar amanhã de manhã ? Fico agradecido – sorri satisfeito e desligo o telefone, me apronto para dormir e após retirar as coisas de cima da cama, me deito ao lado do garoto.  — Você é meu filho, vou ensinar tudo que sei a você mas já peço desculpas se eu falhar em alguma coisa...eu sequer sei cuidar de mim. – digo acariciando os fios dele e logo pegando no sono.

Acordo com um leve puxão de cabelo, ligo o abajur e vejo JunSeo resmungar, eu sabia que eu teria que ter mais paciência se eu quisesse o compreender.

— O que foi ? – pergunto o pegando no colo e me deitando  — Não podemos ficar até tarde acordados, amanhã vamos passear e preciso que descanse

— Biscoito e leite – ele diz apontando para porta.

— Está tarde para biscoito e leite não acha ? – olho para relógio, era três horas da manhã. Me coloco de pé e com ele em meu colo desço para a cozinha. Quando pequeno, tomar leite e comer um biscoito melhorava minha noite, ver o garoto querer aquilo me deixava de certa forma feliz...ele estava puxando uma de minhas manias. Coloco o leite na mamadeira e o prato de biscoito em sua frente, o mesmo não pensa duas vezes antes de começar a comer.

Passar o dia com ele amanhã me daria a oportunidade de o conhecer melhor, estava empolgado em o levar para o parque e ver como ele se portava junto a outras crianças e também queria ver a reação da minha mãe ao o conhecer, sou acordado de meus pensamentos ao ver o garoto tomando impulso para descer da cadeira.

— Ajuda papai!! – ele diz e fico boquiaberto com sua fala, o pego e volto para o quarto

— JunSeo, amanhã temos uma coisa muito importante a fazer, quero que se comporte ok? – beijo sua testa após o deitar e fico do seu lado. Ser chamado de pai me pegou de surpresa, na verdade eu não esperava por aquilo tão cedo.

O sono chega e apenas o despertador me faz acordar no dia seguinte, apronto o garoto que estava animado ao ponto de eu ter dificuldade de vestir alguma roupa ou arrumar seu cabelo mas no fim, estava tudo certo. Decido não tomar café com ele em casa então pego apenas uma mamadeira e sigo para a cada da minha mãe, através do retrovisor vejo o garoto se divertindo no banco de trás enquanto assiste a um desenho no meu celular, ele era tão fofo e meigo...
Buzinou algumas vezes para liberem minha entrada, a casa da minha mãe era grande demais para uma pessoa que morava sozinha com três cachorros. O segurança acaba me autorizando e logo passo pelo imenso portão.

— Chegamos! – olho para trás e vejo ele olhar em volta, saio do carro junto com ele e o pego no colo, eu não precisava bater na porta então logo entrei e fui a procura dela — Mãe? Cadê você ? Poderia pelo menos ter aberto a porta para mim – comento enquanto ando pela casa e a encontro na cozinha, logo sua expressão se monstra confusa ao ver JunSeo.

— Wonho....quem é essa criança ? – Ela se levanta ainda espanta e se aproxima

— Bom dia pra você também mamãe, também estava com saudades – falo sorrindo — Acho melhor a gente conversar na sala, enquanto isso vou colocar algo para ele comer pois ele não tomou café. – Me aproximo da mesa e o sento na cadeira, separo alguns pedaços de frutas, bolo e coloco suco em uma mamadeira vazia que eu havia levado. — Eu já volto, qualquer coisa é só chorar que eu venho correndo – rio e saio para o outro cômodo com ela.

— Wonho desde quando gosta de crianças ? Se eu soubesse que gostava teria dado um irmão a você.
Reviro os olhos e me sento próximo de si, respiro fundo e logo começo a falar. A cada coisa que eu dizia minha mãe se mostrava mais surpresa mas ao saber que seria avó, vi seu olho brilhar.

— Você foi irresponsável, como sempre. Mas se esse garoto for a chance de você mudar de vida, essa é sua chance. Seu pai amaria saber disso.

Assenti com a cabeça e fico pensativo com suas palavras, talvez seja a hora de eu amadurecer mesmo, ter vinte e cinco anos já não é mais uma idade que me deixe me divertir sem pensar em consequências.

— PAPAI! – JunSeo corre até mim e não me dando tempo de pensar, o mesmo pula em cima de mim

— Opa garoto, cuidado aí! Olha só, essa é a vovó – aponto para minha mãe que o chama com um gesto com a mão, coloco o mesmo no chão que caminha até ela — eu pretendo colocar ele na escola logo, mas também quero sua ajuda. As vezes acho...que ele tem medo de ser abandonado, eu não sei lidar com essa parte.

Minha mãe era psicóloga então se tinha alguém que conseguiria me entender nesses assuntos, seria ela.

— Isso é comum em crianças que perderam seus pais ou que são negligenciados, você precisa mostrar que estará sempre com ele, seja você, faça seu papel de pai e tudo dará certo. Coloque ele na escola, participe de tudo que o envolver e eu não aceito você dizer que não tem tempo.

Escuto com atenção e assenti por final, depois do almoço saio com ele para o levar em um parquinho.
— Vem, vamos ir no escorregador – retiro minha blusa de moletom e coloco meu boné, havia outras crianças no brinquedo então esperei para ele poder usar, com cuidado o coloco perto da rampa que ele desceria e o indico a segurar no ferro ao lado. — Pode descer! – falo sorrindo para ele que se solta e desce, a velocidade era tranquila para ele e o mesmo caia na gargalhada.


Repito o processo algumas outras vezes e decido o levar para o balanço, o empurraria devagar já que ele era novo demais para ser balançado com força. Conforme o empurrava devagar e escutava sua risada, eu me senti completamente fora de mim, era uma sensação gostosa e tranquilizante, uma sensação que eu jamais tive na vida, eu sabia que o caminho seria longo mas até aquele momento eu estava gostando de tudo que eu estava vendo e aprendendo.

A Man and a HalfOnde histórias criam vida. Descubra agora