Mesmo que o garoto estivesse convicto em salvar a garota, ele mesmo estava sem energia para continuar. Seu estômago e o da garota emitem o mesmo som, um barulhento e longo grunhido. Estavam ambos famintos.
Foi forçado a colocá-la no chão e fez com que ela se sentasse delicadamente.
A garota ainda estava de olhos fechados, e apenas se lembrar daquela dor era suficiente para fazê-lo sentir dor de cabeça. Isso seria um grande problema já que isso o impossibilitaria de continuar.
Ariel então decidiu sentar-se no chão. Respirava ofegante. Nunca imaginou carregando tanto peso quanto agora, o máximo que carregou naquela outra vida fora sua bolsa com seus aparelhos tecnológicos: um tablet mediano e seu notebook.
O garoto então olhou para a garota e ficou a admirando por um tempo. Ela estava sentada com as pernas cruzadas e as mãos sobre as coxas.
— Agora que vejo com mais calma, você é realmente linda — disse enquanto encarava a garota.
Isso poderia ser considerado estranho? Imoral?
Ariel gostava muito de desenhar e pintar corpos femininos, e aquela garota diante dele era realmente de seu gosto. Tudo bem que ela parecia uma versão feminina do seu próprio corpo, mas, isso só lhe intrigava ainda mais. Por acaso, Ariel tinha algum distúrbio de narcisismo? Ele negava depois de pensar um pouco sobre o assunto.
Mesmo que ela fosse bonita para seus olhos, não era uma pessoa diferente. Aquela garota era, na verdade, o próprio Ariel. Como explicar isso? Ele não sabia e até seria difícil. Nenhum jogo ou história teve algo desse tipo. Até então, o mais comum seria a troca de corpos, e não tê-los ao mesmo tempo.
Suspirava novamente.
— Quem é você? — perguntou mesmo sabendo que ela não o responderia.
Se arrastou um pouco para ficar mais próximo da garota e deitou-se ali mesmo.
Olhou para o céu estrelado.
— E onde estou?
Com tantas estrelas assim, seria impossível estar tão próximo de alguma cidade ou centro urbano. Além disso, os dois tinham acabado de sair de uma floresta. Onde diabos Ariel estava, afinal?
O céu estrelado era bonito e junto com as estrelas, havia manchas coloridas das mais diferentes cores tais como um quadro pintado a óleo. No entanto, Ariel também encarava algumas nuvens carregadas.
— É bem provável que chova... — Deu uma pausa, e se levantou apenas para continuar: — Tenho que arranjar um abrigo o quanto antes.
Ariel deu alguns passos para se ajustar quando sentiu uma grande apertada na bexiga.
"Merda, que vontade é essa de ir ao banheiro?" pensava.
Para todos os sentidos, suas sensações eram compartilhadas. Era claro que isso aconteceria e Ariel já até tinha se preparado, porém, isso seria um trabalho um pouco mais difícil do que ele imaginava. Pois, até então, era o corpo feminino que precisava ir ao banheiro.
Ele olhou para a garota que parecia se movimentar como alguém realmente desconfortável por segurar-se por bastante tempo.
Toda a situação de antes deve ter mascarado a sensação, porém, agora não dá mais para aguentar.
Ariel fechou os olhos e começou a focar sua consciência no corpo da garota.
Quando abriu os olhos, pôs a se observar. Usou as mãos para se apoiar e se levantar.
— Seria muito ruim se ela urinar nas calças —suspirava.
Agora é o garoto que está sentado. Incrível como nessa posição é como se eles estivessem meditando. A garota deu um leve sorriso e se afastou um pouco, mas, sem perder de vista o Ariel masculino.
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Eu e Eu Mesmo e um Mundo Diferente
FantasíaEssa história conta as aventuras de Ariel, um simples garoto da cidade grande, amante de jogos de Realidade Virtual e aficionado pelo corpo feminino. No entanto, não estamos mais na cidade, nem no planeta conhecido como Terra. Também não é um jogo...