Esta és uma história que se passou à muitas luas e sóis, tantas luas e sóis que necessito contar-lhe à alguém sobre o ocorrido para que eu me recorde que um dia ela já existiu. Por isso, espero que sejas um bom ouvintes, pois o que vou te contar ser...
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Zaniel velara dia e noite o corpo adormecido de Anaita, desesperado com o tempo que ela dormira sem cessar. Digo-lhe com firmeza, Anaita ficou naquele quarto por mais de três dias, e foi no terceiro dia que Zaniel começou a se desesperar. A dúvida da jovem ter falecido matutava-o a mente e, sem saber o que fazer, tudo que o monstro pensava era em aguardar.
Não se fazia por menos, meu jovem, Anaita havia sido trancafiada sem água e comida, maltratada e logo após, passou por um momento de grande estresse. E Zaniel tinha plena ciência de ser o causador de tal prejuízo. Oh, era o mínimo ele sentir o amargor da culpa.
Sentado na cadeira ao lado de sua cama onde residia Anaita, o monstro segurava-lhe a mão dela com tremor, posso até mesmo assegurar que Zaniel sentia a angústia percorrer em seu corpo maquiavélico. Nunca se sentiria tão angustiado ao ponto da pele negra se arrepiar com a hipótese da morte de Anaita.
Em desespero aos seus atos, Zaniel recorreu à sua última opção.
— Deus, Meu Pai, ouças está minha súplica, Senhor....
— Espere, estais dizendo que a criatura começou a rezar?!
— Rezar? Não meu rapaz — O velho que contava a história corrigiu — Ele orou. Sabe a diferença entre reza e oração? Para você, meu jovem, pode não perceber, mas a oração és mais forte, não se trata de algo mecânico que sempre dizemos vez após vez, se refere a algo vindo do coração.
Quando algo vem do coração, és poderoso! Por isso sabemos que devemos tomar cuidado com os desejos e pensamentos vindos do coração. Então, deixe-me continuar o relato que vos digo-lhes.
— Sei que O Senhor me ouves, Pai, por essa razão venho fazer um apelo.... Não se tratas de mim, Deus, pois sei que sou uma criatura de terror e amargura para seus olhos, não sou merecedor de misericórdia ou pena, apenas de castigo e justiça. Mas.... Deus, Cuide desta mulher, não por mim, mas pela família dela. Não porque eu quero, mas porque ela precisa viver! És jovem de mais e inocente para que O Senhor não cuide dela. Por favor Pai, por favor..... Misericórdia de Anaita, se ela morrer eu.....
— Zaniel, meu irmão, por que me fazes um pedido deste?
Zaniel arregalou os olhos escarlates.
Do outro lado da cama estava Miguel, a coroa brilhava viva como o sol em seus cabelos negros, a face pálida e os olhos castanhos como Deus havia o feito. Perfeito. Sem erros. A única criação de coração puro por inteiro. O Filho unigênito Do Senhor. E agora ele estava ali, próximo a Zaniel, como a anos não estava.
Vestido em roupas límpidas e as asas grandes, emanando seu esplendor e glória. Mesmo no quarto escuro o ambiente se iluminava com a sua áurea. Consegues imaginar, rapaz? Um Rei como aquele na frente do exilado mais uma vez?
— I-irmão.... Eu....
— Não digas mais nada, Zaniel, teu coração já diz por ti o que queres. Mas, por quê? Me digas o por quê.
