Serena

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Eu nem sequer penso em ir embora às vezes
Eu nem sequer penso em esquecer
Nem sequer pensei em ir a lugar algum
Nem sequer vejo um fim para isso
Porque estamos coletando momentos
Tatuagens em minha mente

Sometimes - Ariana Grande

— Meu pai. Ele amava a natureza e sempre ia comigo fazer trilhas, me sento aqui porquê me lembra ele. – Comecei contando ao menino do telescópio que agora sei se chamar Miguel a história por trás do porque de sentar aqui no intervalo.

Ainda estava em choque que o tinha encontrado aqui, quais eram as chances? Se eu acreditasse em destino, diria que isso era um.

— Uau, achava que era porque aqui era mais fresco. – Ele respondeu sentado ao meu lado e eu soltei uma risada.

— Bem, não é. Quer dizer, notando melhor, aqui realmente é mais fresco, isso seria um bom motivo.

— Seu motivo é mais bonito. – Ele respondeu e eu sorri assentindo. — Seu pai sabe que você fica aqui por conta dele?

— Na verdade não. Ele morreu quando eu tinha 15 anos. – Falei dando de ombros como se esse assunto não me afetasse, os anos de terapia me ajudaram a falar mais abertamente sobre.

— Uh, meus pêsames. Também perdi alguém importante e sei bem como é a sensação, sinto muito. – Respondeu e eu senti sinceridade em sua voz.

— Sinto muito pela pessoa que você perdeu também. – Olhei em seus olhos vendo mágoas não curadas ali.

— Tudo bem. – Deu de ombros desviando o olhar. — Saindo do papo triste, o que você gosta de fazer?

— Eu gosto de ler, acho que deu pra perceber. – Ri e continuei a falar. — Trabalho em uma livraria aqui perto todos os dias e você?

— Eu gosto de surfar e não trabalho.

— Surfar?! caramba, isso é muito legal, quer me ensinar não? – Falei rindo.

— Eu posso te ensinar.

— Sério? Eu estava brincando mas não recusaria aprender.

— Por mim, sem problemas. Quando você fica livre do trabalho?

— Lá pelas 17h, é quando vou pra praia passar uma horinha antes de ir embora.

— Ótimo! Ainda está claro nesse horário, que tal amanhã?

— Tudo bem, mas não esquece que eu sou iniciante e vou precisar de muitas aulas e paciência pra aprender o básico.

— Eu tenho muita paciência, a não ser que mexam na minha coleção de tickets. – Ele respondeu e eu gargalhei.

— Você tem uma coleção de tickets?!

— Claro, eles são muito legais e colecionáveis. Se encontrar tickets de alguma coisa por aí e não quiser, pode me dar. – Respondeu e eu ri concordando.

— Pode deixar.

Conversamos até o sinal tocar e voltarmos pra aula, no fim acabei nem lendo meu livro ou comido meu lanche, o tempo passou rápido demais.

...

Estava indo pra livraria de bicicleta enquanto escutava música nos fones, Sometimes da Ariana Grande tocava enquanto eu cantarolava passando pela avenida.

Assim que cheguei, guardei a bicicleta e fui entrando na livraria que já estava aberta, vi Luiza, minha colega de trabalho limpando o balcão e já fui chamando sua atenção.

– Lu! Faz muito tempo que chegou aqui? – Perguntei enquanto colocava minha ecobag na bancada e ia pegando os produtos de limpeza pra limpar tudo antes de abrir oficialmente o lugar.

— Alguns minutos Serê. Não esquece que tem algumas encomendas que não terminamos de enviar ontem e precisamos embalar. – Respondeu e eu assenti.

Comecei a limpar e organizar os livros novos que haviam chegado recentemente nas estantes, era minha parte favorita do trabalho e eu me empenhava pra que ficasse bonito e facilitasse meu trabalho na hora dos clientes pedirem algum livro específico.

Limpei tudo e bebi uma água enquanto as pessoas entravam para serem atendidas ou lerem algum título.

Quando o turno acabou comecei a limpar o chão enquanto Luiza arrumava o que tínhamos bagunçado nas estantes.

Eram 17h quando fechamos tudo e nos despedimos.

Peguei minha bicicleta e segui meu rumo de todos os dias a praia, sentei em cima da canga que sempre levo na ecobag e peguei alguns biscoitos e o livro que estava lendo atualmente chamado É Assim Que Começa.

Ouvir as ondas do mar enquanto lia era uma das minhas coisas favoritas e me acalmava, uma das coisas que a terapia me fez achar.

30 minutos depois ouvi alguém me chamar e assim que me virei Miguel vinha na minha direção com uma roupa de surf e uma prancha do lado, ele não mentiu quando disse que surfava, ri baixo e acenei para o mesmo.

— Eaí! – me cumprimentou sem fôlego e pingando água ao meu redor.

Guardei meu livro na ecobag para não molhá-lo e o respondi. — Ei! pelo visto agora nos encontraremos sempre aqui.

— Pois é. Mas já to indo embora, vai agora? posso te dar uma carona. – Falou.

— Eu não ia agora, mas recusar carona não é comigo então...– Comecei a falar e ele me interrompeu.

— Eu posso esperar você. Tava lendo né?

— Eu ia perguntar como você adivinhou mas dado os fatos de hoje acho que foi fácil perceber que ler é o que eu mais costumo fazer. – Respondi rindo e ele riu também se sentando do meu lado.

— Droga, molhei sua canga toda. – Disse e eu dei de ombros.

— Sem problemas, lavou, tá nova. – Disse e olhei pro céu. — Caramba, a lua tá linda.

— Está mesmo. – Respondeu olhando junto comigo. — Pode continuar lendo aí que eu te espero.

— Você vai pra casa molhado assim? Vai ficar doente. – Perguntei pegando meu livro de volta pra ler mais alguns capítulos.

— Esqueci completamente de trocar de roupa! Espera aí, que eu já venho. – Respondeu e eu gargalhei assentindo enquanto o via correr em direção ao carro provavelmente para pegar uma muda de roupas limpas e ir se trocar.

...

— Tem algum motivo pra você dirigir tão lentamente assim? – Perguntei já no carro com ele enquanto o guiava para o caminho da minha casa.

Eu costumava ser cautelosa no trânsito mas ele era surreal.

— Na verdade tem. Mas isso eu te conto outra hora.

— Tudo bem, até lá eu ficarei realmente curiosa. – Ri baixo.

As ruas estavam mais movimentadas por ser horário de pico e minha bicicleta estava acoplada na traseira do seu carro, a rádio tocava músicas do coldplay e eu cantarolava baixinho enquanto fazíamos todo o trajeto.

— É aqui. – Disse apontando para o meu prédio e ele assentiu estacionando o carro, tirei o cinto de segurança e desci me apoiando na janela. — Valeu pela carona, a gente se vê.

— Até amanhã Serena.

— Até amanhã Miguel.

Sorri acenando um tchau e caminhei até a portaria com a minha bicicleta do lado.

🐚 ••• Continua...

Se Eu Tivesse VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora