Capítulo 2: O Sono

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GABRIEL

Qui, 10 de março de 2022
Califórnia - Trinity, 17:54 PM

Meus braços, minhas pernas, cada parte do meu corpo dói. Não consigo me lembrar. Onde eu estou?

Tento abrir os olhos mas a luz está muito forte, não enxergo nada. A escuridão fria estava muito mais confortável. Agora que estou acordado, tomo consciência do local e percebo que, adivinha? Estou em um hospital. Quer dizer, nem dá pra perceber só pelo cheiro de éter e produtos de limpeza, né?

Sento lentamente na maca e me desembaraço dos tubos que colocaram nos meus braços. A tontura me atinge assim que tento me colocar de pé e quase caio, mas consigo me segurar em uma espécie de mesinha que estava ao lado das bolsas de um líquido que eu suponho ser soro, ou talvez algo mais forte.

É uma luta chegar até a porta, mas descobri que é uma luta maior ainda atravessar o corredor. Por que os corredores são tão longos assim? Finalmente achei a recepção e infelizmente nenhum enfermeiro me achou antes disso. Assim que as moças me viram, tocaram um sininho e apareceram mais pessoas, que por sinal falavam muito alto, eu podia jurar que gritavam, mas não podiam estar, os rostos estavam serenos e calmos e eles ficavam repetindo que eu precisava descansar, que eu não estava forte o suficiente, mas não consigui escutar o resto. Estava com muito sono e então a escuridão me envolveu em seus braços novamente.

***

Quando acordo novamente vejo um homem ao meu lado. Alto, magro e com os mesmos cabelos escuros que o meu. Um sobretudo azul escuro cobre tatuagens e mais tatuagens que saem pelas mangas do casaco e rodopiam por suas mãos carregadas de anéis. Assim que me vê acordado sua pose de macho alfa desce pelo ralo.

- Bom dia, bela adormecida! - diz apertando brutalmente minhas bochechas.

- Saiiiii!! - reclamo virando a cara - Como me encontrou? O que aconteceu? - pergunto ainda meio confuso e letárgico.

Michael me ajuda a sentar na maca na melhor postura possível sem me derrubar ou acertar os cabos ligados ao meu braço.

- Achei que você teria mais respostas do que eu, mas aparentemente nós dois estamos totalmente no escuro. Eu estava com o Fredd quando as coisas começaram a sair do controle. Lembro de você estar com Erick no outro carro quando o ataque começou mas nos separamos de vocês para dividir as forças inimigas e dar mais tempo para os reforços chegarem. Ainda não descobrimos quem foi o responsável pelo ataque, mas depois que nos separamos perdemos contato.

- Ainda não respondeu a minha primeira pergunta. Como me encontrou?

- Você deveria estar me agradecendo de joelhos por ter de achado, seu idiota! Mas não, fica aí agindo como um otário arrogante. - fala enquanto passa um braço pelo meu pescoço e usa a outra mão para esfregar meus cabelos.

- Não faz menos do que eu te pago para fazer. - provoco meio zonzo, porém feliz por estar vivo.

- Ahh, vem aqui seu imbecil, me abraça vai. Eu sei que sentiu minha falta. - fala enquanto se joga em cima de mim e me faz soltar um gemido de dor por conta das lesões. - Eu sei que no fundo do seu coraçãozinho, bem no fundo, você me ama.

- Acharam Erick também?

- Respira! Você acabou de acordar. Ainda preciso chamar os médicos para verem seu estado e você não para de fazer perguntas. Não se preocupe, teremos muito tempo pra isso mais tarde. Prometo responder todas as suas perguntas mas agora precisamos focar na sua saúde, que pelo que disseram está em péssimas condições.

***

Depois de todos os processos necessários, descobri que fiquei desacordado por três dias e isso apenas no hospital. Também me informaram que fui encontrado inconsciente e nu em uma rua qualquer.

Michael voltou ao quarto mas se recusou a falar qualquer coisa antes de todos saírem da sala.

- Eu sei que prometi te dar todas as informações, no entanto não temos muitas. Como eu disse, perdemos o contato e conseguimos nos livrar da perseguição. Depois disso procuramos por você na região mas não tinha rastro nenhum.

- Igor, eu não gosto de ser repetitivo. Já fiz minhas perguntas.

- Ahn.. - ele me olha receoso, como se estivesse analisando como eu receberia a notícia - não fomos nós que o encontramos no sentido literal da palavra. Você foi achado por uma mulher da vizinhança que chamou uma ambulância e depois disso veio a parte fácil, a identificação por digital na central de dados.

- Certifique-se que a mulher seja recompensada. O que você não quer me contar?

- Erick foi encontrado não muito longe de onde você estava. A diferença é que o estado dele é muito pior. Não sabemos se ele vai sobreviver.

- Faça o possível para impedir qualquer complicação no quadro de saúde dele. Terei alta em dois dias, até lá não quero ser incomodado. Gerencie as coisas até segunda ordem. - ordeno, estático.

- Ah, por favor. Que maldito complexo de superioridade. Sabe temos os mesmos direitos, o mesmo sangue. Pede com jeitinho que eu penso no seu caso, já estou cansado de gerenciar as SUAS coisas.

- Por favor, Michael. - peço, já cansado, mesmo tendo dormido por tanto tempo. - Quero ficar um pouco sozinho.

- Ok, qualquer coisa é só me chamar. - identifico um tom culpado em sua voz, por ter forçado a barra - Seu novo celular está ali do lado - fala, apontando a mesma mesinha branca que me apoiei da última vez que acordei.

Ele sai e eu fico ali, pensando. Igor tinha razão em ser cauteloso com a informação que tinha, Erick era meu primo mas tínhamos uma proximidade maior do que apenas o sangue correndo em nossas veias. A notícia que ele poderia não sobreviver ao acidente/ atentado me afetou mais do que eu demonstraria a qualquer pessoa. Sabia que também afetava muito Michael, e que essa breve interação entre nós era apenas fingimento.

Uma última pergunta passou por minha cabeça mas meu irmão já tinha ido embora e eu não tinha vontade o suficiente nem para pegar o novo celular. Por que eu fui encontrado nu?

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