A manhã seguinte trouxe uma nevasca que durou o dia inteiro.
Depois do café da manhã, que transcorreu quase em silêncio completo e que ela ficou feliz por ter terminado, Irene Redfield se deixou demorar um pouco no vestíbulo, observando os flocos macios que caíam e flutuavam. A mulher os via preencher algumas irregularidades feias deixadas por pedestres apressados quando Zulena foi até ela, dizendo:
— O telefone, sra. Redfield. É a sra. Bellew.
— Anote o recado, Zulena, por favor.
Embora tenha continuado a olhar pela janela, Irene agora já não via nada, trespassada como estava pelo medo — e pela esperança. Teria algo acontecido entre Clare e Bellew? Se sim, o quê? Será que por fim estaria livre da dolorosa ansiedade das últimas semanas? Ou haveria mais? E ainda pior? Ela teve um momento de dúvida em que pareceu que o melhor seria correr atrás de Zulena e ouvir por si mesma o que Clare tinha a dizer. Mas esperou.
Ao voltar, Zulena informou:
— Ela disse, senhora, que conseguirá ir hoje à noite à casa da sra. Freeland. Estará aqui entre oito e nove horas.
— Obrigada, Zulena.
O dia se arrastava para seu fim.
No jantar, Brian falou amargurado sobre um linchamento que soube pelo jornal vespertino.
— Pai, por que só lincham gente de cor? — perguntou Ted.
— Porque eles odeiam os negros, filho.
— Brian! — A voz de Irene era uma súplica e uma censura. Ted disse:
— Ah, e por que odeiam os negros?
— Porque têm medo deles.
— Mas o que leva as pessoas a ter medo dos negros?
— É que...
— Brian!
— Aparentemente, filho, este é um tema que não podemos abordar no momento sem incomodar as mulheres da família — disse ele ao menino com uma seriedade zombeteira. — No entanto, continuaremos quando estivermos sozinhos.
Ted assentiu com sua seriedade cativante.
— Entendi. Talvez a gente consiga conversar amanhã no caminho para a escola.
— Vai ser ótimo.
— Brian!
— Mãe — falou Júnior —, é a terceira vez que você diz "Brian" desse jeito.