14- Sangue azul

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                                                       (Capítulo especial de Fei Shun) Part 1


   Suor brotava de todos os seus poros, choques de pavor eram distribuídos por seu corpo e ele se encolhia subitamente.

Sua mente estava presa naquela vida novamente, quando tudo era difícil mas parecia ser muito mais fácil do que agora, seu pesadelo estava mais vivo do que nunca.

Sua mãe havia morrido durante o seu parto então ele nunca a conheceu, naquela época, seu pai havia enlouquecido devido a sua imensa perda e ao peso de criar uma criança sozinho. O seu avô o imperador oferecia todas as empregadas possíveis, mas seu pai nem precisava vê-las antes de recusar todas. Dizia que não queria nenhuma figura materna perto de seu filho para não criar uma visão turva na criança e um laço um tanto quanto desnecessário.

Quando tinha 5 anos, já falava feito um tagarela e frequentava as aulas junto às crianças da região, era uma criança muito inteligente, trazia alegria constante ao seu velho avô e ao seu pai que parecia aos poucos estar enlouquecendo. O homem às vezes se pegava rindo para o nada, outras vezes parava no tempo, olhava fixamente para algum lugar por longos minutos, algumas vezes andava por aí conversando, fazendo juras e promessas. quando alguém o perguntava com quem ele estava conversando, dizia ser sua falecida esposa. O único filho vivo do imperador havia mesmo se tornado um louco.

Uma vez acordou desnorteado se perguntando onde estava, olhou para o próprio filho e perguntou quem era ele, ali foi o cúmulo da sua doença.

O imperador procurou pelos melhores médicos, e foi atendido pelo curandeiro Li, o pai de Li Cheng-Gong que lhe deu o laudo de doença incurável.

Claro que poderiam amenizar seu sofrimento e prolongar sua vida, mas uma hora ou outra aquilo seria o responsável por levá-lo ao túmulo.

A grande reviravolta na vida da criança foi feita naquele momento, sua felicidade foi destruída, os laços entre ele e seu avô, seus colegas e professores foi totalmente quebrado quando seu pai resolveu abandonar tudo para viver nas montanhas, não tendo a permissão do imperador, pegou sua criança e fugiu no meio da noite.

Dali se iniciou os traumas na cabeça de uma criança de 5 anos, vivendo e vendo apenas a natureza, as árvores e o céu, com a companhia de um homem novo que às vezes passava o dia sem saber quem era a criança com ele.

Ele deixou tudo para trás, se libertando de qualquer riqueza e laços familiares, estava disposto a morrer sozinho no meio do mato, o que demorou poucos anos para acontecer.

Quando Fei Shun completou dez anos, o seu pai veio a falecer, deixando-o sozinho com a companhia do vento e de um cadáver.

O imperador Fei que passou todos esses anos vigiando seus únicos familiares vivos de longe, só notou que algo estava errado dois dias depois, mas ao entrar pela primeira vez naquela casa, a única coisa que encontrou foi um cadáver começando a feder enrolado em lençóis sobre a cama, o menino havia desaparecido.

O choque que o homem de idade avançada tomou era mais pelo desaparecimento da criança... ele já havia perdido sua esposa e muitos filhos ao longo de sua vida, pensar que o único que carregava seu sangue correndo em suas veias tinha onze anos e havia sumido o deixava muito preocupado. O apreço que sentia pela criança era imenso, foi o único neto que teve a honra de ter, não aceitava de maneira alguma o destino tentar separá-los. Todos os anos deixando guloseimas e presentes na porta de sua casa em seus aniversários e datas importantes foi a única maneira de mostrar sua preocupação, a última forma que conhecia para mostrar que nesses seis anos separados, ainda havia algo que os conectava, ainda tinha uma ligação de sangue e consideração, que poderia estar perdido para sempre agora.

Still Hurts ( O Quanto As Lembranças Podem Ser Selvagens?)Onde histórias criam vida. Descubra agora