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— você precisa ter paciência se não quiser morrer, idiota. — Vance diz bravo.

— olha só quem está falando. — Billy debocha.

Bruce se ajoelha ao meu lado, tentando ver se estava tudo bem. Mas nem eu sabia disso. Fisicamente fodida e psicologicamente aterrorizada. 

Ele coloca meu cabelo atrás da orelha e me cutuca. Sua respiração era pesada.

— Zoe, está tudo bem? — ele pergunta. Sua voz era sentimental e leve.

Me esforço ao máximo para me mexer.

— completamente quebrada, mas estou bem. — digo e dou um sorriso doloroso. Meu rosto doía, assim como o resto do corpo.

— você estava só fingindo dormir?

— quase. Talvez eu estivesse um pouco apagada mesmo. — digo. Muito piadista.

Me remexo no colchão, e Bruce me ajuda a me sentar. Com muita dor e sofrimento consigo ficar sentada no colchão. Examino todos que estavam ao meu redor.

Sinto um aperto no coração.

— uau...— digo baixinho. — não sabia que tantas crianças estavam por aqui. Por que não havia cartazes nas ruas?

— porque as pessoas não se importam. — Vance disse duro. Ele estava com os braços cruzados até o peito e com sua cara marrenta de sempre.

Billy deu um tapinha nele.

— as pessoas se importam, mas já faz muito tempo. Elas apenas aceitam que partimos para nunca mais voltar. — Billy diz me encarando. Era difícil entender a expressão dele.

— não me lembro de ter visto sobre você, Billy. Mas sei que não te vejo a quase uns três meses. — digo. Billy costumava entregar os jornais toda manhã, e era sempre para mim que ele os dava.

Billy encarou o chão enquanto suspirava.

— fui sequestrado a exatamente quatro meses. Estou nesse inferno, suportando tudo isso e sei que não irei sair daqui com vida. Já aceitei isso, e acho que as pessoas lá fora também. — ele diz. Seu tom não era triste, apenas direto. Ele parecia não estar com medo.

Bruce segurou minha mão.

— você sabe da verdade, Zoe. — ele sussurrou para mim.

Sim, eu sei que posso salvar eles. Mas não sei como.

— o que é que você disse, bafo de pica? — Vance perguntou ao ver Bruce sussurrando para mim.

— que conviver com você é pior do que conviver com o sequestrador.— digo. Sinto minha garganta doer, mas disfarço. Era melhor ficar quieta.

Vance ficou me encarando, talvez pensando se deveria cometer um feminicidio ou ficar no canto dele. Acho que ele preferiu a segunda opção, pois logo deu alguns passos para trás.

Ouço um barulho vindo de um canto. Um gemido e um gritinho.
Tento me levantar, mas Bruce me para.

— é melhor você ficar aqui. — ele diz, se levantando e encarando os meninos.

— o que foi isso? — pergunto.

— não foi nada, não precisa se preocupar. — um garotinho diz ao meu lado.

Ele era tão novinho.

— é comum barulhos estranhos por aqui. O cheiro ruim também. Você se acostuma. — ele diz. Era um cheiro podre.

— algum bicho morreu por aqui? — pergunto com uma careta. Fedia mais do que quando era apenas uma alucinação.

Eles se entreolharam. Bruce tinha ido pra algum lugar atrás de uma parede, um outro cômodo.

— talvez pior. — Billy diz sério. O que poderia ser pior do que um bicho morto?

Um corpo morto. Penso e sinto um calafrio.

— nós não somos as únicas crianças aqui. Quando eu disse que não imagino que sairei daqui com vida, eu estava falando sério. — ele diz. Sua voz tão distante quanto sua mente.

Fico quieta, pensando. Ainda não tinha entendido nada.

— o que isso significa? — pergunto encarando Billy.

— que tem uns sete corpos em estado de decomposição ali no canto. — Vance tomou a partida. —  Dois já estão só a pele, três estão cheio de bichos e estão despedaçados, e um morreu porque estava sentindo o cheiro dos corpos a mais de um ano e então ficou doente. Sei lá que porra aconteceu. E o outro foi esfaqueado antes de ontem.

Arregalo os olhos. Ele falou tudo isso de forma tão dura que parecia até normal.

Talvez fosse normal. Normal para eles. Penso.

— esfaqueado? Quem foi esfaqueado? — pergunto.

— Corey. Seja lá quem caralhos era esse menino, ele é um idiota. Chato pra caralho. Deveríamos deixá-lo morrer, mas bala Finney tenta ajudá-lo. — Vance diz revirando os olhos. Sinto uma coisa no coração.

Finney. Penso.

Tento me levantar, mas fraquejo e caio de joelhos. Billy segura meus ombros.

— não se mexa, fique aqui. O efeito do spray dura muito e só vai piorar se você tentar lutar contra ele. — ele diz, me colocando no colchão.

— eu preciso ver Finney, preciso ver se ele está bem! — exclamo.

— Finney? Ele está bem, é esperto. Não se preocupe com ele, se preocupe com você. Descanse. — Billy diz.

Como eu iria descansar?
Porra.

— ei, vocês podem me dar uma ajudinha aqui? — Finney aparece, com a mão e a roupa cheias de sangue.

— Finney...— digo.

Ele olha para mim. Seus olhos com um brilho doloroso.

— Zoe...que porra. Eu jurei que você fosse fazer alguma merda e escapar.



—🗞️

Demorei porque estava muito ocupada esses dias.

with me? - Finney Blake & Zoe Becca YamadaOnde histórias criam vida. Descubra agora