As Paletas de Hermys

Novo dia. Nova vida

"Abra as janelas", foi o que Hermys disse para si mesmo, empolgado, afastando as cortinas e colocando as mãos na cintura em posição de glória. O Sol atravessava a janela, e os raios de luz iluminavam seu rosto e as penas de suas asas. Era um novo dia nascendo, e para Hermys, cada novo dia era como uma nova vida. Para ele, era balela a ideia de que todos os dias eram iguais. E estava certo, pois apesar da rotina, cada dia tem suas particularidades. Hermys colecionava histórias — se quisesse, poderia ficar dias jogando suas aventuras para quem quisesse escutar. E aquele dia seria uma peça importante para a sua coleção.

— Amoru, acorda esse bebê. O soninho dele já estourou o relógio — disse Hermys, terminando de fazer o café da manhã.

Bom, você pode pensar que este é o deus Hermes! Totalmente errado, meu amigo. Mas fique tranquilo, todo mundo confunde de alguma forma, ele já está até acostumado. Este que estamos acompanhando aqui é o kromita Senhor dos Portais.

Hermys é um ser mágico responsável por monitorar as dimensões e, principalmente, buscar os Prismas pelo planeta. Mas ok, eu já entendi que talvez você esteja ficando um pouco mais confuso... Muitos nomes diferentes e informações avoadas. Entendo perfeitamente. Vamos fazer assim: durante a história, vou explicando cada frase e palavra curiosa que aparecer. Por enquanto, vamos continuar logo para que a gente não se atrase.

Amoru foi em direção a Ítalo, pensando no que poderia fazer para acordar o jovem que dormia com sua (grande) boca aberta. Teve uma ideia: pular na barriga! Então, se preparou para um forte pulo, que deu logo em seguida. Pareceu um meteoro quando caiu em direção à barriga do dorminhoco. Quando chegou em seu alvo, foi ricocheteado para trás ao acertá-lo, batendo na parede e caindo de cabeça para baixo. Rapidamente levantou-se e, como se nada tivesse acontecido, foi averiguar se o indivíduo havia acordado. Mas, para a sua surpresa, não acordara.

E quem é esse determinado ser que chamamos de Amoru? Eu vou te contar! Quando Hermys ainda era muito jovem, gostava de caminhar pelas florestas de Deuriga. Não posso negar que era uma atividade muito agradável — quando ia nos lugares certos, obviamente. Enquanto colhia amoras, Hermys encontrou na floresta um pequeno filhote felpudo e roxo, com leve degradê de magenta, azul e verde em sua pelagem. Conseguia ver também pontos brancos que assemelhavam-se a estrelas espalhados por seu pelo. Estava todo encolhido como se sentisse frio, e solitário sem o amparo de seus pais. O animal parecia uma raposa cósmica. Hermys pegou algumas das amoras que havia colhido e agachou-se, tentando cativá-lo. O pequeno estranhou, mas depois de alguns segundos devorou as amoras e agradeceu a Hermys com carinhos. Hermys resolveu então adotar Amoru, e o nomeou em homenagem às amoras que eles tanto amavam. Os dois cresceram juntos e tornaram-se inseparáveis.

Amoru franziu a testa e subiu novamente na cama. Era uma cama de madeira muito confortável, e o colchão dispensava comentários. Irritado, o animal começou a bater com suas patas no rosto do que não acordava. Puxou suas meias e nada. Passou sua cauda felpuda pelo nariz dele, que nem sequer espirrou! Amoru já estava ficando cansado. Havia dado tempo de Hermys aprontar o café, e ele então se dirigiu ao quarto para conferir se Ítalo já estava acordado.

— Ainda não acordou? Não te falei para acordar ele, Amoru?

Amoru franziu a testa e cruzou suas patas dianteiras, mas com isso perdeu o equilíbrio e caiu da cama. Hermys logo entendeu que o jovem dormia feito pedra. Olhou surpreso para Ítalo e teve uma ideia que poderia dar certo... bem, não custava tentar.

— Se ele não acordar agora, chama a ambulância. — disse Hermys, rindo.

O kromita começou a bater suas asas, e a cada segundo elas agitavam-se com mais rapidez. A velocidade aumentava e o quarto ficava cada vez mais bagunçado. Folhas voavam, potes de lápis eram derrubados e a roupa de cama caía no chão. A cortina dançava freneticamente no ar. O pequeno Amoru se escondeu debaixo da cama, com medo de ser acertado por algo, e por lá manteve-se protegido. Quando parecia que o quarto não poderia ficar mais bagunçado, Ítalo foi jogado para fora da cama a uma distância grande, no meio de várias folhas.