II. Mais do que um rostinho bonito

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Duas semanas haviam se passado desde o início das aulas e a cada oportunidade que tinha, Joy se esquivava e trocava de corredor. Mesmo quando o sino já havia tocado para o horário da próxima aula, ela dava um jeito de se enfiar no banheiro feminino mais próximo. Uma vez, sem perceber, acabou entrando no banheiro masculino e viu coisas que não gostaria de ter visto. Quer dizer, talvez sim, mas não naquela ocasião.

Tudo isso para evitar Yook Sungjae. Mais conhecido em seus pensamentos como cabeça de cenoura, por conta dos seus cabelos recentemente ruivos. E ela odiava cenouras. Já tinha encarado tanto aquelas madeixas alaranjadas esquisitas que estava até evitando usar laranja ultimamente, pois se lembrava de cenouras. Os dois tipos.

Quer dizer, não que ela ficasse o secando com os olhos ou algo do tipo para enjoar tanto daquele tom laranja. Na verdade, ela o fulminava com os olhos no momento que seu campo de visão o alcançava. Ódio, ela sentia puro ódio daquele garoto, além de ódio da própria família. Afinal, eles estavam no século XXI, a garota nunca havia vivenciado algo tão antiquado e patriarcalista ao mesmo tempo.

Porém, o mais bizarro de tudo, de acordo com seus devaneios, não era o fato dela ser obrigada (ou melhor, coagida) a usar um anel no dedo naquela idade. O mais bizarro, irritante e enlouquecedor daquilo tudo era que ele não a encarava da mesma forma. Seus olhos não tinham fogo: eles eram gentis.

No refeitório, quando Joy desgrudava sua atenção do Instagram e erguia a cabeça, enquanto estava sentada coincidentemente em uma posição que permitia a troca de olhares com o Yook (e estranhamente, os seus focos sempre se encontravam), ele a fitava de forma serena. Às vezes, ela imaginava que tinha presenciado até mesmo o início de um sorriso, ao passo que suas sobrancelhas se juntavam acentuadamente na testa, devido ao estranhamento da situação.

Além de tudo isso, tinha que suportar Jennie e Jongin debatendo sobre a sua aposta de idiotas. Sim, de idiotas, porque a partir do momento que a celebridade do Royal J, como Jongin gostava de identificá-la, não fazia parte da diversão, tudo aquilo se tornava automaticamente chato. Às vezes a conversa se tornava interessante quando os dois começavam a discutir como gato e rato e Joy tinha até vontade de gravar aquilo tudo, porém ao vivo era bem melhor. Frequentemente, a Park sentia uma corrente elétrica percorrendo pelo recinto enquanto os dois se alfinetavam, havia uma certa química entre eles, era verdade. Porém, os dois circulavam tanto na zona de melhores amigos, aqueles que um não vive sem o outro, que achava difícil que pudesse existir algo a mais entre os dois.

E entre toda essa confusão, o lado bom era que, para atualizar suas redes sociais constantemente e engajar o conteúdo, não sobrava tanto tempo assim para pensar no seu noivo prometido ou aposta de colégio. O que deixava tudo mais fácil é que ela gostava daquilo: se comunicar com pessoas, influenciar estilos, ser um ícone da moda... Assim, ela se sentia útil de alguma forma para a sociedade. Afinal, não tinha afinidade com estudos, não poderia ser herdeira da LOTTUS Cosmetics, empresa do pai, então ela tinha que ser boa em alguma coisa, e Park Sooyoung era muito, muito boa em ser uma influencer.

E, depois de um longo dia de aula, tudo que ela queria era estar em frente à sua ring light, maquiada e com um look que ela tinha montado. Essa era a sua definição de tarde perfeita e era isso que estava fazendo nesse exato momento. Hoje, ela iria fazer uma resenha sobre a nova coleção de outono da TODS, uma das suas marcas favoritas.

Era disso que ela gostava: falar sobre moda, maquiagem, produtos capilares... poderia parecer fútil para algumas pessoas, não que ela fosse muito de se importar com opinião alheia, mas tudo isso para ela era algo diferente. Para a Park, moda e maquiagem são formas de expressão: representam seu humor; seu estilo pode ser associado a sua personalidade; uma peça de referência a alguma celebridade pode indicar seus gostos, preferências... Naquela mente criativa, a coisa mais coerente do mundo seria repassar tudo aquilo que ela pensava para outras pessoas.

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