VI. O segundo lugar é o primeiro a perder

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Durante todo o trajeto de carro até a escola, Joohyun permaneceu imóvel, como se um fio invisivel segurasse a sua coluna ereta e rígida no banco do carro e suas pernas e mãos estivessem grudadas por uma cola. A Bae não moveu um músculo sequer, apenas fixando seu olhar em um ponto desfocado na paisagem.

Sentia seus olhos pesarem e uma forte dor de cabeça. Não havia dormido quase nada durante o final de semana. Quando conseguiu descansar na madrugada de segunda, às 4h da manhã, o horário para acordar novamente e se aprontar para a aula já estava próximo. Sentia que estava carregando sua própria existência nas costas, como se um tropeço fizesse todo o restante desabar.

A sua última sexta-feira se concretizou como a pior do ano, assim que chegou em casa e teve que comunicar a sua posição no ranking aos pais. Sabia exatamente a enxurrada de acusações que iriam se acumular em seus ouvidos, pois já tinha proferido as mesmas palavras a si mesma mentalmente. Não ficou de castigo, porém as humilhações verbais foram o suficiente para que ela desejasse ser privada de contato ao celular. Foi o inferno em sua materialização.

Na manhã de segunda, evitou encontrar com os royals, pois não queria ter que fingir calmaria, quando sabia que era péssima em mentira e sua cara dizia tudo. Tentou passar a maior parte do tempo antes do primeiro período enfurnada na biblioteca, em uma poltrona verde no canto da parede, atrás de uma longa estante. Esperava não ser encontrada.

A não ser pelo seu melhor amigo:

— Joohyun? — Jungkook encarava-a preocupado, com a sobrancelha direita elevada.

Rapidamente, a mais baixa pulou do assento e um ato de desespero — sentimento o qual nem sabia que estava mantendo dentro de si — o envolveu em um abraço, pressionando seus músculos magros contra si.

— Jungkoo, eu... — parou no meio da frase, percebendo uma mancha irregular na face do amigo, coberta em falhas por alguma camada de maquiagem. Passou o polegar no local arroxeado, percebendo que se tratava de um hematoma assim que a base transferiu para seu dedo após esfregar algumas vezes. — Meu Deus...

Joohyun sentiu seus olhos lacrimejarem. Não precisava perguntar, já sabia o que tinha acontecido. Não era a primeira vez, porém ela nunca tinha visto o machucado em um lugar tão visível quanto aquele.

Respirou fundo, engolindo as lágrimas que teimavam em sair e piscou os olhos repetidamente. Infelizmente, esse bloqueio emocional era mais um trauma que os dois amigos compartilhavam.

— Vamos. Eu te ajudo a cobrir isso, essa base não é do seu tom. — Joohyun apertou a mão do mais alto, tentando passar alguma confiança que ainda restava em si para ele.

Ela tirou uma base e pó de dentro da sua bolsa: felizmente os dois possuíam o mesmo tom de pele. Tentou ajeitar os locais em que a cor destoava e depois não falaram mais sobre isso. Eles se conheciam bem o suficiente para saber quando o outro precisava de silêncio e espaço.

Quando chegaram na sala, juntos, Joohyun avistou Jennie, que deu um aceno. Ultimamente, sentia que sua melhor amiga estava mais estressada do que o normal. Vivia irritadiça e sensível, não sabia se era por causa da briga entre ela e Jongin ou algum outro motivo. Apesar do erro tremendo do Kim, Joohyun sabia que eles tinham que se resolver logo, porque apesar de todas as desavenças e xingamentos, eles não eram os mesmos quando estavam intrigados. Os dois sentiam falta da companhia um do outro, na sua opinião, apenas jamais admitiriam.

Bae sentou-se no lugar de sempre, primeira cadeira da segunda fileira. Infelizmente, Kim Junmyeon já se encontrava na sala e ela conseguiu ver a sua expressão provocativa pelo canto do olho. Hoje, ela não estava nada a fim de bater boca com aquele idiota. Já não estava bem o suficiente sem ter que escutar suas falas irritantes e torceu mentalmente para que ele a deixasse em paz, pelo menos neste dia.

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