O conto da gaiola vazia

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Anna era uma garota curiosa, doze anos ainda tinha muito o que ver e viver, era distraída e divertida, gostava de passar quase todo o tempo em seu mundo, gostava de pássaros... amava pássaros. Eles eram lindos e livres pra ver e fazer o que quisessem, Anna gostaria de ser um para abrir as asas e voar pra longe, quem sabe algum dia voltasse. Seus cabelos ao vento e seus olhos fechados apenas sentindo o vento bater.
Ela e sua irmã passavam por uma feira de adoção, Anna parava pra brincar com os cachorrinhos divertidos e os gatos manhosos, mas nenhum pássaro. Hamisters, peixes... sem aves. Anna estava desistindo de procurar e cansada de andar quando ao fim da feira, bem ao fim, viu uma linda gaiola de ouro com um lindo pássaro também dourado dentro. Ele cantava e abria as magníficas asas, o bicho a chamava, chamava o seu nome incessantemente. Ele era era perfeito, surreal.
A menina chamou o atendente da feira dizendo que queria aquele bicho mas ele abriu um grande sorriso e disse que não havia pássaro apenas a gaiola. Anna insistiu e chamou sua irmã dizendo que queria o pássaro dourado mas a maior também disse que não havia animal algum. O bichinho ainda a chamava, clamava seu nome pedindo por ela. Anna estava ficando impaciente, ela queria o pequeno animal e iria leva-lo às pessoas só podiam estar brincando consigo! Como não viam, como não ouviam os pios incessantes do pequeno animal, ele estava ali bem em frente, estava sim.
Ao fim sua irmã disse que ia levar a gaiola se era o que ela queria e a menina ficou feliz por poder levar o bicho mas com raiva da irmã por dizer que não via o pequeno e majestoso pássaro ali, que agora estava quieto no pequeno balanço de madeira por dentro das finas grades de ouro. Suas asas tinham pequenos traços prateados e seus olhos eram prata também, era lindo, diferente de qualquer outro, não tinha como os outros não o estarem vendo ali. Ele chamava toda a atenção da menina, tirava-a de seus devaneios a fazendo focar apenas nele.
As meninas chegaram em casa e Anna colocou a gaiola em sua bancada chamando a mãe. A mesma disse que também não via a pequena criatura e pediu a Anna que parasse de brincar, ela começou a se questionar se estava ficando louca, mas o pássaro estava ali parado a olhando sem nem piscar, interessado nela como ninguém antes. Ela se sentia confortável e acompanhada, amada demais. Semanas se passaram e Anna continuava a cuidar do animal, toda vez que ela saía ouvia o mesmo a chamando de volta, dizendo seu nome. Na escola, na rua, em qualquer lugar, todos se recusavam a dizer que o pássaro estava ali mas Anna sabia que estava, o escutava cantar toda manhã, abria suas asas toda noite e a chamava o dia inteiro.
Um dia Anna voltou ao quarto, seu dia fora estressante demais, estava triste e tinha apenas seu bichinho ali com as asas abertas como toda noite pedindo pra sair. Ela sempre ficara com medo de abrir a gaiola e ele voar pra longe e não voltar mais mas hoje ela abrira e o pássaro voou. Voou pela janela e pousou num galho da árvore a frente, a encarou com seus olhos prateados, impecáveis como suas penas, Anna fechou os seus imaginado como seria voar, ficar livre dos problemas, livre de tudo.
Antes que reparasse já estava de pé na janela do sexto andar, o pássaro a chamava, cantava seu nome cada vez mais alto. Ela deu um passo a frente, se jogou, caiu, sua mente parou de funcionar por um tempo apenas ouvindo o canto do pássaro dourado que ficava cada vez mais distante até sumir. Ela abriu os olhos em desespero apenas para ver o pássaro pousado no dedo do atendente da feira de adoção que abriu a mão e esmagou o pequeno, mas o bicho não estava mais ali. Agora ele era apenas uma rala nuvem dourada de pó que desaparecia no ar com o vento como se não tivesse sido o majestoso pássaro que acompanhara Anna e a levara a se jogar do sexto andar. Talvez não fosse, não era, poderia ter sido apenas imaginação da menina.
A gaiola realmente estava vazia.

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