ONDE VOCÊ ESTÁ, AMOR?
Maurício olhava pela janela do apartamento onde morava com sua mãe, num bairro mais simples que a bela casa, no condomínio de luxo. Olhava para o movimento dos carros e ônibus que iam e vinham no frenesi do trânsito, com seus ocupantes totalmente alheios ao que se passava na mente ao garoto de cabelos cacheados, com um cubo nas mãos. Mesmo assim ele ficava olhando, já que não tinha nada pra fazer, além de só observar o mundo lá embaixo. Vidas e destinos, com seus pensamentos e anseios
Soltou um longo suspiro. Era o terceiro em menos de uma hora. Seu único pensamento era o motivo de Otávio ainda não ter entrado em contato com ele, depois de todo aquele tempo.
- Filho, quer beber um refrigerante? Você está já faz um tempo nesta janela. – Letícia tentava em vão tirar seu filho daquele mutismo. – Quem sabe uma volta de bicicleta? Hum?
Ele se virou na direção dela e nos seus lábios curvou-se um arremedo de sorriso.
- Estou bem assim, mãe. Só quero ficar sozinho, por favor. – Virando de volta para a vida movimentada, lá fora.
Já haviam se passado alguns meses, desde que Fernando, o detetive corrupto fora preso com os demais cúmplices, onde os advogados conseguiram provar que Otávio era totalmente inocente. Tinham provas irrefutáveis, onde colocavam seu pai no olho de um furacão de sonegação, corrupção e lavagem de dinheiro. Aquilo não era novidade para ele, pois sempre achou que a vida abastada que levavam não era condizente com o cargo do pai. Sempre desconfiou que seu pai estava metido em coisas desagradáveis, mas quando tudo veio à tona, não imaginava que seria bem maior do que imaginava. Sua mãe, como era esperado, se separou dele, se instalando com o filho, num apartamento elegante, mas simples, perto da ostentação em que morava, parecia algo longe da realidade com que ela estava acostumada.
Maurício ainda estava tentando se acostumar com as mudanças no cotidiano. Não que fosse complicado para ele, pois preferia aquela simplicidade do que viver sustentada por mentiras. Já sua mãe, acostumada com todo aquele luxo, não conseguia perdoar o marido e se adaptar à nova realidade. Vivia reclamando, bebendo e falando mal da vida de alguém para as raras amigas que ainda não haviam abandonado.
- Nossa vida há de melhorar, meu filho! Não vou me sujeitar a esta vidinha ordinária!
Ele olhou na direção da mãe, que pegava o celular, para poder falar com alguém, inventando alguma mentira, para justificar as cagadas do ex marido. Ele sacudiu a cabeça, sem responder, voltando sua atenção para o trânsito, soltando outro suspiro. Até aquele momento, tentava manter a calma e confiar em Carlos, mas já estava começando a se sentir totalmente vazio por dentro.
De repente, veio à tona a imagem da sua bondosa avó. Isto o fez sorrir, saudoso. Se não fosse a herança dos avós, provavelmente ele e sua mãe teriam que procurar um emprego. Até que curtia a ideia de se ocupar e ter seu dinheiro, do próprio trabalho, mas para a dona Letícia, aquela palavra tinha o peso de toneladas sobre os ombros. Olhou o cubo de resina nas mãos e percebeu que a pele do seu dedão estava com um vinco, de tanto que ele alisava a borda fina.
"Onde você está, amor?" – Pensou, tristonho.
Por alguma razão desconhecida, algo chamou sua atenção. Um carro que ia estacionando bem em frente ao edifício em que estava. Franziu a testa, curioso sem saber o que havia chamado tanta sua atenção. Afinal, era apenas um carro comum, estacionado numa vaga naquela rua movimentada. Maurício ficou interessado em ver quem estava no interior daquele carro. Atrás dele, a voz da mãe tecendo seu rosário de mentiras. De repente, seus olhos se fixaram num detalhe. Os cabelos lisos e muito negro do motorista. Forçou os olhos, para ter certeza que não era sua mente lhe pregando peças.
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POR VOCÊ
Romance🥇 primeiro lugar concurso Escrita Perfeita Categoria: Romance LGBTQIA+ 🥉 Terceiro lugar concurso Jane Austen, Categoria: Romance LGBTQIA+ 🥉 Terceiro lugar concurso Cósmico 2° edição Categoria LGBTQIA+ -ˋˏ ༻✿༺ ˎˊ- Otávio busc...