Capítulo 2

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PoV Vegas

Dentre todas as situações que eu não esperava, tais como engravidar alguém, bater em idoso e virar presidente, ter Pete sentado em minha frente comendo alegremente seu red velvet e falando sobre como o clima era agradável me deixou no mínimo confuso. O teor da mensagem pareceu ter sido esquecido e agora só restavam os gemidinhos satisfeitos que grudariam no meu cérebro como um mantra alugando um triplex por semanas.

—Isso é tão bom, não consigo pensar em nada melhor!— Ah, eu conseguia. Minha cabeça oferecendo idéias que não apareciam durante um projeto da faculdade. Criatividade seletiva de merda.

—Sim, parece estar incrível.— Concordei por educação e como um anjo que era ele pegou um pedaço e me ofereceu. Talvez eu devesse trocar o meu nome para S/N agora mesmo.

Me deixem dizer uma coisa, eu entendo pessoas que não gostam de atenção, cuidado e carinho, eu também não gosto. É que é o Pete! Com aquele sorriso e olhos de meia-lua, a atitude fofa e a voz mais aguda quando se empolga. O Pete que tem um sotaque adorável quando fala inglês e parece nunca reclamar por pior que seja a situação. Quando ele aproxima a colher para me alimentar eu só posso aceitar igual um garotinho de quatro anos.

—É realmente delicioso.— Elogiei porque ele parecia estar esperando isso. Tomei um gole do meu café e resolvi ir para o assunto.— Pete, sobre a mensagem. Você está com problemas?

O semblante dele se tornou apático, ele deixou o bolo de lado e pareceu ponderar por onde começar. Suas bochechas ficaram rosadas a medida que ele tentava dizer qual era o problema e eu rezava para que isso não fosse uma confissão, eu não estava preparado e nem com a roupa certa pra isso.

—Estou apaixonado, Vegas...— Certo, sem pânico. Nada de pânico, fique calmo, fique calmo em nome dos sete infernos.— Quero que me ajude e ensine a conquistar a Blan, seja meu tutor.

O brilho de alguém nunca sumiu tão rápido quanto o meu.

A escola de atuação me devia um diploma e a academia de cinema me devia um Oscar, porque permanecer com cara de tacho depois da reviravolta interna que as falas de Pete me deram foi um esforço apocalíptico. A playlist mental da minha pequena — enorme, grandiosa, estrondosa— ilusão já estava tocando, ou era só aquela atendente desgraçada colocando Slow Dancing in the Dark numa quarta-feira, seis e meia da noite. Sinceramente. Fiz oque qualquer pessoa com amor próprio e um pingo de juízo faria.

—Claro, quando quer começar?

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—Então você está me dizendo que aceitou ser coach de cantada para o cara que você gosta pegar a garota que ele gosta?— Tay questionou sentado ao meu lado no refeitório, nossa aula vaga e minha depressão me arrastaram até aqui com dois dos meus melhores amigos.

—Não vou ser coach, coisinha.— O loiro riu se apoiando no meu ombro e deixando a cabeça por lá mesmo. Kim ergueu uma sobrancelha para nós dois, mas preferiu beber seu chá.

Nititorn Tay foi um amigo que fiz durante o vestibular e Kim Kimhan Theerapanyakul é o primo que eu mais gosto sendo ele o único que não tem problema psicológico visível. Tankhun é uma alegoria fora de época e Anakinn desconhece o dialeto humano que não envolva Porsche. É questão de preferir o menos pior.

—Fofo da sua parte fazer caridade desse jeito, deu um belo presente para o Pete, já pode se vestir de Papai Noel nesse Natal, Vegas.— Olhei fixamente para Tay por dois segundos.

—E você de alce, o chifre já tem.— Ouvi Kim engasgar uma risada com o chá, muito bem feito.

—Filho da puta.— Retrucou Tay se afastando de mim e indo mexer no celular.

—Não mentiu.— Confirmei o óbvio. Debruçar sobre a mesa do refeitório e lamentar parecia a coisa mais sensata a se fazer ao invés de buscar soluções viáveis.— Eu só queria que ele fosse meu.

—Não é porque a sua vida é ruim que você tem que estragar a dos outros.— Essa foi a primeira fala de Kim. Prestaram atenção que eu disse que ele era o primo que eu mais gostava?

—E é isso que temos em comum, Musa da Winx. Porchay muito sensato em te trocar pelo Macau.— Sou um irmão muito orgulhoso, graças a mim o Macau aprendeu sobre talaricagem por mais que não praticasse.

—Por que você não vai se foder?— Questionou o moreno de cabelos longos me lançando facas com os olhos.

—Porque eu já me fodo sem precisar ir.— E isso é um fato, mas não torna o término de Kim e Porchay menos ruim. Foi eu que levei um Kim bêbado para conversar com um Porchay puto da vida às três e trinta da madrugada véspera de Ano Novo.

Fatídico episódio pós-termino KimChay.

—Mas Chay, eu não posso viver sem você!— A bebida transformou Kimhan numa poça emocional, a camisa de botões estava amarrotada e a jaqueta jogada sob os ombros largos. Porchay parecia absolutamente possesso com uma raiva e rancor sem iguais.

—Então morre.— E bateu a porta da casa em que morava junto do irmão mais velho.

Fim do fatídico episódio pós-termino dos KimChay.

E depois disso meu primo mais novo se tornou uma versão de Joe Goldberg soft que se declarava a cada música e se lançasse mesmo o álbum que pretendia se tornaria a Taylor Swift tailandesa. Ou Olivia Rodrigo. Se bem que já era um inferno sair com Kim sendo subcelebridade, não gosto de pensar quando ele se tornasse realmente famoso. Inclusive gostaria do fim das subcelebridades, deixo minha indignação aqui.

—Sério, oque aquela garota tem que eu não tenho?— Pergunta idiota que seria respondida por pessoas mais idiotas ainda.

—Peitos, caráter e estabilidade mental?— Tay.

—Um pai.— Kim.

E é por isso que eu não precisava de inimigos, eu já estava rodeado de pessoas que ficavam comigo exclusivamente para ver minhas humilhações e derrotas diárias. Quem precisava de hater quando se tinha eles dois bem do lado? Tenho certeza que fizeram parte da administração daquele jogo Baleia Azul.

—Eu desisto de vocês.— Murmurei antes de me levantar da mesa e ir buscar meus materiais que ficaram no auditório, largando os dementadores que eu chamava de amigos.

Para a minha sorte eu tinha um colega de classe incrível chamado Nop que me entregou minhas coisas, ele era um cara grande de pele bronze e traços fortes, não gostava de conversar muito e preferia observar. Nop namorava uma garota muito fofa que cursava o mesmo que Pete, os dois costumavam se falar as vezes.

—Valeu cara.— Troquei um tapa com ele que foi embora logo depois. Senti meu celular vibrar com uma notificação.

09:51PM: Vegas, oi. Queria te agradecer pela ajuda e prometo recompensar seu esforço e tempo gasto comigo.

09:52PM: Hey Pete, não precisa agradecer ainda. Tenho certeza que você vai conseguir sair com a Blan.

09:52PM: Claro, com você como tutor qualquer um consegue! ^^

09:52PM: Não me elogie ainda, espere até que eu te ensine algumas coisas ;)

09:53PM: Estou animado para isso, Vegas. Tenha um bom descanso hoje, até amanhã.

09:54PM: Boa noite, Pete.

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