Sai de casa após deixar um café forte pronto para Macau e Tay, o último acabou indo dormir lá após mais uma briga com o vagabundo que ele chamava de namorado. Só de lembrar do Time e sua mania de trair me fazia ter vontade de arrebentar a cara dele, mas eu sabia que isso não o faria criar vergonha ou se arrepender de verdade. Se surras servissem de algo eu com toda certeza seria hétero e a cópia perfeita de Kinn.
Respirei fundo enquanto estacionava a moto na empresa, guardando o capacete e pensando seriamente em abrir uma biqueira ao invés de trabalhar para meu pai. Ganharia dinheiro ou um tiro, vejo vantagens em ambos, mas por enquanto eu leria e responderia os e-mails da empresa.
—Vegas? Telefonema para você, linha dois.— Era a voz de Ken, meu secretário temporário enquanto meu pai praticava turismo sexual... Digo, viagem de negócios.
—Certo, obrigado Ken.— Teclei a segunda linha e logo a voz de um dos sócios italianos preencheu a ligação.
O dia foi tomado por correções nos endereços eletrônicos onde eu digitei "Segue em anexo" e não tinha nada anexado, coisas da vida. Próximo ao horário de almoço eu recebi uma mensagem de Pete e tivemos uma conversa curta sobre o encontro de hoje.
12:10PM: Hey Vegas, você está livre o mesmo horário de ontem?
12:10PM: Claro, Pete. Na cafeteria?
12:11PM: Sim! Te espero por lá.
Eu avisei que era uma conversa curta.
A grande questão levantada por Tay ontem me fez refletir profundamente se eu ia ajudar o Pete a sair mesmo com a Blan, não havia muito oque pensar. Ficar perto dele por um curto período de tempo era mais do que eu já tinha conseguido em meses de tentativas querendo chamar ele pra sair e percebendo que Pete era hétero. Se eu não podia namorar com ele, eu poderia ser amigo e ajudá-lo a ficar feliz.
Eu sei, é comovente ver que eu consigo ser um humano decente. Às vezes eu também me assusto.
Organizei os documentos pois amanhã seria sexta-feira e eu gostaria de tomar doses absurdas de álcool em algum muquifo de luzes néon com o Kim reclamando e fazendo cara feia e o Tay disfarçando mal que estava conversando com o Time por mensagem. Não tem nada de ruim que não possa ficar pior.
Peguei minha moto conduzindo por uma rara tranquilidade que mais me deixava nervoso do que propriamente calmo como deveria ser. Me parecia um daqueles momentos onde uma falsa paz se instala prerrogando uma tragédia digna de filme, e eu não quero ninguém dizendo que sou paranóico ou esquizotipico. Cenários como esses me lembram The Walking Dead ou The Last Of Us, mas segundo o teste que fiz no Buzzfeed eu sairia vivo no caso de Apocalipse Zumbi.
Pensando nos quiz variados que fazia enquanto estava com tédio, tais como "Descubra agora qual panela você é", "Qual o seu animal espiritual?", "Você é um psicopata disfarçado?", "Quem você foi na vida passada?", entre outros, lembrei de um que falava sobre como eu deveria me valorizar e aprender a me amar antes de amar alguém. Profundo, não é? Testes de internet feitos por garotas de doze anos servindo de livro de auto ajuda para um marmanjo de 23 anos.
—Vegas? Está tudo bem?— Procurei a voz do anjo que sussurrou ao meu ouvido dando de cara com Pete parado na minha frente. Lindo, ele era lindo.
—Oi Pete, sim, estou bem sim.— Porque ficar parado em cima da moto por mais de vinte minutos pensando na vida era muito comum.
—Ah, isso é bom. Podemos ir?— E lá estava o sorriso de covinhas que me fazia querer explodir.
—Vamos, estou com fome hoje.— Pete pareceu gostar disso, pois segurou minha mão e fomos caminhando assim até a cafeteria. Sorri daquilo sem ao menos perceber.
A mesma garçonete de ontem veio nos atender e fizemos os pedidos enquanto esperávamos o retorno dela, aproveitei para observar melhor a forma como os fios negros de Pete escapavam da boina bege e o suéter marrom cobria quase que por inteiro as mãos bonitas dele. Tudo naquele tailandês parecia gritar "acolhedor", e a sensação de aconchego explicava o porquê de muitas pessoas gostarem dele.
—Você pode me falar como conheceu a Blan?— Perguntei pois sabia que estava ali para ajudar.
—Eu faço duas aulas com ela, Blan não tem muitos amigos e prefere ficar perto de meninas.— Pete respondeu mexendo nas mangas da roupa evitando me olhar.
—É difícil se aproximar assim... Pete eu estou curioso, por que me escolher como tutor se podia apenas pedir ajuda a Porsche? Não me entenda mal, mas o único cara que Porsche pegou foi o Kinn, ele tem muito mais experiência com garotas que eu.— Indaguei me encostando na cadeira e cruzando os braços.
—Ahn...— Pete pareceu pensar por alguns momentos e corou, mordeu os lábios antes de responder.— Kinn não foi o único cara que Porsche pegou, mas eu escolhi você porque ultimamente o Porsche tem dedicado mais tempo ao Kinn e eu não quero ser usado como piadinha durante as saídas com meus amigos. Você é primo do Kinn, também é cunhado do Chay, parece uma boa ideia pedir ajuda a você.— Concluiu o pensamento a tempo dos nossos pedidos chegarem.
Concordei com a cabeça e bebi um pouco do cappuccino com canela, oque Pete disse fazia sentido afinal. Se aquele era o ponto, então não tinha nada de errado ou suspeito, ele parecia genuinamente interessado em Blan. Aquela conclusão meio que doeu um pouquinho.
—Certo, vamos começar por um plano para te deixar mais próximo dela.— Pete pareceu se animar, erguendo os olhos pra mim e mordendo seu crepe.— Já tentou pedir algum material emprestado na desculpa de ter esquecido o seu?
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—Eu devia ter tacado fogo na casa dele!— Tay exclamou batendo as mãos na mesa do refeitório, os olhos geralmente maquiados estavam vermelhos do choro passado.
—O cara ganha um par de chifre e já acha que é o capeta.— Kim murmurou e eu lutei muito para não rir, disfarçando com uma tosse solidária ao meu amigo loiro.
— Oh incendiário, acho que ganhar uma ficha criminal por coisas assim não vale a pena. Sequestra ele e tortura, depois mata, morto pelo menos você vai saber onde ele está.— Dei a dica retornando a beber meu chá de bolhas.
Tay voltou a se sentar fungando baixinho e me forçando a sentir pena dele, deixei meu chá de lado e segurei a mão dele, apertando fraco como apoio silencioso e recebendo a cabeça dele no meu ombro.
—Você sabe que se quiser a gente põe o número dele no Instagram dizendo que ele tá doando botijão de gás, né?— Kim falou como quem não quer nada. Percebi a intensão dele ao dar uma breve olhada e sorri.
—É Tay, podemos também colocar a foto dele num site de garotos de programa e falar que ele tá cobrando cinco dólares por duas horas.— Em um momento Tay estava gargalhando das nossas bobagens, esquecendo por um curto período de tempo oque aquele babaca fazia com ele.
—Obrigado, gente. O que acham de irem na minha casa? Podemos assistir Chains of Heart e xingar o Din.— Ri baixinho olhando para Kim, concordando com a proposta de Tay.
—Sim, podemos perguntar ao Lue também em qual cirurgião ele foi e indicar ao Kim. Quem sabe morrendo e nascendo de novo o Chay não aceite ele de volta?— Meu primo cerrou os olhos com clara ameaça.
—Quem precisa de harmonização facial é você.— Mandei o dedo do meio para ele e num acordo silencioso concordamos em ir até a casa de Tay para ajudar com a distração.
Foi enquanto víamos a série que uma mensagem apareceu em meu celular enviada por Pete, cliquei no ícone e desbloqueei o aparelho antes de ler o conteúdo.
09:15PM: Vegas você não vai acreditar! A Blan ficou como minha dupla no seminário que teremos apresentação. Parece que tudo está conspirando para que eu fique com ela! Vou seguir suas dicas de hoje, obrigado de novo e boa noite.
É, logo mais quem precisaria de distração seria eu.
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Assistam Chains of Heart 🌹
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Seja Meu Tutor
FanficQuando um convite junto a um pedido inesperado chega para Vegas ele sente que não pode ignorar até descobrir a fundo oque tudo isso significa. Claro, isso não tem a ver com a quedinha (lê-se despenhadeiro) que ele sente pelo queridinho da faculdade...