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As cortinas lacradas não permitiam que nenhuma luz passasse pelas janelas, tornando o ambiente tão escuro quanto os quilômetros mais longínquos do mar. Sentado na cama em meio ao breu, Cyno encarava o nada, desolado. A cena que ocorrera mais cedo continuava a se repetir em sua mente, em um loop horrendo, atormentando-o a cada respiração, a melancolia ainda mais nítida a cada piscar, com as pálpebras fechadas e prontas para repassar o filme.

Ele terminou de adornar o copo, contente com o resultado, e o entregou. Tighnari o apanhava com receio, até seus dedos roçarem de forma suave nos do barista. O rosto do primeiro ficou pálido e as orelhas retraídas, a própria definição de terror.

Era como ver um acidente de carro em câmera lenta. Ele sabia a catástrofe que viria. Ele sabia da desolação que se instauraria, do estrago que atingiria uma profundidade que ele não tinha como alcançar. Mas ele simplesmente não conseguia interromper o lance a tempo. Ele não conseguia deter a própria estupidez. Ele não conseguia impedir a si mesmo de tornar toda a situação ainda pior, de tornar o estrago ainda mais irreparável.

Sentado no centro de sua cama, com todas as cobertas bagunçadas, os olhos carmesins de Cyno se destacavam ainda mais, com uma tonalidade ainda mais vibrante. A respiração do garoto já havia se acalmado, contudo, a face permanecia completamente encharcada, as lágrimas escorrendo lentamente. Naquele instante, a única coisa que reinava no ambiente era a angústia do arrependimento. Ali, em meio a tudo que acontece na noite, quando o secreto e o que deve permanecer escondido vem à tona, a penitência de tempos passados se encontrou com a de novos tempos.

Sussurros trocados com sorrisos no rosto no meio da primavera, o aroma das flores recobrindo o ar. Roçar de mãos enquanto caminhavam juntos ao longo do pôr do sol, quando tudo parecia alcançável. Amassos dados nos cantos desertos da biblioteca, assassinando qualquer possibilidade de estudo. Bilhetes deixados nas mesas um do outro com declarações de amor. Até a imagem de uma porta sendo batida com força, trancando-o para fora em meio à escuridão, misturar-se com a expressão ferida de Tighnari naquela tarde.

Mais lágrimas recobriram a sua face, se misturando com as outras já derramadas. Exalando profundamente, a garganta quase constrita com tanto pesar, Cyno se deixou cair na cama, o peso de toda a culpa impedindo-o de manter o próprio tronco ereto. Ele encarou o teto com olhos desprovidos de vida, a insônia cumprimentando-o pelo que viria ser uma longa noite.

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⏰ Última atualização: Feb 16, 2023 ⏰

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