Capítulo Nove

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"Ser solitário é quando está à noite e você está sozinho."
billy squier;


O dia passou lentamente quando eu e S/N desligamos a chamada

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O dia passou lentamente quando eu e S/N desligamos a chamada. 

Era como se eu simplesmente não tivesse mais nada para fazer. Como se tudo tivesse perdido a graça e eu estava ali, apenas existindo como o ser insignificante que sou.

Não era um problema para mim ficar sozinha em casa - embora eu não esteja tão só, tendo em mente que meus bebês estão aqui -, é que... Sinto que estou precisando de uma aventura. 

Mas, ao mesmo tempo que sinto que preciso de uma aventura, bate a preguiça de procurar uma por aí. Então, no fim, eu sempre acabo deitada na cama, como todos os dias.

Tive que permanecer forte para não ligar para nenhum de meus 'contatinhos', como dizem os jovens. Era tentador, muito tentador, mas resisti. Estou levando essa coisa de estar solteira a sério e não é pelo fato de que ficarei solitária o dia inteiro que preciso de alguém do meu lado. Até porque a única pessoa que eu queria ficar do lado estará jantando fora com uma amiga esta noite.

Confesso que fiquei um tanto curiosa para saber quem era aquela tal de Natasha. No entanto, não pesquisei o nome dela no Google pois certamente haveriam muitas maquiadoras profissionais chamadas Natasha, nas mídias sociais, então? Piorou. 

Por isso, quando anoiteceu, resolvi fuçar o Instagram de S/N de dez em dez minutos para saber se ela postou algo sobre a amiga maquiadora. Victoria chegou a perguntar o porquê disso pelo direct, inclusive. Eu não quis respondê-la, estava muito ocupada... Fazendo café. 

É meio irônico eu estar tão obcecada por uma mulher sendo que há nove meses atrás eu me perguntava: 'o que diabos estou fazendo com a minha vida?'. Me encontrei perdida quando terminei o noivado com Pete, eu estava ferida emocionalmente, fiquei vulnerável e manipulável, eu diria. 

Vocês têm noção que eu estava prestes a me casar? Eu ia arruinar minha vida por conta de um amor cego! Na verdade, acho que todos os meus relacionamentos foram cegos, de uma maneira geral. Eu me jogo de cabeça em todas as relações que tenho, crio expectativas e acabo me decepcionando no final. Este é sempre o ciclo. Decepção atrás de decepção. 

Então, para não me machucar, decidi ficar com os caras por uma noite e descartá-los no dia seguinte. Dessa forma eu não iria me machucar e muito menos criar expectativas em cima. E deu certo por um grande período de tempo, até eu começar a cansar.

Quando digo isso quero dizer que comecei a me cansar de chamá-los todos os dias. Trazer alguém diferente para se deitar comigo estava ficando entediante e chato, para dizer o mínimo. Conversei com minhas amigas e terapeuta e cheguei na conclusão que eu precisava de um tempo. E foi o que fiz. Parei de chamá-los há nove meses e estou sem beijar na boca por todo esse período. Não é ruim, para ser honesta, é bonzinho.  

Conhecer S/N e ter um pequeno crush nela foi, lá no fundo, um baque para mim. Eu não esperava que isso fosse acontecer, porque não estou acostumada a ter paqueras femininas. Tudo bem, a única vez que tive foi numa balada antes da pandemia começar, eu estava bêbada e ela também. Mas o sentimento foi embora mais rápido do que passar manteiga no pão. Depois disso, nunca mais. 

Bem, até agora, pelo menos. 

Ela me encantou. Foi como se tivesse jogado um feitiço em mim. Agora, estou levemente obcecada por ela. Eu simplesmente não posso evitar; ela é bonita, legal, é gostosa, fofa e tem um ótimo humor. Como alguém não se interessaria por ela? 

Se pudesse, eu a puxaria pela cintura e colaria meus lábios nos dela com tanto desejo que poderíamos ficar sem respirar direito. Como eu queria ter essa chance. Infelizmente, não tenho. A realidade é outra. 

E essa realidade se resume em eu sentada no sofá coberta por um cobertor, tomando café, usando roupas quentinhas e assistindo De Repente 30 sozinha. Oh, e stalkeando minha crush a cada dez em dez minutos, também. 

Fiquei esperando feito idiota por uma hora inteira. São nove e meia da noite, atualizei o feed e mexi as sobrancelhas ao finalmente ver uma foto de S/N ao lado da tal Natasha. Ela tinha cabelos pretos e medianos, pele branca e admito, era bonitinha. A legenda da foto era um emoji de coração brilhante e outro de brilhos. Elas estavam abraçadas e sorrindo. 

Analisei a foto por alguns segundos, pairando os olhos na garota que tanto tenho fantasiado. Ela usava um mini-vestido azul de mangas longas e bufantes que aparentemente eram descartáveis, e sandálias salto-alto de plataforma também azuis. Se aproximássemos a tela, podíamos ver sua maquiagem azul e seus longos brincos brilhantes. 

Molhei os lábios ao perceber que eu estava prestes a babar - sim, literalmente babar, não é uma expressão.

Apertei na tela para curtir. Suspirando, saí do aplicativo e coloquei o telefone na mesinha de vidro à minha frente, junto com a caneca de café, cobrindo-me um pouco mais e encolhendo o corpo no sofá. Um sentimento estranho me dominou. Um incômodo misturado com raiva e frustração.

Toulouse apareceu no cômodo e andou rapidamente na minha direção, olhando para mim e sentando-se em meu colo. 

"Ah, filho." Lamentei baixinho, voltando a atenção para a televisão. "Por que estou com ciúmes, afinal? Nem somos namoradas. Muito menos nos beijamos ainda." Franzo o cenho. "Talvez seja porque fantasio muito com ela..." 

Ele latiu enquanto me encarava. 

"Eu sei. Sei que sou surtada por fantasiar com algo que nem existe e nem possa existir, isso é estranho até para mim. Se fosse qualquer outro cara, eu já teria mandado uma mensagem dizendo: 'vem me comer, caralho'. Mas ela é diferente. Eu sinto." 

Latiu de novo. 

"Poxa, ela é gostosa, é engraçada, tem um corpão da porra, é educada, o que mais eu poderia pedir? Eu só quero foder e beijar aquela mulher!"

Desta vez, ele ficou em silêncio por dois segundos, e então, rosnou. Arregalei os olhos ao notar o que estava dizendo.

"Oh, sinto muito, meu bebê. Eu não deveria falar dessas coisas com você. É melhor eu guardar esse assunto para Victoria ou Courtney." Retiro uma das mãos do cobertor e começo a acariciá-lo. "Mamãe vai parar. Vamos assistir ao resto do filme e depois deitar." 

Ele respirou fundo e cruzou as patas, como o menino educado que é, e virou a cabeça para assistir o filme. Às vezes me pergunto como ele é tão inteligente. 

Quando acabou, arrumei minhas coisas e fui direto para o quarto. No caminho dei uma rápida olhada nos outros bebês e eles dormiam tranquilamente, Toulouse estava neste caminho, também. Nos deitamos e apaguei as luzes, cobri e abracei seu corpinho morno, ouvindo seus suspiros calmos enquanto ele pegava no sono lentamente. 

Acabo sorrindo involuntariamente. De repente, um sentimento de gratidão invadiu todo o meu corpo e fez meu coração derreter. Sou simplesmente tão sortuda por ter meus cachorros e porquinha na minha vida; eles são minha principal energia. Meu porto-seguro nos momentos difíceis e acompanhantes de viagens para tours. 

Meus bebês são realmente minha benção divina. 

In the moment - Ariana/YouOnde histórias criam vida. Descubra agora