Capítulo 1

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OLÍMPIA

Os primeiros raios de sol entram pela janela no mesmo horário em que meu despertador toca, porém, eu já estou acordada há alguns minutos, meu corpo já se adaptou a rotina de acordar super cedo, mas mais que isso essa noite também não foi das melhores e não dormi bem. Respiro fundo antes de levantar da cama e ir em direção ao banheiro, abro o chuveiro quente e tomo um banho gostoso na tentativa de me animar para o dia de trabalho intenso, quando termino e já estou com os cabelos arrumados e os dentes escovados, saio do cômodo e paro em frente ao pequeno guarda-roupas escolhendo o que vestir, não que eu tenha muitas opções para o trabalho, mas gosto de me vestir bem e sempre dedico um tempo a fazer as combinações certas.

Com a porta ainda fechada, escuto minha irmã batendo os pés pelo apartamento que dividimos e resmungando sobre algo. Apresso-me para terminar de me arrumar, e logo estou indo em direção a cozinha com meus sapatos de salto em uma mão a bolsa e o celular na outra, encontro Artêmis, sentada na pequena mesa de dois lugares da cozinha com uma xícara de café nas mãos, o cabelo cacheado todo desgrenhado, óculos de grau no rosto e ainda com seu robe cor de rosa que já viu dias melhores.

Enquanto abasteço a minha própria caneca com o café quente que ela fez, observo a minha irmã mais nova. Nós duas somos muito diferentes tanto na personalidade quanto na forma física, enquanto a Artêmis herdou do pai dela a pele negra e os longos cabelos cacheados, eu sou tão branca que minhas veias são aparentes em minha pele e meu cabelo preto é super liso e sem nenhum movimento, temos em comum o tamanho, nós duas somos baixinhas, herdamos da mãe, porém,minha irmã é super magra e eu sou a gordinha da família.

— Não sei como você consegue comer alguma coisa assim tão cedo — ela reclama, quando eu pego um pão e passo manteiga. Sorrio do seu jeito rabugento de todas as manhãs.

— No escritório eu não tenho tempo nem mesmo para respirar, não posso ficar sem comer nada até a hora do almoço — explico mordendo meu pãozinho.

— Também não sei como você consegue acordar e ficar linda em um horário desse, deveria ser proibido as pessoas serem produtivas assim tão cedo.

– Já falei para você, se não gosta de acordar cedo não precisa me acompanhar para o café da manhã.

– Mas eu quero, não almoçamos ou jantamos juntas, se não nos encontrarmos no café da manhã, acho que a gente nunca mais se vê, já que quando eu chego da faculdade a noite você já está dormindo.

Eu e minha maninha somos muito grudadas, desde o primeiro dia que botei os olhos em sua carinha rechonchuda de bebê. Sempre fui cuidadosa e protetora com a minha irmã, e nós nunca ficamos longe uma da outra. Quando viemos morar juntas e sozinhas, fugindo da vida miserável que levávamos, nossa união ficou ainda mais forte. Mas daí vieram as obrigações da vida adulta mais conhecidas como trabalho duro e faculdade, com isso nós duas passamos a quase não nos ver, mesmo morando na mesma casa. Então, há alguns meses ela resolveu que iria acordar mais cedo para me acompanhar no café da manhã, e podermos conversar e passar um tempo juntas antes do dia se tornar uma loucura.

— E como vai na faculdade? – pergunto, antes de tomar uma golada de café que está do jeito que eu amo bem docinho, algumas pessoas não gostam, mas eu odeio o café amargo.

— Finalmente chegamos à parte pela qual eu estava mais empolgada: as aulas práticas, ontem nós praticamos tirar sangue e usamos um ao outro como cobaia, foi incrível.

Minha irmã está cursando a faculdade de enfermagem, sempre foi o sonho dela. Quando comecei a trabalhar na imobiliária Andrade e meu salário melhorou, eu decidi pagar as mensalidades para que ela pudesse realizar o seu sonho. Ártemis também trabalha, mas o salário de telemarketing de meio período, serve apenas para que ela ajude em algumas contas e suprir as próprias necessidades, a maior parte das despesas ficam por minha conta e dou graças aos céus pelo trabalho incrível que tenho, esse é mais um motivo pelo qual eu não posso fazer uma besteira e correr o risco de ficar sem o meu emprego.

— Mas e você irmã, como anda a sua relação com o Ceo gostosão? — Ela pergunta meio que adivinhando o rumo pelos quais meus pensamentos estavam indo.

— Não há relação nenhuma além da de trabalho — respondo seca, tentando pôr um fim ao assunto, mas Ártemis apenas ri como se duvidasse do que estou falando. Maldito o dia em que bêbada confessei a ela meus sentimentos, eu tinha que ter imaginado que a Artêmis jamais ia deixar o assunto morrer. — Para de sonhar com isso, a vida não é igual aos romances que você lê irmã, então pode tirar esse assunto da sua cabecinha bebê.

— Não me chama de bebê — fala emburrada, pois odeia que usem apelidos para se tratar dela e então é a minha vez de sorrir.

Termino meu café e ela garante que vai lavar a louça, então saio tranquila de casa. Como hoje vou de ônibus, não coloco meus sapatos de salto, pois sei que não iria aguentar ou pior eles podem se estragar, e eu amo esse sapato já que foi um presente do meu chefe no meu aniversário do ano passado, por isso os levo dentro da bolsa enquanto meus pés se contentam com uma sandália baixa e confortável.

— Amiga espera — escuto a voz conhecida de Melina atrás de mim,eu desacelero o passo. — E ai gostosa como você está?

bem amiga e você, a relação com o Dalton melhorou? — pergunto, pois ontem quando a gente conversou, ela estava super nervosa depois de uma discussão acalorada com o marido.

— Estamos dando um gelo um no outro — Ela suspira. – Acho que não dá mais sabe Oli, a relação está muito desgastada, ele não conversa comigo, não faz nada por mim e eu estou cansada de lutar sozinha.

— Ai amiga, que bad, eu sinceramente achei que vocês dois seriam para sempre.

— Eu também, não casei para me separar, mas no fim acho que essa vai ser a única solução, pois eu também não nasci para ser infeliz.

A Melina foi a primeira e uma das únicas amigas que fiz quando cheguei nesse bairro. Nos conhecemos no corredor de produtos de limpeza onde ela trabalha, começamos a conversar sobre desinfetantes e ela me convidou para tomar uma cerveja, desde então, não nos desgrudamos mais.

— Tem certeza que não há outra saída? — pergunto, mas pela maneira derrotada que seus ombros pendem para a frente acho que a resposta será negativa.

— Eu ainda o amo como no início, mas ele está cada dia mais distante de mim e sinto que cansei de correr atrás dele. Se ele quer se afastar vou simplesmente deixar a porta aberta. — Olho para ela com pesar, mas entendo o que ela quer dizer com isso.

Chego ao ponto de ônibus que fica exatamente em frente ao mercado que ela trabalha, nos despedimos no exato momento em que o ônibus chega e para minha sorte está quase vazio, então consigo um lugar para me sentar no fundo. Saco meu celular e os fones de ouvido e coloco um sertanejo universitário, mas nem presto atenção na música, porque meus pensamentos voam para o homem que insiste em invadir meus pensamentos.

QUARENTENA COM MEU CHEFE - DEGUSTAÇÃO - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora