CAPÍTULO 2

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OLÍMPIA

Chego à empresa no horário costumeiro, ainda não tem ninguém aqui além dos seguranças, nem mesmo as recepcionistas chegaram, afinal de contas são seis e meia da manhã. Entro no elevador e aperto o botão da cobertura onde fica o escritório da presidência, Conforme o elevador vai subindo e a minha preguiça vai aumentando, eu não deveria ter ficado até tarde ontem assistindo séries e comendo besteira com a minha irmã. 
A primeira coisa que faço depois de chegar ao meu andar é ligar a máquina de café que fica na copa e encho a minha xícara, só tomando mais café para dar conta do dia, depois de abastecida com o líquido preto sagrado vou para minha mesa, ligo meu computador e pego a agenda do dia.
Trabalho na imobiliária Andrade, uma das maiores do país, além de ter uma filial em Orlando, na Flórida, onde facilitamos a vida de brasileiros que querem alugar imóveis por temporada. Aqui no Brasil alugamos e vendemos imóveis dos mais variados tipos, desde apartamentos populares a mansões de alto padrão, a empresa tem corretores em várias frentes. O negócio movimenta milhões por anos e meu chefe acabou se tornando um homem muito, muito rico, conseguindo o seu primeiro milhão antes dos trinta anos. Isso o torna um dos poucos empresários no país a conseguir essa marca, o que surpreende ainda mais, é que ele começou como um simples corretor e foi crescendo na carreira, pouquíssimas pessoas podem dizer que saíram da pobreza para uma vida de alto padrão apenas com seu trabalho e bons investimentos, por isso tenho muito orgulho de quem ele é, e de poder trabalhar ao seu lado.
Falando no chefinho, são exatamente sete da manhã quando o elevador apita e de dentro dele sai Miguel Andrade. Lindo, como sempre, vestindo seu terno impecável de cor preta e gravata azul marinho, com o cabelo ainda meio molhado do banho, eu sempre o achei lindo assim, e me permito admirar a sua beleza por alguns segundos, antes que ele perceba. 
Miguel passa por mim sem nem dar bom dia, é sempre assim, credo, não sei como um homem tão lindo, rico e bem sucedido consegue ser tão mal-humorado. Mesmo assim, ainda caio de amores por ele, meu chefe nem pode desconfiar desse sentimento, porque sei que nunca terei uma oportunidade, não me orgulho disso,  mas infelizmente não mando no meu pobre coração que palpita sempre o vê.
Como a excelente secretária que sou, quando ele chega no escritório, já estou com tudo pronto para facilitar o seu dia, por isso, há alguns instantes deixei sobre a mesa dele uma xícara de café do jeito que ele gosta: preto, forte e sem açúcar, totalmente o contrário do meu. Sei que ele demora quinze minutos entre beber seu café e ler as manchetes dos principais jornais, além de dar uma olhada nas projeções da bolsa de valores para o dia de hoje. Quando sei que ele já terminou, me levanto, ajeito minha saia lápis e minha camisa branca para que esteja tudo impecável com minha vestimenta e bato duas vezes na porta dele antes de entrar.
— Bom dia chefe — o chamo de chefe, mesmo sabendo que ele não gosta, mas não sei porque tenho uma necessidade quase latente de provocá-lo às vezes, mas  de maneira sutil, afinal de contas não quero perder o meu emprego. — Posso ler sua agenda do dia?
— Fique à vontade senhorita Martins – ele responde com sua voz rouca e como sempre acontece quando ele me chama de “senhorita Martins” minha pele inteira  arrepia. Por alguns segundos eu recito para ele a agenda enquanto ele me olha com sua boca parcialmente tapada pelo dedo indicador em uma mania que ele tem quando está concentrado em alguma coisa.   — Você acertou tudo para a viagem aos Estados Unidos semana que vem?
— Sim senhor, as passagens estão marcadas para a sexta feira da próxima semana no final do expediente como o senhor instruiu, já mandei uma equipe limpar a sua casa e conversei com a secretária de Orlando para separar toda a documentação que você quer analisar e deixar as demais coisas em ordem. Além disso, organizei um cronograma pelas casas que você quer visitar já que esse é o objetivo principal da sua viagem.
— Eu estou acompanhando as notícias sobre esse novo vírus, todos os governos estão em alvoroço e não sei como isso vai afetar os negócios imobiliários.
— Vi que estão falando em quarentena – comento – a situação na Ásia não anda nada boa, pode ser que haja dificuldades na viagem.
— Vamos torcer para que não cheguemos a esse ponto, mas por via das dúvidas quero antecipar o meu voo para essa sexta feira.
— Mas isso é depois de amanhã – praticamente grito em pânico, ele apenas ergue uma sobrancelha, questionando minha atitude.
— Algum problema, senhorita Martins?
— Não senhor — respondo e engulo em seco — vou agora mesmo providenciar as mudanças —  falo já me virando para sair da sala. Não acredito que ele quer que eu remaneje toda a viagem em apenas dois dias, cara eu levei quase uma semana para organizar tudo, principalmente a agenda dele. Eu já deveria estar acostumada já que esse homem vive arrumando motivos para me enlouquecer, quero esgana-lo cada vez que faz isso.
— Tem mais uma coisa... — Ele diz e eu apenas aguardo olhando para ele esperando as instruções — eu quero que você vá comigo.
— Sim senhor — respondo apenas, já que não é incomum que eu viaje com ele, contudo dessa vez nem consigo ficar animada em estar indo para a Flórida, já que os próximos dois dias serão um inferno...
 Saio da sala do senhor Miguel e me concentro no trabalho, às dez horas  em ponto escuto barulho de salto batendo contra o chão e reviro os olhos, meu humor que já não estava dos melhores acaba de ficar pior, mas quando levanto meu olhar para a pessoa que parou a minha frente nada mais que profissionalismo transparece no meu rosto.
— Bom dia Viviana, vou avisar o senhor Miguel sobre a sua presença — a mulher loira nem se dá ao trabalho de me responder, arrebitando o nariz para cima em sinal claro de desdém.
Insuportável! Penso, enquanto disco o ramal da sala atrás de mim.Viviana é uma, do que chamamos por aqui, de corretora luxo, ela pega as contas mais altas e trabalha com os clientes mais ricos, não posso negar que ela é uma das profissionais mais competentes que temos e seu trabalho é impecável, mas em compensação, Viviana  é um ser humano terrível a arrogância dela é lendária dentro da empresa. Mas eu tenho uma antipatia especial por ela já que em toda oportunidade que tem, ela dá em cima do Miguel o que me deixa fervilhando.
— Sim Olímpia — meu chefe diz ao telefone.
— Viviana está aqui para a reunião das dez.
— Pode mandá-la entrar e providencie um café pra nós dois.
— Sim senhor — respondo ao meu chefe antes de encerrar a ligação.  — você pode entrar agora Viviana.— A mulher passa por mim ainda sem dizer nada, apenas me olhando com arrogância, achando ser  melhor que eu, tenho vontade de derrubá-la dos saltos vermelhos que usa, mas contenho os meus impulsos pelo bem da minha saúde mental e do meu emprego.
Assim que a porta é fechada atrás dela eu me levanto e vou até a copa,  pego uma bandeja e abasteço duas xícaras de café e coloco sobre ela, assim como uma bonita vasilha de cristal cheia de biscoitinhos amanteigados. Com cuidado levo tudo para a sala do meu chefe, como tenho que equilibrar a bandeja não tem como bater na porta e apenas a empurro com o pé. A cena a minha frente me faz parar um pouco, Viviana está de pé em frente à mesa do Miguel com a palma da mão sobre o tampo e o corpo inclinado em direção ao nosso chefe com o decote quase sendo esfregado na cara dele, os dois me olham e eu limpo a garganta antes de falar alguma coisa.
— Com licença, o café que o senhor pediu — falo e adentro a sala, Viviana se senta na cadeira vazia à frente da mesa e cruza as pernas de maneira teatral, eu coloco a bandeja sobre a mesa e me apresso a sair.
— Senhorita Olímpia — Miguel me chama um pouco antes de eu passar pela porta — por favor bata da próxima vez.
— Sim, senhor — falo envergonhada e  saio do escritório para sentar na minha mesa e passar o resto do expediente remoendo o fato que ele me repreendeu na frente da vaca da Viviana.

QUARENTENA COM MEU CHEFE - DEGUSTAÇÃO - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora