OLÍMPIA
Já são quase onze da noite e eu ainda estou com meu notebook ligado resolvendo pendências da empresa, já que vou me ausentar pelos próximos dias e tenho que deixar instruções para a secretaria que vai ficar no meu lugar. A televisão está ligada no volume baixo passando algum episódio de Friends, só para que eu tenha a sensação que não estou tão sozinha já Ártemis, ainda não chegou da faculdade, apesar de me sentir solitária às vezes, por ela estudar tanto, também me sinto muito orgulhosa de ver o quanto ela é dedicada a faculdade, depois de tudo que nós duas passamos é gratificante ver que ela está alcançando seu sonho.
Eu também tinha vários sonhos quando era menina e às vezes sinto que não realizei nenhum deles, não que eu esteja reclamando da vida que levo agora, pois apesar dos pesares eu sou feliz e agradecida pelo que tenho. Há alguns anos atrás, eu não sabia nem mesmo quando seria minha próxima refeição ou se eu estaria em segurança até o dia seguinte e hoje eu tenho um ótimo emprego, meu próprio apartamento e estou juntando dinheiro para o meu primeiro carro. Fui contra todas as péssimas expectativas que a minha própria genitora colocava sobre mim.
Mas eu tinha sonhos, mesmo que eu nunca tenha falado disso com alguém, eu gostaria de ser escritora durante a infância, as fantasias que construía na minha cabeça eram o meu porto seguro, para onde eu fugia quando a realidade era dolorosa demais. Eu gostaria muito de colocar tudo isso para fora de alguma maneira, mas isso nunca foi possível e eu não sei nem por onde começar; durante muito tempo fui oprimida, desencorajada e até chamada de burra, então enterrei essa vontade e me concentrei na vida real. Por isso é tão importante para mim ver que a minha pequena está alcançando o que sempre quis, afinal de contas uma de nós duas tem que ser feliz plenamente.
É nisso que estava pensando antes de ficar tudo escuro quando pego no sono ainda com o notebook no colo.
***
Abro os olhos devagar quando a luz do sol bate sobre o meu rosto e resmungo um pouco pelo incomodo e volto a cochilar... No entanto, meu cérebro insiste em acusar que algo está errado, então lentamente eu abro os olhos notando que ainda estou na sala porém tem um cobertor sobre mim, procuro pelo meu celular e o encontro na mesinha de centro sem bateria, ainda sonolenta aperto uma das teclas do computador que agora está apoiado na mesinha de centro e quando a tela finalmente se acende, eu literalmente caio do sofá, batendo o quadril no chão e praguejando:
– Inferno, mas que droga! – Grito, quando percebo que já são quase seis da manhã.
Eu dormi demais, acordei super atrasada do meu horário habitual. Tomo um banho voando e pego o primeiro vestido social que achei no armário, nem tomo café, só deixo um beijo na minha irmã que também acordou tarde me olhando assustada. Sabendo que eu iria me atrasar, não daria tempo de pegar o ônibus por isso tive que chamar um carro de aplicativo; graças aos céus o trânsito em São Paulo hoje está aceitável e o carro segue sem parar em congestionamento. A cada sinal vermelho eu aproveito para realizar uma etapa da minha maquiagem para não ficar com a minha cara totalmente pálida e cheia de olheiras. Finalmente chego na empresa e me apresso correndo pela recepção sem nem me importar com as pessoas que estão chegando e olham a minha afobação.
— Anda mais rápido inferno! — Brigo enquanto aperto várias vezes o botão do elevador, mesmo sabendo que isso não vai fazê-lo descer mais rápido, mas não consigo ficar com as mãos paradas.
Quando finalmente chego ao andar da presidência me apresso em fazer o café do meu chefe, pois daí no tempo que ele leva para toma-lo eu posso me organizar, mas até a cafeteira parece mais lenta hoje. Quando finalmente o café fica pronto, encho uma xícara para o meu chefe do jeito que ele gosta e depois um para mim colocando várias colherinhas de açúcar, um bom café vai melhorar o meu dia, tenho que ter fé nisso.
Levo o café para a sala dele, mas como sempre digo a desgraça sempre vem acompanhada, depois que deixei a xícara, o jornal e o tablet posicionados perfeitamente em cima da mesa eu simplesmente bato o braço no organizador que fica em no canto derrubando no chão todas as canetas e clipes de papel.
— Ah, mas que droga! — Praticamente grito antes de começar a pegar todos os objetos espalhados pelo chão, e tem muita coisa, para que o Miguel tem tantas coisas de papelaria assim? — Tem como ficar pior?
— O que você está fazendo aí senhorita Martins? — Escuto atrás de mim e meu corpo inteiro congela, é perguntei cedo demais, meu dia acabou de ficar pior.
MIGUEL
Chego da minha corrida matinal e olho o marcador no meu relógio esportivo me sentindo satisfeito pelo resultado, corri cinco quilômetros hoje e bati a minha meta do dia, mas toda a satisfação vai embora quando abro a porta do meu apartamento e me deparo como Thiago, jogado no sofá ainda com a mesma roupa que saiu ontem, com certeza chegou enquanto eu estava praticando meus exercícios, pois quando eu saí de casa o sofá ainda estava desocupado. Olho para a situação lastimável dele e balanço a cabeça em negação, sinceramente não sei onde o Thiago vai parar levando uma vida tão desregrada.
Sigo para o meu quarto tomo um banho e depois vou para o meu closet escolher o que vestir, mas antes de colocar a roupa, pego meu celular e dou uma olhada nas mensagens e nada chama minha atenção, há alguns convites para festa e jantares, mas como vou viajar amanhã recuso a todos. Sinceramente, ando cansado dessas festas sempre com as mesmas pessoas, tantas banalidades, sempre a mesma coisa monótona, nada mais prende a minha atenção.
Chego ao escritório no horário de sempre, acho divertido como as pessoas saem do meu caminho à medida que eu passo, não sei quando me tornei um chefe temido aqui dentro, claro que sempre fui muito exigente com tudo, mas nunca comandei com mão de ferro ou injustiça para despertar medo. Meu irmão diz que é porque eu tenho zero simpatia no meu corpo e minha cara fechada espanta as pessoas, segundo ele, é por isso também que mulher nenhuma me aguenta por mais de uma noite, idiota, é incrível como irmãos mais novos têm o talento natural de ser insuportável.
Quando a porta do elevador se abre eu já me surpreendo, pois diferente da nossa rotina diária, a senhorita Olímpia não está na mesa dela como sempre esperando para me dar bom dia com sua voz doce, e a porta da minha sala está aberta, de lá escuto algumas palavras rudes ditas bem baixinho. Eu trabalho com a Olímpia há cinco anos, ela esteve comigo desde que mudamos a sede da empresa do cubículo onde começamos para esse prédio comercial, muita gente que me vê agora, acha que sou herdeiro e que o todo esse patrimônio foi me entregue de mão beijada, mas isso está totalmente equivocado, eu lutei e luto muito para chegar onde estou hoje.
Entro na minha sala e no instante que passo pela porta descubro onde está a senhorita Olímpia. A mulher em questão está no chão do meu escritório, embaixo da minha mesa, de quatro, com o traseiro virado para a porta falando vários impropérios
Essa mulher veio ao mundo para me enlouquecer.
Eu me sinto atraído por ela desde a primeira vez que a vi, diariamente uso de todo meu autocontrole para não fazer algo impróprio quanto a ela, mas dessa vez eu não consigo desviar os meus olhos é como se estivesse hipnotizado pelo balanço que seu quadril faz de um lado para outro, apertado dentro do vestido de cor vermelha, tinha que ser a cor do pecado? Ela se inclina totalmente tentando alcançar algo e sua bunda se inclina ainda mais, tenho certeza que devo estar babando que nem um adolescente quando vê a garota mais bonita do colégio.
— O que você está fazendo aí senhorita Martins? — Pergunto, para tentar reaver o mínimo de controle sobre mim mesmo, mas eu acho que não foi a melhor estratégia, pois ela se assusta e tenta se levantar rápido demais e com isso acaba acertando a cabeça no tampo de madeira da mesa. — Merda! — Praguejo.
— Ai meu deus! — ela grita ao cair sentada e colocando as mãos sobre a cabeça — Acho que estou vendo estrelas.
Eu me apresso em sua direção jogando minha pasta de qualquer jeito no chão e me ajoelho ao seu lado, retiro suas mãos de seus cabelos e substituo pelas minhas tateando para tentar descobrir se tem algo de errado e é aí que meus dedos passam sobre algo viscoso, retiro os cabelos dela do caminho da melhor maneira possível, o pânico tomando meu peito pela perspectiva dela estar ferida e então vejo um pequeno corte em seu couro cabeludo.
— Você está sangrando — murmuro ainda me sentindo mal por ela.
— Você me assustou cara, que ideia foi essa de chegar assim de fininho chefe? — Ela responde e sei que não está muito bem, pois me chamou de cara, coisa que nunca aconteceu antes no nosso convívio.
— Eu não cheguei de fininho, — me defendo — cheguei normalmente como faço todos os dias, você que estava distraída senhorita Olímpia.
Me levanto do chão do escritório, pego com delicadeza em seu braço a ajudando a ficar de pé, tenho medo que ela fique tonta e volte a cair. Pancadas na cabeça podem não ser nada tanto quando podem ser perigosas, além disso ela está sangrando, por isso a apoio passando o braço ao redor da cintura dela e a conduzo até que ela esteja sentada em uma das cadeiras que está próxima.
— Mas afinal de contas, o que você estava fazendo embaixo da minha mesa?
— Eu deixei as canetas caírem no chão quando vim deixar o café do senhor. — ela fala enquanto eu vou até o armário no canto da minha sala e tiro de lá um kit de primeiros socorros, voltando para junto dela logo em seguida. – Não precisa fazer isso senhor, eu mesma faço lá no banheiro em frente ao espelho.
— Você bateu a parte de trás da cabeça não conseguiria ver sozinha, então pode deixar que eu faço, me deixa cuidar de você — peço e ela me encara com os olhos castanhos esbugalhados em minha direção e apenas acena lentamente com a cabeça.
Abro o frasco de antisséptico depois de verificar se está na validade, pego um pedaço de algodão que está em uma embalagem transparente, com o máximo de delicadeza que eu tenho volto a tirar os fios de cabelo do local onde ela se machucou e começo a limpar, retirando os pequenos filetes de sangue, me sentindo bem menos nervoso quando percebo que há apenas um pequeno corte, nada que vá requerer cuidados médicos ou levar pontos.
— O corte não é grande, você teve sorte, poderia ter se machucado seriamente — falo e ela apenas murmura algo como “certo.”
Ficar assim tão perto da Olímpia é torturante, seus cabelos são tão macios que me fazem imaginar como seria embrenhar minhas mãos sobre eles enquanto beijo a boca dela. Seu cheiro me lembra a flores, preciso conter a vontade de colar meu nariz ao seu pescoço e inspirar profundamente seu perfume.— droga eu deveria controlar melhor meus pensamentos quanto a essa mulher ou vou acabar fazendo alguma besteira.— Me concentro em lembrar que ela é a minha funcionária e me ver apenas como o chefe carrasco que vive para dar ordens.
Termino meu trabalho limpando o ferimento em sua cabeça, mas não consigo me afastar o clima na sala parece ter mudado e ela me encara, sua boca vermelha como um morango me convida a provar teu sabor, inclino -me levemente em sua direção, percebo a respiração dela mudar assim como a minha, bom, parece que ela também sente a atração. Seria tão fácil ceder à tentação e provar se seus lábios tem o sabor que imagino...
O telefone em minha mesa toca quebrando o clima do momento e nos assustando, endireito meu corpo e passo as mãos sobre os cabelos de modo a tentar reaver meu autocontrole.
— Está tudo certo com a sua cabeça, pode voltar ao trabalho agora. — Droga, eu não queria aparecer tão autoritário, mas na tentativa de me controlar as palavras acabaram saindo ásperas demais.
Ela se levanta meio atordoada a princípio e sai da minha sala andando rapidamente, sem dizer uma só palavra e bate à porta atrás de si. Tenho vontade de chamá-la de volta, mas sei que isso não seria o certo a se fazer, melhor mesmo ela acreditar que sou um babaca, afinal de contas eu sou o chefe dela e um romance entre nós nunca daria certo.
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QUARENTENA COM MEU CHEFE - DEGUSTAÇÃO - COMPLETO NA AMAZON
RomanceOlímpia, uma mulher batalhadora, inteligente e que é secretamente apaixonada pelo seu chefe, Miguel, um homem que possui tudo e nunca lhe deu qualquer indicio de que um dia pudesse se apaixonar por ela. Olímpia e Miguel, se veem em outro país a tra...