Capítulo 4

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OLÍMPIA

— Não riam suas vacas — ralho com minha irmã e Melina, quando elas caem na gargalhada com meu relato do que aconteceu mais cedo na sala do meu chefe, o momento de maior vergonha do meu ano.

— Você ficou com a bunda para cima na cara do homem — Melina não se aguenta em meio à risada.

— Fiquei morrendo de vergonha gente, nunca agi de maneira tão antiprofissional.

— Mas você achou mesmo que ele ia te beijar? — Ártemis me pergunta antes de dar um gole em sua cerveja.

Se eu fechar os olhos ainda consigo sentir o cheiro dele tão perto de mim, a mão do Miguel alisando os meus cabelos, a voz dele falando baixinho e cheia de preocupação. Eu não sei se foi eu que me empertiguei ou ele que se inclinou em minha direção, mas por um segundo pareceu mesmo que nós dois estávamos na mesma sintonia e iriamos nos beijar.

— Achei, e o pior, é que eu queria, fiquei lá parada que nem uma mocinha tonta de romance esperando ele tomar a atitude e me beijar — respondo e dessa vez, sou eu que tomo um longo gole de cerveja, numa tentativa de aplacar os sentimentos que borbulham em meu coração. — Ele foi tão grosso como sempre me mandando voltar ao trabalho, apenas murmurei um muito obrigado por ter cuidado da minha cabeça e saí correndo.

— É uma situação fodida gostar de quem não está nem aí para a gente — Melina fala melancólica e sei que não está dizendo isso apenas pela minha situação de coração apaixonado e não correspondido.

— Mas você se casou com o homem que ama — minha irmã pontua e Melina sorri sem ânimo.

— E de que isso me adiantou? A gente vive brigando. Eu faço o que posso para manter o mínimo do diálogo com ele e sempre sou ignorada ou deixada de lado, ele trabalha o máximo de tempo que pode para evitar a minha presença, mesmo quando ele está na cama comigo, deitado ao meu lado eu me sinto solitária, só nos entendemos na hora do sexo — ela nos conta,uma lágrima solitária cai sobre a sua bochecha. — Eu não entendo o que estou fazendo de errado.

Me levanto do chão onde estava largada e me sento no sofá ao lado dela, a abracei passando o braço sobre seus ombros e deixei que ela chorasse todas as mágoas. Eu não entendo mesmo como o casamento dela está em uma crise tão ruim, sendo que eles tem apenas três anos de casados e até pouco tempo atrás pareciam tão apaixonados que dava inveja a quem olhasse de fora, o Dalton olhava para ela com tanta devoção.

— Você acha que tem outra pessoa? — minha irmã faz a pergunta, que sinceramente também estava martelando na minha cabeça há algum tempo. O questionamento faz com que Melina chore ainda mais, balançando a cabeça afirmativamente e meu coração se aperta por ela.

— Só isso explica o que vem acontecendo — fala depois de se recompor um pouco — ele mudou muito em um espaço de tempo bem pequeno depois de tudo que nós vencemos para poder ficarmos juntos. Mas quer saber? — Ela nos olha. — Se ele acha que nosso casamento não vale a pena e se ele quer jogar nossa história fora que seja! Eu estou cansada, vou pedir o divórcio.

O que? — Eu e Ártemis perguntamos juntas e chego a babar um pouco a cerveja que estava tomando.

— É isso mesmo — fala, mas não sinto convicção em sua voz — vou dar entrada nos papéis e pedir que ele saia de casa, estou cansada demais e sinto que estamos nos machucando muito tentando manter algo que morreu.

— Eu sinto muito Mel, quando a gente casa, imagina que nosso conto de fadas será para sempre, não estamos preparadas para admitir que deu errado — falo e ela apenas acena a cabeça.

— Então por hoje nós vamos beber para esquecer que somos mal amadas — Ártemis exclama, levantando o copo que já foi de requeijão, mas que agora está cheio de cerveja.

— Ei! — Reclamo e olho feio para minha irmã que apenas cai na gargalhada e abastece nossos copos com mais do líquido amarelo sagrado.

— Fala sério, ela está se divorciando, você está há anos apaixonada pelo Ceo gostosão e não tem coragem de falar nada, e eu sou tão tímida e azarada que tenho vinte e um anos e ainda sou virgem, ou seja, podemos fundar o club das mal amadas.

Melina cai na risada com o que a minha irmã fala, mas é uma risada histérica quase beirando ao desespero, já eu me afogo no meu copo de cerveja, pois mesmo não querendo admitir minha irmã tem razão e somos um trio com muito azar no amor.

— Deveríamos jogar na loteria — falo de repente e elas me olham como se eu fosse louca e acho que estou ficando mesmo — o ditado não é azar no amor e sorte no jogo? Bom acho que não tem mulheres mais azaradas que a gente no sentido romance então quem sabe a gente não fica milionária.

— Daí você pediria demissão e finalmente poderia sentar gostoso no chefinho — Melina fala e me engasgo com o que estava tomando, fazendo as outras duas mulheres caírem na risada mais uma vez.

Enquanto tento me limpar da bagunça que fiz expelindo cerveja a imagens nada inocentes de mim e o senhor Miguel se formam em minha cabeça, tenho que admitir que várias vezes cenas como essa vem no meu imaginário sem que eu possa fazer nada para impedir. É um saco gostar de alguém sabendo que não há chance alguma de ser correspondida.

Quando comecei a trabalhar na Andrade, imaginei ser só uma paixonite boba, que eu estava deslumbrada com o quando ele era bonito. Mas ao longo do tempo, à medida que ia conhecendo suas camadas fui ficando mais cativa, mais presa a rede de paixão que eu mesma criei na minha cabeça. Miguel é um homem difícil, mas sei que tem um coração de ouro, ele cuida do irmão sozinho há anos assim como eu fiz com a Ártemis, temos isso em comum. Sei que todos os meses ele doa quantias altas a orfanatos e que tem o sonho de adotar quando estiver preparado. Ele também é justo e generoso com todos os funcionários, desde o mais importante corretor até os estagiários, Miguel nos trata como iguais e não permite abusos hierárquicos dentro da empresa.

Agora me diz como não se apaixonar por um homem assim?

— Olha a cara de boba dela, aposto que está sonhando com o chefe — a voz de minha irmã me tira dos pensamentos e pisco encarando as duas que me olham divertidas.

— Amiga fala com ele, diz o que sente, não é bom você ficar guardando um sentimento tão lindo – Mel incentiva.

— Eu não posso, o senhor Miguel desencoraja totalmente as mulheres da empresa que dão em cima dele, até a Viviana que tenta na cara dura ter algo dele nunca conseguiu e olha que aquela mulher apesar de ser uma vaca é linda, o sonho de todo homem.

— Mas com você pode ser diferente — minha irmã fala com ar sonhador, mas eu tenho que manter meus dois pés no chão.

— Não sou tão especial assim irmãzinha. Tirando o incidente de hoje o Miguel nunca deu nenhum indício que sente por mim alguma coisa, eu que me iludo. E você mais que ninguém deveria me desencorajar já que se eu ficar sem emprego não vai ter ninguém para pagar sua graduação.

— Odeio o fato de você ter que cuidar de mim, odeio o fato que você tenha que pensar sempre em mim primeiro do que em si mesma, odeio o fato de não poder ajudar mais. — fala chateada.

— Não fala isso Ártemis, eu te amo e faria tudo por você.

— Só que eu também te amo e estou cansada exatamente de você fazer tudo por mim e eu não retribuir em nada, mas quando eu me formar você vai ver — Ártemis diz com confiança — tudo vai ser diferente eu prometo.

— Arte, presta atenção a sua irmã não faz nada esperando algo em troca — Melina fala, pois eu fiquei sem palavras, não sabia que ela se sentia assim e me dói pensar que a minha irmã se sente inferior. — Família é isso, amor é isso.

— Você não precisa me retribuir irmã, como a Mi disse eu faço porque te amo. Nós já tivemos um começo de vida fodido demais para cultivarmos culpa de algum tipo. Sua saúde foi frágil por tanto tempo que eu ainda acho que tenho que te proteger do mundo, mas saiba que faço com todo amor, você foi minha luz quando a escuridão da minha vida era densa demais, sem você eu teria feito uma besteira ainda na adolescência, você me fez persistir e eu já sou grata demais por isso — falo e a puxo para um abraço. – Somos uma família e família quer dizer nunca esquecer

– Ou abandonar – ela completa, lembrando nosso filme favorito.

QUARENTENA COM MEU CHEFE - DEGUSTAÇÃO - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora