We Are The Walking Dead

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Depois de tantos dias dormindo de forma esparsa pelo motivo do próprio medo, de ser ágil o suficiente para fugir caso necessário e para ser rápida o suficiente para proteger alguém de nós precisando de ajuda, era muito difícil ter um ciclo de sono completo.

Estava silencioso lá fora, tinham-se algumas poucas velas ligadas no interior da igreja o que nos permitia visualizar movimentos estranhos mas tudo estava muito calmo e quieto. Ainda assim não era o suficiente, passei boa parte da noite em cochilos.

Me distraindo ao me aproveitar dos cabelos do garoto apagado ao meu lado, enrolando meus dedos entre os mesmos ou acariciando sua nuca. O intuito era uma distração, algo que fizesse às horas correrem mais rápido, mas apenas conseguia me torturar em meus pensamentos.

Tinha ele ali naquele momento sob meu toque, com seus braços sobre minha cintura e o rosto apoiado em meu ombro. E se um dia não tivesse? E se em algum momento nada que eu fizesse o pudesse trazer de volta? E se por mais que eu chorasse e o chamasse nunca mais pudesse o ter assim novamente? O choro de Judith cortou meu raciocínio.

Fiquei parada apenas ouvindo a mesma, pelas sombras das velas sabia que Rick estava de pé com a mesma a embalando, pedindo baixo que ela se acalmasse mas depois de algum tempo isso estava se tornando um risco.

Encaro Carl que não havia sequer se mexido com o barulho, estava exausto e eu não podia esperar menos, retiro os fios de cabelo sobre o rosto do mesmo culpa minha de tanto os bagunçar e levando com cuidado.

Saio da pequena salinha sem sapatos para não fazer barulho e o Grimes mais velho vira o rosto para ver o que acontecia de imediato.

— Sempre atento. — Sussurro em tom de brincadeira.

— Achei que estivessem dormido. — Devaneia ainda balançando a bebê que murmurava mas não mais chorava.

— Carl está. — Reformulo sua constatação.

— Por que não você? — Rebate, mexo minha cabeça suspirando ao me sentar em um dos bancos de frente para a figura de Jesus sendo crucificado.

— Eu não sei. — Murmuro erguendo a cabeça para observar a imagem. — Meus pais iam na igreja todos os domingos, enquanto isso meu pai traia minha mãe no expediente de trabalho e eles acabaram se separando depois mas ele ainda foi um bom pai. Os dois se juntaram quanto tudo começou e fizeram absolutamente tudo 'pra me manter a salvo, sabe, eu acho que consigo enxergar um pouco disso em você. A determinação e a coragem de fazer tudo pelos seus filhos. Não era isso que eu ia dizer. — Sorrio levemente ao ver que me perdi. — Só queria dizer que sei que cometeram erros, pecados e o caralho, mas Deus nos abandonou? Todos nós, assim desse jeito? Se tudo está sempre nos planos dele, por que essa merda agora? Que plano fodido. — Suspiro. — Não consigo acreditar que exista alguém lá em cima mas agora, aqui, olhando 'pra Ele... O que Ele fez com a gente? Se Ele pode sentir tudo, quero que sinta o que eu sinto. Eu sinto medo, muito medo o tempo todo. Medo de ser devorada viva, de ser mordida e virar uma dessas coisas. De ter que deixar pessoas que me importo e que me ajudaram 'pra trás, de perder o... — Paro, droga eu ia mesmo assumir isso em voz alta e para o pai dele. — De perder o seu filho 'pra sempre. Não tenho ninguém mas tenho ele. — Admito.

— Sei que a sua relação com o Carl não chega perto do resto de nós mas não quero que se sinta solitária, somos uma família, protegeremos uns aos outros sempre. É isso que nos mantém vivos, é isso que nos faz ir tão longe. Não hesitaríamos em te ajudar assim como tenho certeza que não hesitaria quanto a nós.  — Se senta ao meu lado antes de continuar. — Ele é jovem e vai errar com você algumas vezes, apesar do mundo estar do jeito que está relações ainda são complicadas. Então quando ele errar, se sentir deslocada não é uma opção, você faz parte daqui com ou sem ele. Você faz parte de nós, Anna, é parte da nossa família e todos nós somos The Walking Dead. — Argumenta.
— E Deus parece ter um senso de humor muito engraçado quanto à tudo isso. — Diz e o encaro logo depois encarando a imagem assim como ele fazia.

— Quando perdemos Sophia por minha culpa, tentei a proteger e apenas a coloquei em mais perigo, ela era apenas uma criança. Fomos atrás dela, fizemos grupos de buscas, andamos pela floresta. Achamos uma igreja, era um bom lugar 'pra se esconder, eu pedi a Deus que me desse um sinal, qualquer que fosse. Carl foi baleado por um homem que caçava na floresta, era um bom homem nos levou até uma fazenda onde o dono podia nos ajudar. Quase o perdi, foi por um pouco. E nós a encontramos, Sophia estava lá, dentro de um celeiro junto com outros zumbis. Ela havia virado um deles e nós a encontramos. Podia acreditar que ele existe por nos conceder eventos que nos fizeram a achar, mas ela estava morta e ele quase levou o meu filho. É algo que Deus não faria. Não com crianças. Pedi um sinal 'pra mim não 'pro Carl. Nunca o colocaria em risco. Nunca. Tudo o que passei, tudo o que fiz só me dá um único sinal: Deus nos abandonou. — Revela. — Mas você deve saber disso, Beth deve ter contado. — Constata e sorrio levemente abaixando a cabeça.

— É, ela contou, menos a parte da igreja. — Digo.

— Vamos encontrá-la. — Fala confiante.

— Sei que vamos. — Sorrio levemente e aperto o ombro do homem antes de levantar e seguir em rumo a pequena sala que estava.

— Sobre o Eugene... — Rick começa e me viro para poder olhá-lo. — Washington, o que acha? Não parece simpática com o plano. — Completa.

— Você já sabe a resposta, acabou de dizer. Mas eu vou 'pra qualquer lugar com vocês. Atlanta, florestas, Washington até o inferno. — Afirmo determinada e o mais velho sorri, reviro os olhos. — Não foi sua culpa. — Falo de repente e recebo uma expressão confusa. — Sophia. Fez tudo o que pôde e apesar de ações terem consequências as pessoas morrem. Não tem muito o que possamos fazer a partir daí, se culpar não traz ela de volta. — Explico e deixo o mesmo sozinho sem esperar por uma resposta.

Queria que Rick se sentisse melhor, porém eu sabia que se um deles morresse por consequência de algo que eu fiz nada do que alguém me dissesse ia mudar alguma coisa. No fim eram apenas palavras vazias ditas de forma bonita.

— Amanheceu? — Carl pergunta assim que adentro o local.

— Não gatinho, pode voltar a dormir. — Falo calma e deixo a porta antes aberta agora entreaberta.

— Por que saiu? — Questiona.

— Judith. Fui ajudar o seu pai rapidinho com ela. — Essa era a intensão na verdade, a conversa foi um acaso.

— Hm. — Resmunga sem dar importância e vira para o outro lado. — Me abraça. — Pede, sorrio levemente.

Tiro a regata antes de deitar ao seu lado, passo meu braço direito pela sua cintura e apoio meu rosto em seu pescoço, sabia que não ia dormir de qualquer maneira.

— 'Tá sem roupa? — Indaga um minuto mais tarde.

— Não deixa o seu pai saber. — Sussurro o ouvindo rir. — Como descobriu? — Pergunto.

— Eu escutei você mas sei que não usa muita roupa 'pra tirar. — Argumenta e sinto seus dedos sobre minha perna.

— Só tirei a blusa garoto. — O repreendo. — Aproveita que 'tá deitado e sonha com o resto. — Falo baixo.

— 'Pra quê se tenho você aqui? — Rebate.

— Quietinho. — Sussurro. — Quero dormir. — Completo apertando meus braços ao redor do mesmo mais forte para me ajeitar.







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