"Quando o coração não bate mais dentro do peito, mas seus olhos ainda estão abertos para contemplar a beleza da escuridão. Os sonhos tornam-se realidade e você percebe que tudo que sempre precisou, era morrer."
Alice escreveu em seu diário quando cr...
Uma vez, me sentei no último degrau da escada da entrada da minha casa. Era outono, o clima agradavelmente quente e úmido agraciava a cidade. As folhas caiam dos galhos das árvores e dançavam embaladas pela brisa morna, com cheiro que anunciava um final de tarde chuvoso. Observei por longos minutos o balançar suave de galhos que em vão, pareciam agarrar suas folhas e lutar contra a brisa que as levava. Uma guerra silenciosa. Mesmo sabendo que já era perdida, pois contra o vento, não há quem ganhe, os galhos continuavam perseverantes, agarrando suas folhas. Pousei meus olhos na capa de veludo púrpura e inspirei profundamente. Usava um vestido preto e sapatos que pareciam ter sido tirados dos pés delicados de uma boneca de porcelana italiana. Meus olhos ainda estavam avermelhados pelas lágrimas que derramei durante aquela manhã. Abri a página em branco, olhando-a novamente, encarando os pontos que havia feito com a caneta das outras vezes que abri meu diário nesta mesma página. Incapaz de colocar no papel o que rasgava meu pequeno coração.
“Querido diário, hoje eu enterrei minha mãe."
Comecei... As lágrimas voltaram a acumularem em meus olhos negros como ébano e voltei a fitar as folhas. Naquele momento, me senti como a árvore, agarrando com todas as minhas forças a folha que significava a minha mãe. E a brisa, como a morte, a levou em uma última dança.
“Gostaria de viver para sempre."
Escrevi no auge da ingenuidade que apenas meus nove anos de idade me permitiriam fantasiar, pois no fundo do meu coração, não desejaria para ninguém o sentimento dilacerante de perder alguém que se ama.
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