II

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O som das batidas do coração tornou-se minha melodia favorita.
O sangue correndo pelas veias sob a pele quente e macia de um humano, lembrava-me do momento tranquilo na margem do riacho, onde a correnteza permitia a água fluir, tomando seu caminho e o sol reverberava o calor por toda minha pele.
Infelizmente, sempre que meus sentidos estão nesse estado deliciosamente entorpecente, o grito de horror é abafado pela minha mão e meus olhos penetram profundamente no olhar desesperado da minha vítima. As presas rasgam sua pele, afundando-se na carne e o líquido quente e escarlate inunda minha boca. Alimentando a besta que eu sou.
- eu sempre me confundo com as pronúncias, é "Á"lice ou "É"lice? - sentou-se à minha frente, abrindo o bloco de capa preta e folhas amareladas.
Cristhine é uma mulher na casa dos trinta anos, cabelos negros até a altura dos ombros e sorriso meigo, acompanhado de bochechas coradas com maquiagem. Talvez fosse um pré-requisito de sua profissão, usar de todas as artimanhas disponíveis para parecer o mais amável possível.
Eu a admirava, em silêncio, não sentia medo como os outros de sua espécie ao se deparar com um de nós.
Qualquer humano psicologicamente normal, evitaria trabalhar nesse lugar, rodeado por sanguessugas.
- "Á"lice - murmurei cruzando os braços em frente ao peito.
- você pode relaxar aqui Alice, só vamos conversar um pouco - a voz suave trazia um encantamento anormal, a sedução dos psicólogos de vampiros, pensei e sorri sozinha.
- gostaria de compartilhar comigo o que é tão engraçado ?- seus olhos perspicazes avaliaram-me.
- não quero conversar com você Cristhine, por favor, libere-me logo que tenho coisas a fazer - pedi copiando seu tom amável.
- às vezes não é questão de querer Alice, é de precisar - sorriu-me e eu respirei fundo.
- não precisa usar a máscara aqui, comigo Alice - Cristhine soltou a caneta e cruzou os dedos.
Suspirei e limitei-me a oferecer minha melhor cara de confusa com um sorriso débil congelado no rosto, a fim de conseguir uma forma para escapar.
- conheço o suficiente da sua espécie, para saber que não respiram e seu coração não bate- deu de ombros e seus dedos longos e finos voltaram a pegar a caneta. Anotou algo em seu bloco de notas e seus olhos encontraram os meus novamente.
- você realmente conhece a minha espécie Cristhine, ou acha que a conhece por que convive com nosso lado civilizado?- realmente quis saber.
- tire a máscara comigo Alice, você não corre perigo algum. Não precisa fingir dentro desta sala- Cristhine olhava para o bloco a sua frente, enquanto manuseava a caneta em seus dedos.
Deixando claro que não precisava olhar em meus olhos, para ler minha alma manchada.
- finja até ser... para esconder o que realmente é. - encostei-me no escoro da cadeira estofada e fitei o teto.
A falta de palavras preencheu o lugar e o silêncio era cortado apenas pelas batidas do coração da mulher a minha frente e o som de sua tranquila respiração humana.
- o que quer saber? - questionei.
- o que quiser me contar - aquele sorriso que agraciou seus lábios era de verdadeira curiosidade, como uma criança prestes a escutar, o que talvez fosse, a melhor história de toda a sua vida.
- uma vez, eu escrevi no meu diário que gostaria de viver para sempre - um sorriso sorrateiro moldou meus lábios.

- uma vez, eu escrevi no meu diário que gostaria de viver para sempre - um sorriso sorrateiro moldou meus lábios

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Nox Umbrarum - Noite das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora