Realidade

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Entro no carro e ao pegar o celular a realidade já está me chamando: Onde você está? Vai chegar que horas? Ei! Não vai responder as minhas mensagens? Tá tudo bem? O que está acontecendo? São apenas algumas das muitas mensagens que o Fernando me mandou, apenas respondo: Estou à caminho de casa, daqui uns 20 minutos chego. Respiro fundo e o motorista me pergunta se está tudo bem, respondo que sim e as lágrimas começam a jorrar pelo meu rosto.

John é um cara que tem por volta dos seus 50 anos, alto negro e britânico. Ele começa a puxar papo e diz que trabalha há anos para o Lewis. Seco as lágrimas do meu rosto com as mãos enquanto respondo "Que bacana!" e ele segue

- Tenho ele como um filho, sabe? Ele tem um coração enorme, mas às vezes fala coisas que se arrepende. – a gente se olha pelo retrovisor e ele percebe meu olhar confuso - Se ele tiver feito alguma coisa que tenha te deixado assim pode me falar que eu vou puxar a orelha dele.

- Não, John! Fique tranquilo, ele foi um gentleman. Eu que estou com a cabeça à mil, inclusive me desculpe por estar aqui chorando

- Não tem nada que se desculpar, garota. O que quer que esteja acontecendo você pode contar comigo.

- Obrigada – respondo fungando.

- Olha vou te falar uma coisa... você me promete que não vai contar para ele?

- Claro

- Como te falei trabalho há anos com ele, são raras as vezes em que ele fica empolgado para se encontrar com uma mulher. Hoje foi uma delas.

- Sério?

- Sim. Ele já me fala de você há um tempo, me diz como você é inteligente e o quanto ele te admira. Geralmente ele não faz isso, fico sabendo dos encontros dele na véspera ou no dia.

Fico pensativa por uns instantes e quando me dou conta já cheguei no meu prédio.

- John, obrigada por tudo o senhor me ajudou bastante – a verdade é que fiquei mais confusa ainda – posso te dar um abraço?

- Pode – John diz tirando o cinto de segurança e se virando pra mim – olha seja lá o que estiver te deixando angustiada, tenho certeza que você vai tomar a melhor decisão.

Agradeço mais uma vez e desço do carro. Entro no elevador, olho para o celular e são 23h44... sorrio pensando na coincidência. Entro em casa e o Fernando está de pé me esperando claramente pronto para uma briga.

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- Isso pode ficar para depois? Só queria tomar um banho agora e ir dormir.

- Não, não pode. Você parece uma adolescente irresponsável! Isso são horas de chegar em casa? – Fernando me indaga

- Nunca saio de casa, fico o tempo todo aqui cuidando das coisas e um dia que eu saia você quer me controlar? Ah me poupe! Me erra, vai!

- Seu filho estava perguntando onde você estava e eu não soube responder

- Mano, eu te disse um milhão de vezes que estava com as meninas. A gente almoçou, fomos pro shopping e depois fomos lá pro centro esquecemos da hora – apesar de me sentir mal com a mentira, achei que seria melhor do que contar a verdade – agora me deixa que eu só quero tomar um banho e ir dormir.

Dou as costas, entro no banheiro e ao tirar minha blusa ainda sinto o cheiro do Lewis nela. As lágrimas que haviam se contido por uns instantes voltam e eu choro como uma criança. Sinto um enorme peso no peito e tudo que desejava nesse momento era estar nos braços dele. Mas, a realidade é dura e cruel... meu conto de princesa durou apenas algumas horas. 

Love Sweet LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora