Era bem cedo quando Rosamaria despertou em seu apartamento na Itália. Era hoje. Hoje ela retornaria para o Brasil depois de duas temporadas jogando na liga italiana. Hoje era o dia em que ela começaria a lidar com os sentimentos que ela tentou por tantos meses enterrar.
Ela se levantou e foi em direção a cozinha preparar seu último café da manhã ali. Respirou fundo, colocou a água para ferver e o café no coador e enquanto esperava ouviu seu celular vibrando em cima da bancada da cozinha. O visor mostrava o nome de Roberta.
- Bom dia amiga, como você tá? – Roberta perguntou com a voz de quem parecia ter acordado há pouco tempo.
- Oi Ro, eu to sobrevivendo, e você? Sabe que não precisava acordar agora só pra me vigiar, né? – pude ouvir seu suspiro do outro lado da linha e suspirei de volta – Desculpa, não queria falar desse jeito, eu só não tô sabendo lidar muito bem com tudo de uma vez.
- Rosa, tá tudo bem. Eu entendo que não deve ser o melhor momento pra você, e só quero te lembrar que eu tô aqui pra você sempre. Se quiser conversar, sou toda ouvidos.
- Ai amiga, eu tô morrendo de medo de tudo. Não saber como ela vai me tratar quando estivermos no mesmo ambiente tá me matando e o pior de tudo é que a culpa é minha e ela tem toda a razão se nem quiser olhar na minha cara. – Respirei fundo mais uma vez tentando controlar minhas emoções enquanto enchia minha caneca com o café recém feito. – Ela nunca respondeu nenhuma das minhas mensagens desde que fui embora depois das olimpíadas, e se ela nunca mais quiser falar comigo e me ignorar pra sempre? Eu estraguei tudo.
- Rosa, calma, respira. Você sabe como a Carol é. Ela jamais te ignoraria. Uma coisa é certa, ela ainda tá magoada, mas ela te ama. Não acho que ela seria capaz de te excluir da vida dela dessa maneira. Você só tem que dar tempo ao tempo e viver um dia de cada vez. O que for pra ser, será.
- Obrigada. Eu acho que precisava ouvir isso. Tô completamente nervosa com tudo, a viagem, voltar pra casa, a Carol. Tá o maior caos na minha cabeça. A única coisa que tá me dando uma luz é que vou ver minha família e poder passar um pouco de tempo com eles antes de ir pra BH enfrentar meus fantasmas.
- Rosinha, vai dar tudo certo. Aproveita esses dias, relaxa, e deixa pra pensar nas coisas só quando for a hora. Não adianta se antecipar a nada. E lembra que estou a apenas uma ligação de distância a qualquer hora que precisar.
Roberta renovou com seu time na Polônia para mais uma temporada e Rosamaria estava completamente feliz por ela. Ela havia passado por poucas e boas também e estava contente de ver a amiga tão realizada.
As duas se despediram e Rosamaria logo foi checar suas malas para ver se não estava esquecendo de nada. Era sempre estressante quando tinha que se mudar e estava sendo ainda mais pelo fato de que estava retornando definitivamente para o Brasil e não queria deixar nada para trás.
Horas depois, ela já se encontrava sentada na sala de embarque do aeroporto com seus fones de ouvido e o passaporte em mãos. As lembranças do ocorrido depois das olimpíadas há alguns meses atrás de repente começaram a encher sua mente.
- Flashback –
Elas haviam chegado na final das Olimpíadas. O clima nos corredores era de festa, os outros atletas que passavam por elas as abraçavam e parabenizavam, a felicidade estava escancarada na cara de cada uma.
Rosamaria e Gattaz conversavam animadas enquanto se encaminhavam para o quarto que dividiam desde o início da competição. Gattaz entrou primeiro e se sentou na cama chamando Rosa para se sentar ao seu lado, o que a outra fez um pouco hesitante.
- Ai Maria, nem acredito que vamos disputar pelo ouro! Eu tô tão feliz que eu podia explodir agora mesmo. – A mais velha riu e a abraçou pelo pescoço, apertando forte.
- Faz isso não véia, a gente precisa de você pra ganhar, pelo amor de deus. Não vai ter um piripaque aqui que eu não sei nem o que fazer. – a mais nova brincou apertando a cintura de Gattaz de volta, mas essa percebeu que ela estava um pouco estranha.
- Tá tudo bem? Quer conversar? – Gattaz perguntou já sabendo que talvez não gostaria de saber a resposta.
- Carol... Acho que eu não consigo fazer isso – Rosamaria suspirou ao ver a confusão estampada na cara da mais velha e então fez um sinal com as mãos entre as duas – A gente, digo. Foi ótimo estar contigo e tu é maravilhosa, mas não dá. Eu não acho que isso vai chegar em algum lugar.
Gattaz ficou paralisada por alguns segundos tentando absorver as palavras da mais nova. Então balançou a cabeça tentado clarear a mente e lentamente se afastou dela se levantando da cama.
- Por quê? Eu te fiz alguma coisa? Foi algo que eu falei? Foi algo que alguém falou? A gente tava tão bem Rosa, o que te fez pensar nisso? – Carol começou a caminhar de um lado a outro do quarto despejando perguntas meio desesperadas para Rosamaria que seguia sentada e simplesmente a olhava.
- Não, não. Não foi nada disso – Rosa agora estava de pé tentando fazer Gattaz se acalmar um pouco, sem sucesso – Para, deixa eu explicar.
O ambiente estava completamente estranho, Gattaz parou, mas se afastou o máximo que pôde de Rosamaria sem deixar que ela a tocasse em nem um milímetro de sua pele. A encarou e a mais nova pode ver a dor e a confusão nos olhos dela.
- Eu vou voltar pra Itália quando a temporada de seleção acabar e isso de distância pra mim não dá certo, e pra ti também não. Lembra do que rolou contigo e com a Ari. E além do mais, tu gosta de curtir e aproveitar a vida e nunca se sabe... Eu não quero ser um impedimento no caminho das outras.
- Rosamaria, o que aconteceu com a Ariele foi diferente e você sabe, quem não aguentou a distância foi ela e não eu – Gattaz disse friamente enquanto seguia encarando a mais nova – E se isso foi sua maneira de falar que eu pego todo mundo e não quero compromisso você tá totalmente enganada, me surpreende que você, de todas as pessoas, pense isso de mim. Pelo jeito quem não quer compromisso é você. Olha só, todo mundo me falando que eu sou o golpe e no fim quem caiu no golpe fui eu.
Gattaz foi a passos rápidos até a porta enquanto a mais nova seguia chamando por seu nome e pedia para que ela não saísse assim. A porta bateu e o silêncio ensurdecedor tomou o quarto e a mente de Rosamaria.
E o silêncio seguiu por toda a noite quando Gattaz não voltou pro seu quarto para dormir aquele dia. E na manhã seguinte quando foi tomar café da manhã com Gabi e Roberta e a mais nova não a viu em lugar nenhum. Até mesmo quando elas treinavam e se preparavam para a disputa final. E não foi diferente quando Gattaz marcou o set point e elas ganharam aquele jogo e a mais velha nem ao menos lhe deu um abraço de comemoração. Por mais doloroso que fosse, Rosamaria respeitou e não cruzou a linha.
E em breve ela retornaria a casa com seu coração despedaçado e com a certeza de que havia cometido um grande erro e perdido a pessoa mais importante da sua vida.
- Flashback off –
Rosamaria se esticou na cadeira e entrou na conversa de whatsapp que ainda mantinha com a mais velha e foi passando pelas inúmeras mensagens não respondidas. No início Gattaz até visualizava as mensagens, mas depois de um tempo nem isso mais. Rosamaria acabou desistindo em um certo momento e aceitando que havia perdido.
Bloqueou o celular e tentou afastar essas lembranças quando ouviu o chamado de embarque para seu voo e decidiu que não pensaria nisso nas próximas horas. Ela já teria que lidar com muita coisa nos próximos meses já que estaria de volta ao Minas Tênis Clube para a próxima temporada. Só esperava que a situação não piorasse.
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Oi, estou postando mas não sei que fim isso vai dar... é isso.
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Medo Bobo - Rosattaz
FanfictionAs definições dos dicionários indicam que a palavra medo significa uma espécie de perturbação diante da ideia de que se está exposto a algum tipo de perigo, que pode ser real ou não. Pode-se entender ainda o medo enquanto um estado de apreensão, de...