Capítulo 4

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O som do carro soava baixo enquanto Gattaz dirigia em direção à casa da Sheilla. A mulher dirigia atentamente e cantarolava o sertanejo que tocava. O final de semana finalmente havia chegado sem nenhuma novidade e as "veteranas" do Minas combinaram de almoçar juntas na casa da morena para jogar papo fora.

Ao chegar, a mulher foi recebida por 2 pares de mãozinhas esticadas em sua direção enquanto as tutucas saltitavam ao seu redor esperando por sua atenção e um abraço apertado. Sheilla observava enquanto sorria para a imagem que via em sua frente.

- Calma que tem tia Carol pra todo mundo! Upa! – se abaixou na altura das pequenas para que as duas se atirassem nela enquanto a abraçavam forte com seus bracinhos ao redor de seu pescoço e as pegou em seu colo – Uai, vocês tão muito grandes, que isso? Estão comendo fermento, é?

- Claro que não, né tia – Liz respondeu com uma risadinha – é pão de queijo.

As adultas soltaram uma risada alta da resposta dela e Carol apertou mais Ninna que apoiou sua cabecinha em seu ombro deixando um beijo na cabeça de cada uma logo em seguida. As duas entraram no apartamento e Carol cumprimentou Pri Daroit, Macris, Thaisa e Léia que já estavam ali. Pelo visto só faltava ela chegar para o grupo estar completo.

Almoçaram em um clima descontraído e cheio de risadas, na maioria do tempo devido a comentários sem filtro de Thaisa.

- Sheilla, e esse papo de que você tá esnobando a Gabizinha? – Thaisa jogou na roda e as outras a olharam interessadas pela resposta.

- Não tô esnobando ninguém, Thaisa – a morena a encarou e respondeu rápido – só não acho que seja o momento para isso acontecer. Ela tá super bem lá na Turquia. E outra, tem as meninas também. Não acho que é isso que ela quer para a vida dela agora, nem sei se ela quer estar comigo desse jeito...

- Mas, amiga, ela só tem olhos pra você quando estão dividindo o mesmo ambiente, só falta ela estender um tapete vermelho para você passar – Daroit comentou – E ela sempre trata as meninas tão bem, não dá nem para diferenciar quem é mais criança quando elas estão juntas.

- Realmente, Sheillinha – Gattaz adicionou ao fim do comentário da outra – E só você acredita que ela não quer nada com você, porque tá mais do que na cara que ela tá super disposta a dar um jeito e tentar levar pra frente o que você tiver para oferecer.

O comentário de Gattaz veio carregado de significados. As outras se entreolharam em silêncio antes de que qualquer comentário fosse feito. Por fim, Léia saiu ao resgate.

- A humilhação da mulher boiola, falta a menina andar com um balde pendurado no pescoço para segurar a baba. Se eu fosse você eu dava uma chance pra coitada.

A conversa seguiu por esse caminho, mas Gattaz se manteve um pouco afastada sem interagir muito. Estava em sua própria cabeça. Ela jamais imaginou que seria assim, mas a presença de Rosamaria de volta na cidade e no clube bagunçaram completamente seus esquemas.

Ela podia jurar que aquilo não a afetaria. Mas afetou. E forte.

Mais tarde, ela estava na cozinha terminando de lavar as louças do almoço. A lava-louças que normalmente cumpria o serviço estava em manutenção e Sheilla disse que não era necessário, mesmo assim ela insistiu e Macris ficou para auxiliá-la enquanto as outras seguiam conversando na sala.

- Quer conversar? – a vegana perguntou, mas a mais velha deu de ombros – Conversei com a Rosa essa semana e ela tá mal. E eu tenho certeza de que não deve estar sendo fácil pra você também.

Carol respirou fundo, fechou a torneira e se virou para a amiga apoiando o quadril na pia e cruzando os braços no peito.

- Ai vegana, eu achei que eu tinha superado o que quer que tenha acontecido entre a gente. Mas aí ela chegou sem aviso e eu nem sei mais o que tá passando na minha cabeça. Por que ela fez isso? Voltar assim? – Carol olhou para o teto com a testa franzida tentando organizar seus pensamentos – Eu sinto falta da amizade que tínhamos. Nunca devíamos ter cruzado essa linha. Ela me machucou muito, Macris.

- Eu sei, amiga, eu sei – Macris pensou bem no que falaria a seguir, ver as amigas tristes a deixava triste também e ela só queria ajudar sem ser invasiva – Você acha que algum dia poderiam voltar ao mínimo de normalidade entre vocês?

Carol pensou um pouco. Abriu a boca algumas vezes, mas desistiu. Por fim falou o que sentia a respeito.

- E não sei se sou capaz de deixar ela entrar outra vez na minha vida, da forma que seja, sabendo do estrago que ela pode causar se decidir sair de novo. Eu não sei se aguentaria.

- E se ela não quiser sair? E se ela quiser ficar? – Macris perguntou em tom leve e sereno, pegando uma das mãos de Carol.

- Não sei amiga, não sei.

Nesse momento, Thaisa entrou na cozinha e interrompeu qualquer que fosse a continuação da conversa.

- Ô gente, que enrolação pra lavar uma louça ein, não sabe como funciona a pia Gattaz? – a loira cutucou enquanto mexia na geladeira de Sheilla buscando algo interessante para beber ali, quando achou o que queria se virou para Macris – A bicha é tão acostumada com a lava-louça, que vê uma torneira, bucha e detergente e trava. Força amiga.

A vegana gargalhou do comentário e Gattaz resmungou um xingamento para Thaisa depois que a loira deu um tapinha em seu ombro e saiu rindo.

Por fim, estavam todas de volta a sala. Já era fim de tarde e elas já haviam bebido um par de cervejas cada. Carol estava no chão brincando com Liz e Ninna e as três se divertiam enquanto ela fazia cosquinhas na barriga das duas. Daroit gravou um vídeo do momento em que as três gargalhavam com força da brincadeira e compartilhou com a mais velha.

Gattaz postou o vídeo em seu story do Instagram marcando as outras mulheres e bloqueou o celular. Antes mesmo de repousá-lo na mesinha de centro a tela se acendeu outra vez mostrando uma notificação do aplicativo. Quando abriu, ficou alguns segundos observando o nome da pessoa que havia deixado o like na postagem.

Rosamaria Montibeller.

Balançou a cabeça e deixou o celular de lado. Não daria tanta importância, não era nada demais e ela não queria nada com isso. Continuou brincando com as meninas até que as amigas decidiram que já era momento de ir pra casa e por fim se despediram, deixando o apartamento de Sheilla.

Carol, que optou por beber cerveja sem álcool, se encarregou de deixar as mulheres que não moravam no prédio em suas devidas casas. O ambiente no carro era descontraído e leve. Macris e Thaisa cutucavam a mais velha por seu "gosto musical pré-histórico", como havia mencionado a loira, e Carol fingia estar incomodada com os comentários, mas tinha um sorriso estampado em seu rosto. Por mais que fossem meio sem noção às vezes, ela amava as amigas.

Quando ficou sozinha no carro, os pensamentos se fizeram presentes outra vez. A conversa com Macris lhe causou uma inquietação. O que aconteceria se ela deixasse Rosamaria se aproximar outra vez? Seria capaz de manter uma amizade com a mais nova? Seria capaz de ao menos interagir normalmente com ela algum dia? Ela não tinha uma resposta pra essas perguntas. Ela não tinha resposta pra nada, na verdade. Só dúvidas e mais dúvidas.

Respirou fundo, aumentou o som do carro e se direcionou ao caminho de sua casa. Estava exausta e precisava descansar.

Não era momento de dar palco para esses pensamentos. Lidaria com isso depois.


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Olha quem voltou? Isso mesmo, e com mais um capítulo novinho. Obrigada pelo retorno nos votos e comentários, a interação de vocês é instigante!

Mas e aí, será que vem aí interação Rosattaz em breve? Atenta 👀

É isso.

Aproveitem!

Medo Bobo - RosattazOnde histórias criam vida. Descubra agora