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Eu juro, aquele resto de ano,  foi tão tranquilo, que eu me esqueci de Hyunjin e toda merda que passei com ele no começo desse ano.

Eu mantive o quadro no meu quarto, porque acabei achando bonito, e sinceramente aquilo era um simbolo do momento em que eu tomei coragem pra enfrentar ele sem recuar.

Nas minhas férias eu acabei indo pra Coreia, pois meu pai ficou de cama, e faleceu.
Ele contraiu uma gripe feia, e meu pai não era do tipo que tomava vacina quando devia tomar.

Mas a viagem não foi feita de coisas ruins.
No leito dele, ele me pediu desculpas por tudo, ele chorou de verdade, pela primeira vez.

Ele apertou minha mão, e me pediu desculpa pela brutalidade, pela perseguição sem sentido, pelas coisas ruins que me falou, e pediu desculpas por não me proteger o suficiente.

Ele ficou mais um dia vivo ainda depois das desculpas, mas na tarde seguinte ele veio a óbito.

O quartel me ajudou com os preparativos do enterro, e ele foi velado e enterrado já no outro dia.

Eu chorei, óbvio, mas foi um momento de alegria tambem, porque pela primeira vez na vida, eu senti que meu pai me amava e que ele sentiu orgulho de mim por ter seguido mesmo sem ele ao meu lado. Ele reconheceu que o filho dele não era um fraco. 

Eu me despedi dele, e depois de lá, eu preferi ir pra casa e ficar sozinho algum tempo.

Me livrei de algumas coisa na mesma semana, pois muita coisa ali me lembrava ele e a mamãe.

Deixei apenas fotos e o uniforme dele com os diplomas de honra e medalhas, mas de resto guardei ou dei tudo ao quartel pra doação.

O testamento e coisas assim foi fácil também, levando em conta que eu era o único filho dele.

Aquele momento foi difícil, mas minha tristeza foi amparada pelos meus amigos que vieram ao meu encontro.
Foi um momento especial pra mim.

E mais tarde naquele final de semana,  eu tive outra surpresa.

A campainha soou lá por umas 16 horas, e eu desci, abrindo a porta.
Vi quem eu menos esperava.

Depois de um ano praticamente, Hyunjin apareceu na minha frente, com flores na mão.

" meus pêsames."

Ele esticou os braços, me dando as flores, mas eu fechei a porta na cara dele.
Foi quando ele tocou a campainha de novo, eu ignorei, sentindo lágrimas no canto dos meus olhos. 

Ele tocou de novo e de novo, até que eu abri com raiva.

- Sabe que quando você toca campainha... E a pessoa não abre a porta... É porque ela não quer falar com você. Vai embora, Hyunjin.  - dei uma pausa, sentindo os soluços de choro, e então limpei os olhos. -   Eu estou num momento muito ruim, não tenho tempo pra ficar brincando de gato e rato com você. 

"eu sei... Eu só vim dar meus pêsames. Eu soube que o sargento Lee faleceu e que você estava aqui... A última pessoa que você gostaria de ver sou eu... Eu sei... Mas eu não posso ignorar a sua dor, e nem a sua presença aqui."

Eu olhei pra ele, e então pras flores, pegando as mesmas.
Dei espaço pra ele entrar, e ele entrou, tirando os sapatos.

Eu não sabia direito o que estava fazendo. Provavelmente o luto tinha me enlouquecido, mas eu não queria ficar sozinho naquela casa agora.

Ele se sentou, e eu me sentei no sofá ao lado dele,  deixando as flores em meu colo, junto das minhas mãos, vendo ele segurar uma delas.

" eu estou com você... Pode me mandar embora quando quiser, mas por hoje, eu gostaria que você não me visse como seu inimigo e sim um suporte."

-Você é inacreditável... - eu ri soprado fungando.

"É sério, Yongbok... Ver você assim parte meu coração. Você me acha doente, maluco, mas você não sabe como eu fico com o coração pesado sabendo que você está triste... Eu não sou aquele cara de três anos atrás. Eu não tenho interesse em te ver pra baixo. Eu gosto de você, e já deixei isso bem claro. E mesmo que você peça, você sabe que eu nunca vou te deixar em paz. Eu não vou embora. "

-eu sei... Eu sei... Não precisamos fazer o dia de hoje ser sobre mim... Meu pai acabou de morrer... Eu não quero falar sobre sua obsessão ou sobre nosso passado.  Podemos ficar em silêncio apenas?

" claro."

Ele então se aproximou, e me abraçou. Eu confesso que a ideia dele ali me deixava desconfortável, mas eu precisava de alguém comigo agora... Mesmo que fosse só pra ficar em silêncio por horas, num abraço quentinho e aconchegante. 


Aquilo tudo era tão ridículo, mas eu já estava no inferno... Abraçar o diabo era o de menos agora.

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STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora