III

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O teatro não estava muito cheio.

Mas para uma produção local, havia uma quantidade boa de gente. Dream e Hob optaram pelos lugares do fundo, Hob comprou uma pipoca para comerem, que ele faria Dream provar em alguns segundos.

"Juro! Fiquei chocado quando inventaram esse tipo, lá no século XIX. É um lanchinho bom, e surpreendentemente saudável se você estourar a sua própria pipoca e não inundar de manteiga e sal."

Ele enfia algumas pipocas na boca, então oferece para seu amigo. Que pega uma única pipoca entre dois dedos. Observando, relutantemente antes de colocar na boca, mastigando devagar. Dream suspira, parecendo satisfeito.

"Hm... É bom, sim."

"Falei que era. Quando venho ver qualquer peça que estão interpretando aqui eu acabo comendo toda a pipoca antes da peça estar pela metade." Diz Hob, antes de enfiar mais pipoca na boca.

Dream expira, os cantos de sua boca se curvando para cima minimamente. Ele pega mais algumas pipocas e os-come, uma por uma.

"O que esta peça será sobre, então?"

Hob engole um pouco da pipoca, respondendo à pergunta de Dream com a boca ainda cheia.

"Mm- é sobre, ahn- sobre algumas peças gregas. Não especificaram quais, mas tenho quase certeza que vão fazer mais do que uma hoje, quase certeza."

Dream congela. Ele encara Hob com olhos arregalados antes de virar para o palco. Encarando novamente.

"Está.. tudo bem?" Pergunta Hob, percebendo o... choque? Medo? De seu amigo.

Dream olha para Hob, abrindo sua boca e nada sai. Ele o-fecha e engole, um gesto bem humano, Hob nota, antes de responder.

"Sim. Estou. Só não estava... Esperando a temática grega."

Isso era uma mentira descarada.

Hob não era exatamente o mais versado em Literatura grega e nem mitologia, não há um motivo específico, ele só nunca estudou sobre a matéria em detalhes durante seus 600 anos de vida.
Ele sabia, portanto, que seu amigo foi uma vez considerado Morpheu, o Deus Grego dos Sonhos. Mas não conseguia lembrar se algum conto feito peça de teatro incluía ele. Era por isso que Dream estava nervoso? Hob não sabia, o que ele sabia, era que ele não queria que Dream ficasse ofendido e que não saísse bravo novamente.

"Não precisamos ficar aqui para assistir qualquer uma das peças se não quiser, Dream."

"Não. Está tudo bem. Aceitei seu convite, ficarei aqui."

Ele encara o palco, sério como sempre para os de fora. Mas para Hob, ele consegue enxergar o medo de seu amigo, cobrindo seus ombros como uma coberta. Permanecendo em seu cenho minimamente franzido, invisível para quem não o-conhece. Mas Hob percebe. Hob conhece ele.
E ele fica preocupado.
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As luzes diminuem enquanto o palco brilha sob os holofotes, a primeira peça inicia.
Tragédias e épicos, contos Dream reconhece, mas se lembra de ter acontecido de forma ligeiramente diferente.
Os atores são muito bons. Dream consegue enxergar futuros brilhantes na arte de contar histórias para muitos deles. Ele assiste, satisfeito, porém não esquecendo qual conto poderá ser contado em seguida. Toda vez que uma peça termina e outro começa, Morpheu não pode deixar de congelar. Uma respiração que ele não precisa ficando preso em sua garganta. Um nó emperrado nele.
E os contos vêm e se vão.
Prometeu Acorrentado;
Antígona;
A Caixa de Pandora;
As três irmãs do Destino.

Todos resumidos para serem versões mais curtas e menos detalhadas delas mesmas. Morpheu reconhece os contos.  Ele viveu enquanto aconteceram, quando era chamado por Oneiros pelos Gregos e era considerado um Deus.

A Night at The Opera (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora