Um presente especial

232 25 1
                                    

Parte 02

Yaman gritou até sentir sua voz esvair de seu ser, assim como sua alma no dia que Seher morreu, no alto daquele monte, sozinho com sua dor ele soltava sua escuridão sem medo, pintava o céu de negro, deixava seus demônios sair, porque nem ele se suportava mais, e agora aquela mulher...não sabia o que pensar, nem se estava a gozar de seu pleno raciocínio lógico.

Mal percebeu como o tempo passou rápido, estava anoitecendo, e ele oscilava entre a razão e a insanidade, voltou pra casa devagar, seu porsche não voava, andava em lentas marchas, quem sabe Yaman queria atrasar, quem sabe queria negar, quem sabe queria alucinar.

A casa estava em silêncio, percebeu que Yusuf não havia chegado da viajem da escola, quando não viu por de baixo da porta de seu quarto a luz acesa, e nem escutou a costumeira música gótica alta, parou mais vez de frente a porta, ensaiou mais uma vez girar a maçaneta, treinou de novo mentalmente o que diria, e seria " Me perdoe por ter falhado outra vez"
Mais se Yusuf estivesse ele iria recuar como sempre fazia, foi direto para o seu santuário, mais havia algo de errado, a porta estava aberta, podia sentir o cheiro fresco da brisa da noite.
Entrou gritando furioso.

- Não não, quem ousa tirar o cheiro dela daqui, mil vezes nãããooo....

Logo ao olhar para o lado, ela parecia um bichinho acuado, foi deslizando descendo pela parede, Sila sentou-se abraçando seus joelhos, escondeu a cabeça entre as pernas, ia e vinha com o corpo naquele movimento pra frente e pra trás, naquele lupping sem cessar.

- O que pensa que está fazendo? Quem lhe deu ordem para entrar aqui, o que você fez, o que fez?

Yaman correu fechar as janelas antes que o cheiro de Seher escapasse, antes que qualquer resquício dela morresse de novo.
Gritava desesperado, tanto, que não se dava conta do estado de Sila, não via a crise que ela enfrentava em sua frente, os gritos de Yaman eram amplificados aos ouvidos dela, os zumbidos eram cortantes, dilacerantes, ela só queria que o barulho parasse, Sila fez o que sempre fazia quando estava em crises, e situações conflitantes, cantarolou baixando entre seus próprios gemidos assustados.

- Voa joaninha, Voa joaninha, minha garota da sorte, eu também sou forte...voa joaninha, me leva na sua asinha, minha garota da sorte, eu também sou forte...voa joaninha...

Aquele canto como encanto fez Yaman cessar, era como hipnose, uma metamorfose, ele compadeceu-se olhando a frágil e confusa figura a sua frente, sem controlar seus próprios movimentos abaixou-se em frente a Sila, sua voz saiu tão suave que ele mesmo se surpreendeu.

- Eu não vou machucar você.

Sila sentiu sua presença imponente, mais tão diferente do que imaginava-se, não recuou, ergueu o rosto devagarinho e ainda cantarolava baixinho, não o olhava nos olhos, mais podia sentir os olhos dele sobre ela.

- Você...você é exatamente igual a ela, como isso é possível?

Era uma pergunta que Yaman não esperava resposta, e de fato não teve, queria mais que tudo que Sila o olhasse nos olhos, como queria ver-se refletido de novo dentro daquele oceano verde, mesmo sem ela o olhando Yaman sábia que ela prestava atenção a cada sussurro dele.
Estava impressionado, encantado, desmoronava ao mesmo tempo que sentia um pequeno pedaço se colar, era um pedaço, um fiapo de seu coração que achou de volta a direção quando pode ver Seher renascida em Sila.

- É surreal, você existe?

Pra Sila era uma pergunta tão óbvia, é claro que se ela estava em sua frente, ela existia oras essa.

- Sim, eu existo, você não está me vendo?

Yaman pareceu despertar de um transe, brigava agora com sua mente doente, seu coração descontente parecia estar diferente, seria aquilo um resquício de felicidade aparecendo, sentia o peito aquecendo, se assustou, levantou-se e virou-se de costas, mais ainda mantendo a voz num tom baixo a expulsou de seu santuário.

Um presente especial Onde histórias criam vida. Descubra agora