Wei Wuxian nunca acreditou no inferno.
Muito menos no paraíso.
Ele sempre se considerou uma pessoa cética demais. Depois de dores profundas, vivências azedas e momentos ruins...encontrou no ceticismo um conforto muito maior do que poderia em qualquer outra religião. No fundo, apenas sempre sentiu que o momento principal era o presente para ele realizar tudo que desejava.
Apesar de tudo, caso existisse mesmo um inferno, era o mundo que os seres humanos viviam.
O mundo dos homens era o verdadeiro inferno.
Wei Wuxian viu o inferno com toda sua brasa quando seus pais morreram, enxergou totalmente vermelho quando foi ferido e machucado quando morou nas ruas, experienciou uma ardência pior que o fogo quando foi rejeitado e maltratado nos lares adotivos que viveu.
O paraíso sempre esteve muito longe.
E era difícil passar pelo inferno e continuar bondoso.
Porém, se o paraíso existia, ele podia personificá-lo na visão que estava tendo nesse momento quando observava Lan WangJi cantarolar uma canção para A-Yuan enquanto a criança começava a cochilar nos seus ombros. O bebê parecia fazer um esforço vez ou outra para se manter acordado, mas a voz angelical do médico tornava isso impossível.
Wei Wuxian sorriu, porque sentia-se no céu, porque aquilo era muito mais do que ele achava merecer.
Chegou mais perto e abraçou Lan WangJi enquanto A-Yuan ainda estava nos braços alheios, permitindo-se apreciar a fragrância natural do médico e observar o filho deles ressonar tranquilo.
"Ele dormiu?" - Lan WangJi sussurrou a pergunta, visto que do ângulo que estava não conseguia ver se a criança tinha dormido.
"Sim." - Wei Wuxian respondeu baixo com um sorriso calmo. - "Não tinha como não dormir com um anjo cantando para ele." - beijou a bochecha de Lan WangJi de maneira divertida quando notou as orelhas alheias coradas.
Seu sorriso ampliou mais ainda ao notar como ele ficou mais envergonhado com seu ato posterior. Lan WangJi estava muito fácil de ler nos últimos tempos com a convivência diária que tinham. Wei Wuxian podia ler cada detalhe seu como um poema escrito à mão.
E o tatuador se apaixonava mais ainda a cada verso lido.
"Vou colocá-lo no berço." - foi o que Lan WangJi disse na tentativa de despistar as provocações de Wei Wuxian.
O tatuador sufocou a risada alta para não acordar A-Yuan e se encaminhou até sua cozinha para esperar Lan WangJi.
O médico chegou na sala poucos segundos depois. Wei Wuxian o encarou de maneira provocativa, um sorriso dançava em seus lábios cheios.
"Pare de me olhar assim." - o médico disse com vergonha, prontamente se apressando para ir lavar umas louças que tinha na pia e fugir do olhar intimidador de Wei Wuxian.
O tatuador gargalhou e chegou mais perto dele, colocando as mãos em sua cintura e impedindo que o médico continuasse o que planejava fazer. Sentiu o corpo de Lan WangJi tensionar.
"Assim como?" - perguntou cinicamente. - "Talvez da mesma forma que você me olha agora?"
O médico suspirou, Wei Wuxian notou o fogo no olhar dourado e as tentativas falhas de Lan WangJi em dissipar as faíscas. - "Preciso lavar a louça." - tentou dizer ainda.
Wei Wuxian resmungou. - "Deixe essa louça idiota!" - pegou no queixo de Lan WangJi para voltar o olhar do médico em sua direção. Evitou suspirar como em todas as vezes que o encarava, que notava aquela intensidade em suas expressões, os detalhes perfeitos do seu rosto, os fios negros que sempre decaíam em seu semblante inexpressivo formando uma coletânea de mistérios e aquela boca magnífica que clamava pelo contato da sua. - "Porque eu preciso de você." - foi tudo que disse antes de selar seus lábios em um beijo necessitado.
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UM BEBÊ EM MINHA PORTA | wangxian
Fiksi PenggemarWei Wuxian e Lan WangJi são vizinhos há cinco anos. Os dois homens adultos sempre ressaltaram com toda a convicção o quão péssima era a experiência de residirem um em frente ao outro por suas personalidades serem totalmente incompatíveis e isso ger...